Esporte, lucro e sociedade
O esporte ainda mantém seu papel de destaque na sociedade, de maneira que, de alguma forma as pessoas o consomem, seja através da prática ou como meras espectadoras. Mais do que isso, o fenômeno esportivo é, sem dúvidas, algo instigante, atraente e encantador, não há como resistir a ele.
Ao longo dos anos o esporte foi passando por modificações profundas. Não falo de regras específicas de cada modalidade, mas me refiro a como passamos a encará-lo, o que me faz refletir e cair numa cilada/dúvida: O esporte sofreu uma mutação ou nós passamos a vê-lo com os olhos do sistema? Possivelmente alguém já tenha feito esse questionamento num outro momento, mas enxergo como de fundamental importância compreender nas entrelinhas que aí estão. Por que observamos cada vez mais casos de dopings em competições esportivas? Por que vemos a televisão ditar horários de jogos como se o esporte não existisse antes da mesma? E por último, qual a razão de salários astronômicos para alguns atletas, principalmente no futebol, enquanto outros esportes quase não recebem investimentos e os demais atletas mal conseguem manter-se dignamente? Estas são questões pertinentes e que intrigam os que se põem a refletir sobre o fenômeno esportivo e suas disparidades obscuras.
O ponto fulcral da discussão é que o esporte se tornou mais um “braço” do sistema capitalista. Precisamos recordar uma característica importante deste fenômeno que é a “capacidade de atenuar tensões sociais”, e isto precede o capitalismo. Ludibriar o povo lhe dando divertimento (esporte) sempre foi uma arte muito bem praticada pelos maiores governos corruptos da história mundial, Roma é exemplo clássico disso com sua política de “Pão e Circo”. Esta prática perdura até os dias atuais pelo mundo, e no Brasil na forma de programas sociais que têm no esporte sua essência. Quase sempre são programas carentes de estruturas adequadas para atender as crianças e jovens a quem foram direcionados, por muitas vezes escândalos de corrupção surgem advindos de desvios de recursos financeiros que deveriam ser destinados aos programas quem têm como finalidade formar cidadãos através do esporte.
Outro fato importante é que a lógica do esporte se tornou de mercado, ou seja, este “instrumento” do capital é quem rege e organiza todas as relações na esfera esportiva. A necessidade de ser o melhor, o mais rápido e em troca ter um patrocínio milionário para custear a vida de um atleta de alto rendimento faz com que cresça cada vez mais o número de casos de doping. O esporte capitalista está intimamente ligado com a capacidade de gerar lucro. A televisão investe milhões para assegurar a transmissão de competições e isto lhe proporciona a condição de ditar os horários, por exemplo, em jogos de futebol, adequando às partidas a sua programação normal, demonstrando assim o seu poderio econômico e qual o real interesse desse tipo de esporte.
É no mínimo ingênuo de nossa parte acreditar que um jogador de futebol irá receber o mesmo salário que um ginasta, ao menos dentro desta lógica descrita anteriormente. As cifras movimentadas pelo futebol são bem maiores, em todos os sentidos, do que as que a ginástica movimenta, por exemplo. E isso esclarece muitas questões e explica aos que se indignam com o pouco investimento em outras modalidades esportivas. Os altos salários de alguns jogadores de futebol só reafirmam a desigualdade social provocada pela lógica do sistema capitalista e ele se mantém sobre isto, sobre a disparidade entre todas as relações existentes, seja de trabalho ou não.
A problemática não gira em torno da essência imóvel e imutável do esporte, ele não é “mau” como alguns autores o pintam. Assim como o homem, o esporte se modifica ou o modificamos de acordo com o modo de produção vigente. O homem socialista será bem diferente do homem do sistema capitalista, os interesses são distintos, assim também é o esporte.