EU NÃO SEI!

Eu não sei o que é a sabedoria, nem posso saber, ainda que eu tente dizer o que ela é. Vivo tentando descobrir em que ela consiste. Engraçado: eu já tentei defini-la. Porém, como eu poderia defini-la, se eu não sou sábio? Como poderei definir algo que não conheço, que nunca vi?

Toda vez que eu digo o que é a sabedoria, eu estou apenas mostrando o que eu sei, ou penso saber, e não o que ela é.

Somos seres contraditórios: imaginamos saber definir o que não conhecemos. Da mesma forma, tentamos enquadrar Deus em uma definição, quando, na verdade, não podemos defini-Lo. Pelo menos eu não sei defini-Lo. Tudo o que dizemos sobre Deus é baseado nas nossas categorias. Sabemos muito pouco sobre Ele.

Sócrates e Platão diziam que o filósofo não é ignorante; não é nem pode ser sábio. É alguém que está entre o sábio e o ignorante. É alguém que busca a sabedoria.

Sócrates afirmava que o ignorante não filosofa, pois este não reconhece a necessidade de filosofar, de saber mais. Deus, também, não filosofa, pois já sabe tudo, já é sábio. Nem o sábio (Deus) nem o ignorante, portanto, filosofam. Um não precisa; o outro não reconhece a necessidade de filosofar. Só o filósofo, pois, pratica a filosofia.

Sendo assim, eu, que exerço a arte filosófica, estou desprovido de sabedoria, sempre estarei. O que eu posso fazer, como dizia Pitágoras, é amá-la e buscá-la. Nada mais.

Chega-se, pois, a esta conclusão: aquele que se considera sábio deixará de aprender, porque a sabedoria é o alvo, é o limite. É por isso que o filósofo está sempre buscando saber mais; está sempre revendo os próprios conceitos e conhecimentos. Todo pensador deve ser um permanente interrogador de si mesmo, não sendo um chato, mas duvidando do que ele mesmo pensa saber.

Eu, pois, se quiser imaginar ser sábio, iludir-me, então, tenho que deixar de praticar a Filosofia. No entanto, eu prefiro jamais deixar de filosofar. Deixar de exercer a Filosofia seria uma autocondenação, ou seja, eu estaria me conformando com este pequeno ser que eu sou.

Vem outro questionamento: eu não sei o que é a sabedoria, mas digo que a amo. Entretanto, para a Psicologia atual, eu não posso amar o que eu não conheço. Sendo assim, o que mesmo eu amo, quando eu digo que amo e busco a sabedoria? Talvez seja a imagem que eu tenho dela que eu digo amar e buscar.

Que bicho chato é o filósofo!

Eu não posso deixar de concordar com o velho Sócrates: “Só sei que nada sei”.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 15/09/2014
Reeditado em 15/09/2014
Código do texto: T4962647
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