Sobre Jabulanis e Vuvuzelas

A Copa do Mundo chega ao fim. O povo sul-africano não mais esquecerá que por alguns dias estiveram no centro do mundo. A curta e bela cerimônia de encerramento realizada ontem antes da grande final, e que teve como o ápice a presença de Nelson Mandela, mostrou que os africanos sabem festejar como ninguém. A Copa na África foi vista por muitas pessoas através das lentes do preconceito, mas no fim, todos se renderam ao encanto e a magia de um povo que não será apenas lembrado pelo apartheid. Agora sempre que falarem dos sul-africanos, as vuvuzelas irão tocar nas paredes da memória de todos aqueles que acompanharam o Mundial de 2010.

O futebol não foi lá grande coisa. Os dois finalistas chegaram com todo o mérito e a Espanha foi superior e mereceu o título inédito de campeã do mundo. Mesmo assim, apresentou um futebol burocrático, marca registrada nessa Copa. Tirando as três goleadas da Alemanha e os sete gols que Portugal meteu na Coréia do Norte, os demais jogos tiveram muito estudo, muita marcação, muita organização tática, deixando de lado a busca pelo gol. Faltou mais agressividade. Talvez por isso que várias figuras extra campo tenham roubado a cena: A modelo paraguaia Larissa Riquelme, o pé frio Mick Jagger, e o polvo vidente, que acertou todos os resultados dos jogos da Alemanha e de quebra previram que os espanhóis ergueriam a taça.

Das estrelas que pisaram no gramado, houve uma decepção intergalática. O rechonchudo Dom Diego, do banco argentino chamou mais a atenção das câmeras do que o atual melhor jogador do mundo eleito pela FIFA, Lionel Messi. Atletas como ele, Kaká e Cristiano Ronaldo ficaram devendo. Dentre eles, apenas o português marcou gol. E ainda contou com a sorte para guardar a bola no fundo das redes.

Por falar em bola, em campo não deu outra: Jabulani aprontou um bocado. Ela foi a inimiga mortal dos goleiros e ainda por cima virou bode expiatório dos atacantes pernas-de-pau. Em qualquer pelada no mundo, se a bola fura e é trocada por outra diferente, os peladeiros tem no máximo cinco minutos para se adaptarem. Os jogadores de seleção tiveram dias, e ainda assim reclamaram. Parece até que esquecem que ganham milhões para jogarem futebol. A bola é ruim? Então vai jogar com aquela pesada bola de couro que Pelé, Garrincha e tantos outros jogaram e foram geniais. Vai ver que foi por tanta reclamação que a Jabulani na partida final se disfarçou trocando as cores e até o nome (A bola da Final foi batizada de Jo’bulani).

E a zebra? Essa se sentiu a vontade em solo africano. Estava em casa. E como aprontou essa zebra. Até a campeã Espanha sofreu com ela no jogo de estreia, perdendo de 1x0 para a Suíça. Já a Itália, que defendia o título, foi eliminada ainda na primeira fase, junto com a França, a outra finalista da Copa anterior. Foi mesmo a Copa das surpresas. Alguém apostaria que o Uruguai chegaria às semi-finais? Para mim a surpresa maior foi a equipe alemã. Repleta de garotos, jogando um futebol pra frente, ofensivo. Era bonito de se ver. Enquanto a nossa seleção tinha uns volantes truculentos que não tem um passe de qualidade, a Alemanha tinha o Schw...Schwai...enfim, a Alemanha tinha o camisa 7 que jogou muito. Foi sem dúvida um dos melhores desse Mundial.

A primeira Copa realizada no continente africano vai deixar saudades. Agora é esperar mais quatro anos para ver o que nos espera a Copa no Brasil. Que a nossa festa seja bonita dentro e fora de campo. E que toda receita gerada se transforme em benefício para toda a população, e não apenas as elites. Isso é muito mais importante que o hexacampeonato. Por isso, não fiquem cobrando só o técnico e os jogadores. A cobrança maior deve ser para os políticos. Não somos meros torcedores. Somos cidadãos, pagamos impostos e temos o direito de exigir um país melhor ao poder público.

T S Oliveira
Enviado por T S Oliveira em 12/07/2010
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