AS ORIGENS AFRICANAS DA FILOSOFIA
AS ORIGENS AFRICANAS DA FILOSOFIA
Ao discorrer sobre a filosofia africana certamente vamos esbarrar em inúmeros entraves, a começar por uma visão contaminada euro centrista que dominou e domina nossa cultura por vários séculos. Esta tarefa não é fácil devido à antiguidade de suas civilizações bem como a variedade cultural do continente. (Prof. Ricardo Matheus Benedicto) . Cheikh Anta Diop aborda em seu texto que escrever a história da África e ignorar a cultura egípcia ou ainda tentar “branqueá-la” certamente estará ocultando a verdade de forma deliberada e intencional, isso implica em cometer um crime contra a historiografia, outro fator preponderante é de que se ao escrevermos sobre qualquer assunto se o contexto for ignorado, novamente outro crime estará em curso.
A filosofia e saberes africanos em via de regra nunca foram admitidas pelos europeus, todo e qualquer avanço da humanidade são convenientemente atribuída aos greco-latinos, suprimindo a contribuição africana. Para contradizer essa teoria descabida, os próprios gregos reconhecem ter uma divida cultural para com os africanos. É imperativo ressaltar que os egípcios tiveram uma miscigenação mais acentuada com os europeus a partir da invasão do continente por Alexandre apenas 330 A/C, época em que a cultura Egípcia já se encontrava em elevado estágio de civilização. Heródoto cita em seu livro que os nomes dos deuses e das cerimônias gregas tinham muita semelhança com as praticadas no antigo Egito. Em relação às ciências é inegável o elevado grau de conhecimentos matemáticos desenvolvidos pelos egípcios, fato esse reconhecido por Aristóteles. O autor menciona em seu texto que Pitágoras e Tales de Mileto estudaram no Egito. Montesquieu também se refere aos antigos filósofos egípcios.
Dentro desse contexto é inegável a afirmação sobre a civilização e filosofia ser de origem egípcia, portanto africana e conseqüentemente negra, pondo por terra o senso comum que coloca os negros em um patamar inferior no que tange à inteligência. Era indispensável colocar o negro em uma condição inferior, para com isso justificar sua escravização a partir do século XV e com o apoio incondicional da igreja, a qual na época exercia forte poder sobre as pessoas e, o partilhamento do continente, à serviço do colonialismo, ávido por matéria prima e mão de obra barata. Essa prática e visão distorcida dos africanos só vão encontrar forte oposição nos iluministas. O que temos de levar em conta que somente ha duzentos anos é que a “verdade absoluta” começou a ser contestada quando defendia a tese da inferioridade do povo africano. Lastreados no testemunho de Georg Hegel, a civilização egípcia incomodava os europeus na defesa da tese de que os negros eram inferiores. Como a tentativa de negar os feitos egípcios e sua influência sobre a Grécia era impossível, a solução encontrada foi a de separar o Egito do resto da África incluindo nessa tarefa o desejo de “branquear” os egípcios, negar com veemência que os antigos egípcios eram negros e, ignorando que o “branqueamento” dos negros com a miscigenação intensificou-se na era Ptolomaica.
Sendo Ptolomeu um general das fileiras de Alexandre da Macedônia, que incentivava o casamento de seus soldados com as mulheres negras do país recém conquistado, essa mescla só pode ter ocorrido a partir do ano de 330 A/C. Com o delineado até então concluímos que a tese de que os africanos são uma raça inferior, incapazes de constituir uma civilização e formar um Estado, está totalmente detonada.
A visão eurocêntrica não finda de forma repentina, em pleno século XX mais precisamente na década de 60 o cinema americano produz o filme Cleópatra, em que a protagonista principal é representada por uma atriz branca de olhos claros e cabelos loira chamada Elizabeth Taylor.
A hegemonia européia que difundiu a cultura para todo o mundo ocidental, fez com que os povos não europeus comprassem a idéia de serem inferiores. Para escapar dessa distorção que ajuda a perpetuar essa visão, foram muito importantes os trabalhos de Cheikh Anta Diop, seus estudos serviram de base para recolocar os africanos como protagonistas do seu processo histórico. Esta posição é denominada de Afrocentrismo.
O fato de uma imensa quantidade de africanos estarem vivendo fora de seu continente, ilhado por costumes europeus corrobora para que o homem africano não consiga se aperceber do seu lugar na história e, o faz aceitar com passividade a ideologia errônea da superioridade européia. É necessário colocar em cheque esta ideologia para que o africano possa desenvolver uma identidade positiva e assumir o seu importante papel, como protagonista da origem da humanidade e conseqüentemente da filosofia e de outros tantos conhecimentos científicos atuais. A crítica a esta ideologia também deve ser feita porque, ela está apoiada em falsidades.
De acordo com Diop a origem do homem na África data de aproximadamente 150 mil anos, europeus 40 mil e finalmente os semitas 5 mil. Se o gênero humano surgiu na África, parece sensato admitir que as primeiras civilizações floresceram no continente africano. No entanto, como o conceito de civilização surge no contexto da ideologia da superioridade européia ele tende a ignorar a África.
Uma das formas de resgatar a historiografia africana foi proposta pelo historiador Abdias do nascimento, que propõe o quilombismo o qual era um movimento baseado nos princípios de Palmares, em que seus princípios se aproximam bastante do socialismo marxista, onde haveria igualdade entre os membros e a terra e meio de produção pertenceriam a quem nele trabalha.
Com esse pequeno texto resumido é impossível relatar todos os fatos primordiais na sua íntegra, da mesma forma não há a pretensão de solucionar ou reverter os problemas e dificuldades enfrentas oriundos da segregação racial. Mas é fundamental para estimular a reflexão e o debate de temas tão relevantes à nossa sociedade.