Pedagogia do Diálogo: como "desensimesmar " alunos

O aluno ao conhecer e se iniciar numa dada matéria e professor, ele procura obter dali algum sucesso, algo que ele possa se identificar e sentir que vale a pena investir seus esforços.

As dificuldades de várias ordens, didáticas, pouca formação anterior, tribulações domésticas, fazem com que este primeiro contato se mostre frustrante para o aluno. É o momento em que ele se protege de expectativas e se fecha em outros mundos. Evidente que ninguém vai se esforçar em conhecer e aprofundar algo que aponta dentro dele mesmo como sua incapacidade.

Este ensimesmamento do aluno, longe de ser um desprezo ou pouco compromisso, como muitos alegam, se trata de uma desistência. Esta desistência leva o professor a trabalhar com níveis mais superficiais de conhecimentos - a altura do pouco esforço e concentração que o aluno julga valer a pena investir.

Muito dos julgamentos que fazemos destes alunos ensimesmados com a matéria ou mesmo com a escola, acontecem sem a compreensão psicológica do comportamento. Acreditamos que o aluno esteja simplesmente se recusando a aprender ou preferindo ficar na dele.

Não é tão simples desensismar o aluno. Ele tende a se acomodar com o nível baixo de exigências ou mesmo deixa de acreditar que a escola possa oferecer o nível de profundidade que ele precisa. Ele aposta em outros meios como jogos, relações sociais, esportes e outras atividades.

Não é ruim sua dedicação a outras atividades, mas sabemos que só escola pode oferecer em quantidade e qualidade certas habilidades práticas e sociais num nível que torne estes alunos pessoas que possam se realizar sem tantas barreiras e frustrações.

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Devemos lembrar que o aluno ensimesmado não é o mesmo que alienado. Se pensarmos assim, nada adianta fazer para educá-lo. Partimos inclusive da ideia do aluno alienado, nada sabe, vive a esmo, sem expectativas, sem preocupações excessivamente sexualizado, conectado a internet e no imediatismo.

Isto por que estamos cegos quanto ao conhecimento e a forma própria do aluno desenvolver e construir seu saber. Esta nossa cegueira torna o aluno ensimesmado, não alienado, pois ele prefere suas coisas do que nossa aula.

O ensimesmamento significa que o aluno prefere suas coisas, relações e experiências, do que gastar seus tempo e atenção com uma experiência escolar sem sentido para ele. Esta alternativa individual resulta que a escola significa pra ele uma burocracia e uma obrigação. Se sente deixado de lado ou não importante, já que o que ele precisa não é atendido pela escola, mas em outras relações.

A indiferença em relação a escola é a mesma daquele que não é atendido ou ignorado. Este ensimesmamento tem origem nas relações que a escola produz e não em algo típico e inerente a adolescência.

Seria a internet responsável por este ensimesmamento? Ela é um dos meios assim como as drogas, as galeras, a vandalismo, o curso do Senai a tarde... A escola não entra na lista, a não ser como um lugar de encontro com outros jovens também ensimesmados.

A escola verdadeiramente está ensimesmada, talvez ainda mais que os seus alunos.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 12/11/2015
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