Pedagogia do Diálogo: o anti-ensino descartável

Existe uma explicação muito simples para os maus resultados educacionais no Brasil. Não se trata de salários de professores ou desinteresse dos alunos, mas do que entendemos por aprender e ensinar.

Onde não existe cobrança por aprendizagens relevantes e que realmente signifiquem ganhos de habilidades e compreensão, não há ensino, mas enrolação. Esta aprendizagem relevante necessita esforço, disciplina e tempo para ocorrer.

Habilidades básicas e simples exigem pouco esforço e dedicação. Podemos pensar no manuseio de um celular, que de tão simples não confere a ninguém uma posição relevante por fazê-lo - não contrataremos profissionais para fazer isto por nós e nem precisamos de aulas disto.

Se entendemos que habilidades e conhecimentos relevantes exigem dedicação e esforço, precisamos da confiança no professor para que este investimento a princípio doloroso tenha como resultado aprendizagens e desenvolvimentos.

Não existe aprender o que já se sabe. Ensinar o que aluno já sabe é o que chamamos de picaretagem. O aluno acredita que aprendeu e o professor acha que ensinou. No final das contas, ao prestar um concurso ou ENEM ele se descobre enganado porém iludido. Fizeram o mesmo pensar que aprendeu, e na verdade não teve o que aplicar na prova para resolver seus problemas.

Se a um tempo atrás a escola, com seus sucessos e fracassos, dizia ao aluno suas possibilidades profissionais e de classe, hoje a escola deixa que o próprio mercado e sociedade diga ao aluno o seu lugar.

Uma alternativa a estes extremos é aceitar que a aprendizagem é um investimento pessoal e encorajarmos os alunos a este investimento. Deixar em segundo plano a burocracia das notas.

Mas isto não se faz sem que a escola, família e poder local entenda que NÃO É POSSÍVEL ADQUIRIR HABILIDADES E CONHECIMENTOS RELEVANTES SEM QUE SE INVISTA TEMPO, MOTIVAÇÃO, DEDICAÇÃO E ATENÇÃO AOS ESTUDOS.

Do contrário, o que teremos é alunos que acham que aprenderam encontrando na realidade fora da escola a sensação de abandono ou engano. Estes mesmos alunos não construirão em seus filhos as expectativas que eles mesmos não tiveram atendidas pela escola.

A autoridade do professor pode vir de muitos aspectos. Não podemos esquecer certos jornalistas da violência contam com muito apoio e autoridade junto ao povo. Hitler também tinha muita autoridade junto ao povo. Então a mesma, embora importante, não serve como parâmetro da aprendizagem.

A questão não é: como tornar o estudo mais divertido, agradável e imediato para o aluno.

A questão é: se quero exigir dos meus alunos dedicação necessária ao desenvolvimento de habilidades e reflexões, preciso:

a) domínio dos meios que levarão a tais aprendizagens

b) apoio da família, dos órgãos dirigentes e dos alunos

c) orientação das atividades docentes para o desenvolvimento do aluno e não para enrolá-lo.

d) aceitação de que a aprendizagem não é um processo instantâneo e nem fácil. É fácil enganar o aluno, enganar a própria consciência é mais complicado.

e) diálogo com o aluno: ele precisa compreender que esforço e engajamento vem antes do resultado. Precisa inclusive de exemplos disto por parte do professor.

É necessário que o professor problematize, e não moralize a questão com o aluno. As condutas de dispersão, desconstrução do ambiente de aprendizagem na sala, a acomodação com a picaretagem por parte do aluno se desfazem com o entendimento do que é verdadeiramente aprender precisa ser menos obvio e mais argumentado e construído pelo professor.

Aprender exige energia, determinação e disposição. Não negamos estas condições como propõe pedagogias alienígenas à sala de aula. Não negar o sacrifício e energia necessários. Não iludamos nossos alunos de que irão aprender algo verdadeiramente relevante sem se dedicarem e enfrentarem desafios.

Devemos mostrar a eles, aos pais e a burocracia que nos ronda que há um sentido e propósito para tal investimento e não que o investimento seja ruim.

A preguiça, indisposição e indisciplina é resultado da avaliação negativa dos esforço necessário e a recompensa obtida. O que podemos fazer com isto:

1. Picaretar e não exigir do aluno um esforço além do que está disposto a empregar e não aprenderem coisas relevantes.

2. Conectar o esforço empregado e a satisfação com o resultado obtido.

Evidentemente, as pressões legais e institucionais para que a escola ceda as exigências e condições colocadas pelos alunos à aprendizagem, leva ao "ensino descartável" que dá alguma satisfação ao aluno e ao professor no momento, mas depois de um tempo se mostra pouco útil e esquecido. O que depois de um tempo não serve para mais nada.

A educação não pode ser um meio de sobrevivência no convívio entre professores e alunos, como um armísticio. O ensino é uma missão e não uma concessão, pois é possível várias formas de educação ( não esqueçamos a doutrinação das escolas nazistas).

A educação é um meio e o fim é antes de tudo político, isto por que responde a seguinte e inevitável pergunta: que sociedade queremos? Para que seja democrática, precisa ser discutida com todos os envolvidos de forma a buscar um consenso - não uma tirania de qualquer uma das partes ou a demagogia dos sofistas.

O professor é a autoridade, mas precisa ter consciência dos pressupostos da sua prática, tanto científicos e pedagógicos quanto políticos.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 11/11/2015
Reeditado em 11/11/2015
Código do texto: T5445683
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