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COMEÇOU O APARTHEID
Onde havia muito não se dava um rebuliço, ontem, 30, em Fortaleza, aconteceu o maior arranca-rabo estudantil, que não era aqui registrado nos últimos tempos. O bafafá aconteceu justo na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Massa razoavelmente numerosa de estudantes e professores secundaristas invadiu o gabinete do reitor, durante uma reunião do Conselho Universitário, e foi protestar contra, segundo eles, o baixo percentual da taxa de cotas – 12,5% – para o ingresso no curso superior, já no ano que vem.
A moçada reivindica a aplicação da “Lei de Cotas” para já e já. Desta forma, que a Universidade conceda 50% das vagas. O Conselho Universitário e o reitor, no entanto, batem o pé, a prometer que tal porcentagem será cumprida, sim, gradativamente. Ou seja, que 50% das vagas para o alunado da escola pública serão oferecidos, a fim de que eles tenham acesso ao 3º Grau, só mais adiante e não totalmente agora.
Para ser fiel às palavras do reitor, em um canal de tevê, houve "baderna” (palavra funesta dos anos de chumbo). A imprensa toda assegura que houve quebra-quebra: portas quebradas e arrancadas, alvos depredados, como janelas e vidraças, objetos da UFC destruídos.
Com estes olhos levemente castanhos, ao tempo em que um magnífico reitor era escolhido a dedo pela ditadura, vi in loco capítulo igual, quando foi invadido o gabinete do reitor plantonista, professor da Odontologia, Hélio Leite.
Para que não me omita, no atual arranca-rabo havido, nesta terça, na UFC, vou emitir uma opinião que, no mínimo, suscitará polêmica: jogo contrário a essa tal “Lei de Cotas”. Alguns dirão que estou a negar o meu passado de simpatia à velha UNE e que estou sendo retrógrado e reacionário.
A UNE, que já não é a mesma, brigava à época contra a entrega do País, na seara universitária. E abominava o “Acordo MEC-USAID” (invencionice dos invasores ianques para a privatização do ensino). Contudo, agora, se há democracia, com relação à “Lei de Cotas”, quero opor-me a tal medida paternalista.
Sou pela democratização do ensino, em todos os níveis. Que todos galguem degraus, que ascendam às nuvens, por via da Educação, estudando de fato e com oportunidades iguais. Mas condicionar isso tudo ao matiz da pele e às etnias (negros e índios) já é uma modalidade de racismo. E isto vai dar cada vez mais rebu.
Por que os governantes não cobram um ensino de qualidade – claro que oferecendo melhores salários e boas condições de trabalho – na escola pública? O material humano lá existente não fica um milímetro aquém do pessoal da escola particular, e aquele ainda faz reciclagens e treinamentos e seminários. Não vemos isto no área privada; e sua gente também sai dos bancos da universidade pública.
Vi com meus olhos “mestres” sem qualificação profissional em escolas do tipo A. Em escola de classe média, média a alta, havia médico, acreditem, lecionando a Língua Portuguesa. Na escola pública todos passam por cursos especializados para a formação do magistério. Problema de gestão: escolas particulares exigem qualidade e planejamento do seu quadro docente.
Não tenho uma fórmula mágica para fornecer meios às classes menos favorecidas, habitantes da periferia, que não vão de carrões importados a cursos particulares de alto custo – por ex., colégios caros, cursos de idiomas, de musculação e aeróbica –, e, sem pagar um tostão, ocupam as vagas dos pobres, filhos dos trabalhadores. Se alguém é rico, então tem que pagar os estudos, uai!
Mesmo assim, sem ter às mãos a magia da solução do problema, digo e sustento que a “Lei de Cotas” sugere, sub-repticiamente, o APARTHEID, faz muito extinto na África do Sul, pelo menos em tese, graças a um herói nacional daquele território africano, o Nélson Mandela.
Não tenciono fazer profecia, mas é agora que desponta no cenário brasileiro o retrocesso do APARTHEID, feiura que tantos males causou alhures e à própria Humanidade. Mas, aqui, não; agora foi que começou o APARTHEID.
Fort., 31/10/2012.