Trabalhos Acadêmicos: uma crítica
Trabalhos Acadêmicos: uma crítica
(Tânia Maria da Conceição Meneses Silva)
A intenção deste texto é a de demonstrar o meu estranhamento, e até a vergonha, diante de uma situação. E qual seria essa situação? Tentarei responder a partir do próximo parágrafo.
Quando recebi o meu grau de licenciatura plena em Letras Português-Inglês, no ano de 1972, pela UFS, eu e meus colegas tivemos que trabalhar em uma tarefa que recebia o nome de A GRANDE PESQUISA. O nome já amedrontava, pensávamos em tantas loucuras, até em que teríamos de viajar para a Europa em busca de conhecimento linguístico com o objetivo de elaborar a tal pesquisa. Escolheríamos uma ou outra língua, isto é, Português ou Inglês. No mínimo, deveríamos visitar Portugal, de onde recebemos o que hoje chamamos de Português brasileiro. Ainda visitaríamos a Inglaterra em busca de melhor compreender o King ’s English, ou ainda, o inglês britânico. Além do que, outra viagem seria para os EUA, com o objetivo de experimentar o inglês dos norte-americanos!
Bom, foi apenas um pensamento de jovens, ainda bem, não seríamos forçados a viajar. Falta dizer que a pesquisa antiga tinha suas exigências: escolher um tema, consultar os livros da biblioteca, as enciclopédias, documentos antigos. Não contávamos ainda com os computadores, a escrita deveria (e assim foi) ser escrita do próprio punho, em papel pautado!... Imaginem! E com várias folhas escritas da primeira à última linha. Parecia algo impossível de se alcançar, o professor ficava de olho e não se enganava com qualquer coisinha. Ah, nem se falava em Normas da ABNT. Entretanto, se alguém duvidar, pode fazer a pesquisa nos arquivos da UFS (Universidade Federal de Sergipe) e constatará a veracidade destas minhas palavras. O Professor João Costa, de saudosíssima memória, tinha um olho azul que avistaria uma vírgula faltando ainda que o texto estivesse no Céu. Além de muito exigente, era crítico contundente.
Continuando a falar sobre pesquisas, atravessei o tempo e vi surgirem transformações. Passamos dos textos escritos à mão para as máquinas de datilografia, desde as mais antigas, como a Remington, até as modernas e elétricas ainda em fabricação e uso. Logo se deu o advento das modernas tecnologias e seus computadores de última geração. Até as crianças sabem lidar com os computadores, como se já nascessem sabendo, diferente de quando sofríamos para aprender a datilografar. Depois do datilógrafo chegou o tempo do digitador e de tantos outros profissionais capazes em tecnologias digitais.
Ok. Alcanço o ponto do texto onde quero frisar a questão dos trabalhos acadêmicos, esses que já fizeram muitos universitários sofrer, perder noite, entrar em crise de pânico e outros problemas que somente os psicólogos saberão identificar, diagnosticar.
A palavra Monografia estava e continua estando na boca de universitários e de tantos outros profissionais. Uma palavra que mete medo, arrepia e deixa muita gente passando mal, ou até desistem de graduações. E por que a Monografia causa tanto transtorno? Arrisco dizer que o primeiro fator é o verbo escrever, quem não escreve não elabora uma Monografia. E por que não? Porque, além de o sujeito ter que saber ler e escrever, terá que gostar dessas duas coisas tão importantes em nossas vidas. Daí em diante, o estudante tem que saber narrar, descrever, dissertar, argumentar, provar e tirar suas conclusões sobre um tema escolhido. Aí é que vem o Apocalipse.
Ah, inclua-se que, não é aceita uma Monografia, seja em qual for o nível, da Graduação até o Pós-doutorado, sem que seja escrita em linguagem científica, digitada no computador e rigorosamente dentro das Normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas), algo importante e necessário para uma boa apresentação física do trabalho de pesquisa. Tudo é cobrado ao autor de TCCs de Graduação, Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Ainda se sabe e se espera que esses laureados produtores de pesquisas científicas estejam com a “obrigação” intelectual de continuar produzindo conhecimento pelo resto de suas vidas.
Até um dia desses, as exigências eram as mais rigorosas para a elaboração dos assim chamados Trabalhos Acadêmicos, logo no Brasil, país com nível de leitura e de escrita questionável, apesar de que, nesse setor, há milhares e milhares de publicações de livros. É, parece que o Brasil é um campeão de escritores. Na verdade, as editoras não querem saber da qualidade intelectual de seu livro, querem o capital, o dinheiro que nisto se investe.
E ainda sobre os Trabalhos Acadêmicos, o que temos de novo? Temos a Internet nadando nas volumosas águas das equipes especializadas (umas) em produzir, vender, enfim, comercializar trabalhos de pesquisa prontos. Daqui a pouco teremos uma loja 1.99 desses estudos.
Lecionei a disciplina Metodologia das Ciências e sei que se trata de algo complexo, que exige leitura, reflexão e análise. Disponho de artigos científicos, modéstia à parte, citados pelo mundo. Eu os produzo porque gosto, amo. A esta altura não terei que buscar um orientador. Exerci a função de Orientadora e fiz parte de Banca Examinadora. Venho trabalhando particularmente como revisora de todos os tipos de trabalhos acadêmicos, e o que vejo agora? A Internet inundada de marketing de equipes especializadas oferecendo os diversos serviços nesse campo, isto quer dizer, trabalhos acadêmicos prontos e com garantia contra plágio! O universitário pode morar no extremo norte do Brasil e terá acesso via tecnologias modernas (computadores e celulares) às equipes que mercadejam pesquisas! Sim!
Sem problemas, todos precisam ganhar dinheiro com o que sabem fazer. Entretanto, eu ainda não entendo como se poderá chegar ao ponto de alguém se formar em qualquer nível e curso, apresentando um trabalho comprado... Será que estou sendo antiquada? Não sei. Eu só sei que, caso ainda eu estivesse nas salas de aula, e se estivesse orientando estudantes de nível superior, eu sentiria vergonha de avaliar e atribuir uma nota tão importante a uma pesquisa comprada. Sou do tempo em que os trabalhos escolares eram atividades muito sérias desde o antigo Curso Primário. Que teatro tudo isto...