Sobre a neutralidade em sala de aula

Quando se pensa em escrever algo atualmente, logo vem a auto censura. A ideia de que podemos ser catalogados e etiquetados como fazendo parte de algum partido ou facção política, sei lá como podemos chamar hoje em dia.

O fato é que, discordar de certas idéias ou posicionamentos não quer dizer: "passei pro outro lado". Pode-se inclusive, estar sem lado nenhum, ou como se dizia no velho jargão "ficar encima do muro". E, muitas vezes, lá de cima, enxergamos com mais nitidez o que ocorre embaixo.

Por exemplo, toda essa discussão em torno da educação, de intromissão ou não em sala de aula, acho improdutiva. Porque há muitas outras questões básicas sobre educação em nosso país que ainda estão longe de serem solucionadas.

A questão, a meu ver, é que os adultos, quando falam em doutrinação, pensam com suas cabeças já feitas (ou condicionadas)...e se esquecem que as crianças ou adolescentes estão passando por uma fase crítica, estão em desenvolvimento, e nessa fase da vida o que fala mais alto são as mudanças biológicas,seus interesses imediatos, a socialização na escola e toda carga de informação que lhes é dada pela mídia, além é claro, de seu relacionamento com os pais ou responsáveis em casa,etc, etc.

Por experiência própria, sei que muitos deles, a maioria, ou quase todos, nem tem ideia da diferença entre comunismo e fascismo, como as coisas funcionam em uma ditadura, e daí por diante.E, por mais que lhes explique, é algo que parece sempre bem distante de seu mundo concreto. O que eles entendem é o que vivenciam e sentem no mundo ao seu redor. E sabem também, com certeza, o que é ser "dedo duro" ou qualquer outra expressão que substitua a essa, hoje em dia. Isso eles sabem com certeza. Então, essa parte do "ensinamento" eles vão absorver com extrema facilidade, desde a mais tenra idade.

O certo é que tudo é muito complexo em nossos dias. A gente "puxa uma cordinha e sai um elefante". O que penso, então, é que se deve passar o conhecimento, as informações, o conteúdo (como se diz), com muita objetividade e clareza. Somente isso. Com neutralidade. E, se daí surgirem questionamentos nas mentes mais curiosas ou indagativas, deixar que pensem por si mesmos, descubram seu próprio caminho.

Cedo vão perceber, por si próprios, nos relacionamentos mais próximos, que há sim injustiças no mundo e na vida...e que algumas delas (ou muitas) também são consequências de seus próprios atos.

No mais, é importante, eu penso, chegar em sala de aula sem idéias preconcebidas, o que sei, é difícil. Mas, principalmente, deixar que "eles descubram" por si mesmos. O que lhes devemos são informações e exemplo e se nisso falhamos, o importante também é pensar que sempre se pode recomeçar (quem ensina e quem aprende).

No mais, eu acredito, há em sala de aula, um relacionamento entre professor e aluno que é único. Quando se fecha a porta pra começar a aula, supõe-se que, no mínimo, o profissional seja dono do que sabe e em todo caso, disposto a pesquisar o que não sabe. Essa ainda continua sendo a maneira mais efetiva de guiar o aluno ao conhecimento.

Em algum momento, sem dúvida, o professor deixará transparecer o seu posicionamento diante da vida, principalmente se questionado. Mas isso está muito longe de ser uma doutrinação. Enfim,penso que há muito de paranoia em torno desse assunto, ultimamente. E, quem vai sair mais prejudicado em tudo isso, é o próprio aluno.

Mareluz
Enviado por Mareluz em 01/11/2018
Reeditado em 01/11/2018
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