As mulheres falam demais: uma sina que deve ser desconstruída
Século XXI, e ainda hoje uma sina persegue as mulheres desse globo terrestre, a sina de que elas falam demais. Mas a grande questão, falam demais em que sentido? Quantitativamente? Indevidamente? No livro Mitos de Linguagem do professor Gabriel de Ávila Othero, lançado em 2017 pela editora Parábola, ele analisa esse mito de duas perspectivas: biológica e cultural.
No que concerne ao estudo biológico, é de se ponderar que esse mito não tem nenhum respaldo. Nenhum estudo biológico até hoje confirmou que as mulheres tenham na sua construção biológica algo que a coloque como um ser que fale mais que o homem. O autor faz ponderações e comparações em relação a alguns primatas e aves para salientar que algumas diferenças existentes entre homens e mulheres não são pontuais assim. Existem diferenças, mas não são tão grandes a esse ponto, de existir biologicamente algo que atue na quantidade da fala das mulheres serem superiores a dos homens.
Quando se pensa nos aspectos culturais, o mito se encontra em um beco sem saída. Não tem como comprovar tal mito, principalmente por que cada cultura pensa de uma forma em relação a cada crença, valor e atitude. Há culturas que aceitam, por exemplo, o uso de tatuagem, outras não; há culturas que mulheres saem de peitos para fora, já outras não aceitam tal fato. Todavia, quando se estuda culturas especificas, podem de alguma forma pontuar algo sobre o mito das mulheres falarem mais que os homens. Ou seja, de maneira pontual, e não universal, onde TODAS as mulheres falassem mais que os homens.
Em pesquisas pontuais, se percebeu que os homens falam mais que as mulheres em contextos específicos, como a fala em público quando se objetiva a busca por uma posição social, um ganho de status. Nesses espaços, existe até um silenciamento a fala das mulheres, ou um fala por cima delas, fazendo uma interrupção. Por outro lado, em outro contexto, o familiar, a mulher, em um contato a dois, sem a precisão de angariar espaço social, a mulher necessariamente falaria mais que os homens.
Por fim, é um mito dizer que as mulheres falam mais que os homens, de certa forma, em outros contextos, específicos, existem até um silenciamento de sua voz enquanto mulher. Esse mito se atrela a uma expectativa social em relação à fala da mulher, nada relacionado a questões biológicas ou culturais, apenas em contextos específicos de fala. O tema é bastante atual, e convida a todos a desnaturalizar mitos que acabam por semear discursos nada agradáveis em uma sociedade tão machista como a nossa.