Desconstrução da Educação Moderna
Existe um sonho secreto que anima os corações de boa parte dos professores. Algo que ao mesmo tempo é fonte de decepções e frustrações.
O professor sonha em fazer deliberada, metódica e didaticamente os caminhos que ele encontrou pra desenvolver seu saber. Ele acredita ter aprendido com muito custo e sozinho e deseja que os alunos não sofram pela privação de orientação que os mesmos tiveram.
Este caminho duro e árduo que o indivíduo, que depois se torna professor, percorre o marca e deseja que tal caminho seja facilitado e programado para o aluno. Em outras palavras, oferece pronto aquilo que encontrou nas vivências, contatos e acaso.
Mas e se for da natureza do aprender este acaso, vivências e contatos de tal forma que nunca poderia ser sistematizado, formalizado e ainda mais imposto ao aluno. Se este caminho da aprendizagem tiver na sua essência uma espontaneidade e experiências que não podem ser controladas por uma instituição chamada escola?
Seria este algo tão subjetivo controlável e sistematizado? Não seria isto um sonho moderno que já deveria estar desacreditado? Seria estes processos tão subjetivos e espontâneos, que se desenrolam dentro de relações com pais, colegas e mídia algo que pudesse ser enlatado e fornecido aos alunos em escala industrial?
Então, o que seria o sonho dos professores idealistas seria na verdade uma fonte de pesadelos pra eles e estranhamento para os alunos. Em comum a ausência de sentido tanto na imposição de um quanto da recusa do outro.
Além disto, políticas educacionais e curriculares tem decidido de antemão e por interesses alheios aos alunos, o que deve ser a aprendizagem e o que dever ser aprendido. Como se fossem objetivos a serem cumpridos a todo custo. Esquecem que sem que se misturem e se contextualizem dentro das vivências dos alunos, tal saber se torna opaco e sem sentido.
A questão que desejo frisar é: a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo tão anteriores escola formal, que dependem de relações sociais, vivências e acasos, poder ser compactado e industrializado pela tal meta da escola de qualidade?
Digo com plena convicção que esta ilusão de uma educação industrializada e massificada seja assimilada pelo aluno de muitas formas, menos como um método de aprendizagem.
Isto por que a aprendizagem requer um sentido que não é dado inteiramente pela escola e nem poderia, a não ser a custas de alienar severamente o aluno de suas vivências e expectativas sociais trazidas de sua família e comunidade.
O acaso, as vivências e contatos representam forças de motivação e sentido que são maiores e preponderantes sobre qualquer instituição escolar que não seja instrumento de sua realização e potencialização.
Não há método, data show, novas tecnologias da informação e piruetas que substituam as expectativas e vivências dos alunos como meios e contextos em que se constroem a aprendizagem.
Não se ensina nada de verdade, sem dialogar com tal contexto, onde o que é proposto pelo professor venha a fazer sentido.