A escola e a violência contra a mulher
Notícia de hoje dando conta que no próximo ano as escolas terão obrigatoriamente o conteúdo da violência contra a mulher para ser desenvolvido com os alunos é muito elogiável. Trata-se de uma temática que busca enfrentar um dos mais graves problemas sociais do Brasil.
 
Contudo, em meu entendimento, há dois campos que precisam ser responsabilizados e corrigidos em função de práticas e discursos doutrinadores. Sem enfrentar essa questão nesses dois campos de pouco ou nada vai adiantar o esforço das escolas em debater essa temática com os alunos.
 
O primeiro campo que deveria ser responsabilizado é o da política. Vivemos um crescimento de discursos machistas e de assédio nunca antes visto na história brasileira. A forma como o Presidente da República tem tratado as mulheres jornalistas e as agentes políticas como deputadas é repugnante. E junto com ele há uma leva de políticos que repugnam pela forma como tratam as mulheres a sua volta. Nos encontros promovidos nos meios políticos da situação a preponderância absoluta é de homens, verdadeiros machos donos do poder. Sem melhorar a postura política em relação às mulheres, sem ações que levem ao processo as ações de discriminação, machismo e assédio dificilmente haverá melhoria no meio social.
 
O segundo campo que também precisa ser corrigido de maneira radical é o religioso. A pregação religiosa que coloca o homem como chefe de família, como cabeça, como comandante, implicitamente dá-lhe também o poder de coagir, de obrigar, de corrigir de maneira violenta como até matar a esposa, companheira ou namorada. As Igrejas erram na interpretação bíblica, retirando versículos fora do contexto ou adotando uma postura fundamentalista.
 
Os púlpitos estão se tornando cada vez mais o pelourinho do massacre das mulheres em nome de uma pretensa ortodoxia religiosa. Não estamos dizendo que homem e mulher desempenham a mesma função numa estrutura familiar. Não. Mas o grande equívoco é a interpretação colocando o homem sempre na posição de comando, de dono. Há pouca diferença.
 
Desta forma, parece-nos que haveria um terceiro campo a ser enfrentando. Este está disfarçado pela ideia de justiça, presente nas diversas instituições que deveriam julgar os crimes dos homens como o feminicídio. A lentidão do processo e sua formatação equivocada cumpre a função de despenalizar os homens que chegarem nas instâncias jurídicas. O meio jurídico também é machista.
 
Enfim, transferir o peso dessa responsabilidade apenas para a escola é continuar o mesmo processo de “brincar de fazer de conta”. A escola, sabemos, já possui tantas demandas e ela sozinha não fará grandes coisas para a transformação social.
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 23/09/2021
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