Trabalho infantil
Agora está praticamente vetado o mero conceito de trabalho infantil. Ai da mãe, ou do pai, que ousar, filho ou filha no duro pegar. Tão aí espalhadas e espelhadas a tantas instâncias da Justiça sequiosas de punir o menor deslize nas disposições cuja essência são os senões.
Imagino agora um fiscal do trabalho, na primeira metade dos anos sessenta questionando e ameaçado papai e mamãe, por nos haverem incumbido de levar aquela terra tirada da escavação da cisterna, na base do carrinho de mão para rodar oitenta metros e jogá-la toda no buração...
Trabalho forçado infantil, falta de licença especial, de contrato de trabalho, descumprimento de obrigações trabalhistas, outros ônus e encargos, e papai estaria atrás das grades, ou varrendo rua sob os grilhões da reprovação do populacho.
E sem uma lapada, ou um xingo sequer nos ativemos, Bel eu e Beu naquela labuta cotidiana de carregar terra, logo depois argila, do quintal para o insaciável buracão, preservados horários de escola, almoço ou do cumprimento dalgumoutra doméstica obrigação.
Foram 19,40 metros de furo vertical até a água, do marejar inicial ao inundar final. Em meio de tudo, todo o risco vivido pelo cisterneiro Walder, até seu acidente - de ferir o pé numa picaretagem - dar uma breve folga à gente. Para depois toda a labuta retomar com um cisterneiro reserva em seu lugar.
Explorados? Na verdade, cansados, mas em nada nas lides escolares prejudicados. Estávamos era orgulhosos de ver aquele buraco fundo
dar, sem mágoa, tanta água pra desalterar a sede de todo mundo.