Os Dois Trabalhos de Hércules

O maior herói mitológico da Grécia, Hércules, símbolo da força, o mais forte homem sobre a terra, era uma espécie de semideus. Nada que existisse no ar, no mar ou na terra poderia derrotá-lo. Em suas aventuras há uma representação poética do valor posto a serviço da humanidade, como na eliminação da serpente de cem cabeças, no combate aos gigantes, na morte do leão de Neméa.

O seu intelecto, no entanto, não era forte. Ele não era um herói perfeito como Theseu, o dos atenienses, que era forte de corpo e intelecto. Mesmo assim, ele se julgava em igualdade com os deuses. Era um filho torto de Zeus; poderia apenas ser vencido por uma força sobrenatural, como de fato aconteceu por uma mágica encomendada por Hera, a esposa de Zeus que não era a sua mãe.

Para a Logosofia, os trabalhos hercúleos e sobre-humanos não são doze, e sim dois: encarar, combater e derrotar a fera que cada ser humano traz dentro de si, como herança ou estigma de épocas distantes, quando ela lhe fora útil em seus primeiros tempos sobre a terra, e unificar as qualidades e potencialidades, as quais trazem- no como herdeiro de um Criador, que em todos infundiu o sopro da genialidade e do amor.

Cada homem pode encarnar o Hércules legendário, utilizando agora a sua força psicológica para derrotar os inimigos interiores, os seus defeitos, que lhe impedem contemplar a Verdade e ser feliz; viver em paz e cumprir a missão maior que lhe foi encomendada: evoluir e ser útil aos seus semelhantes.

Numa conferência pronunciada em Buenos Aires em 30 de Setembro de 1948, o pensador e humanista Carlos Bernardo González Pecotche afirmava que “são estes os dois trabalhos de Hércules que é necessário realizar, porque as deficiências, que desdobram a personalidade humana e não enganam com freqüência o próprio ser são as que, também, convertidas numa espécie de diabo pessoal, aconselham constantemente o homem a crer-se o que não é. Um ser desta índole é o pior dos crentes, porque chega a converter-se em um pequeno deus, pessoal e infalível: e, logicamente, erguido sobre semelhante pedestal, rechaça todo o intento de aperfeiçoamento e anula todo o esforço que tenda a desarraigar nele esta recôndita crença”.

Nagib Anderáos Neto

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