Ensinem as crianças a lerem, princípio do desenvolvimento sadio e da cultura
Quando era pequeno, a maioria das pessoas dizia que eu nunca seria um homem estudioso, por ser doente, jamais me interessaria por livros e escrita. Meu padrasto trabalhava fora e ficava dias sem aparecer. Minha mãe tinha medo e íamos dormir todos bem tarde. Para nos entreter acordados, ela ficava debulhando milho e contando, junto com minha avó, historinhas de Branca de Neve, Bicho Papão, Negrinho do Pastoreio, Bichos, Santos da Igreja Católica Romana, Boitatá, Lobisomem. Não tínhamos energia elétrica no sítio, era tudo a base de iluminação artificial. Meu padrasto tinha três livros que usou quando estava na escola. Aritmética (curioso, um livro para a 4ª série que continha toda a matéria e aprendemos hoje no 9º ano escolar), outro de Educação Moral e Cívica que ensinava sobre amor ao Brasil, relacionamento com as pessoas e as virtudes cardeais do ser humano e um livro de Leituras para língua pátria. Eu tinha permissão para pegar os livros por pouco tempo. Depois minha mãe os guardava. Mesmo não lendo, eu ficava namorando aqueles livros numa mala de roupas do meu padrasto. Enquanto contava histórias, minha mãe foi me preparando para a escola. Ela se dizia arrependida por ter deixado a escola, a contragosto de minha avó. Me dizia que não desejava para mim a condição de analfabeto, que isso causava sofrimento e dependência da pessoa. Ela dizia que nos meus estudos estaria a libertação da nossa família da condição de camponeses pobres e na minha própria melhoria de vida. Ela sonhava que eu fosse professor primário. Minha avó contava como ficou triste quando meu bisavo lhe proibiu de ir a escola, porque a escola de brasileiro para ele, era a enxada e o machado de cortar lenha. Meus tios maternos, um ou dois aprendeu a ler, numa família de dez filhos, mais ou menos. Comecei me animar. Um ano antes de ir para a escola, minha mãe comprou uma pasta (mala azul) que serviria para guardar meus cadernos (futuros). Eu gostava de sair no terreiro com a mala, me sentindo estudante da primeira série. Eu cresci num ambiente que embora, de analfabetos, dava importância a alfabetização e a leitura. Em nossa casa havia incentivo para ir para a escola. A casa tinha livros, contadoras de história, naquele tempo, boas emissoras de ondas médias com programas educativos. Eu me apaixonei pela leitura, um relacionamento que tem sido eterno.