Para gostar de ler
Eu já trabalhei com jovens e posso garantir que incentivados, eles gostam de ler. O maior problema está em ‘como’ incentivar. A maneira tradicional que as escolas adotavam (não sei como está hoje) de mandar ler um determinado livro e fazer prova não funciona. Eles não lêem, então olham o resumo ou perguntam o final da história aos poucos colegas que leram... Além disso, a escolha dos livros nem sempre está de acordo com a faixa etária do aluno, são muito infantis, ou de difícil compreensão. Percebi também que muitos dos assuntos tratados não tinham interesse algum para eles. Para crianças de dez, onze, doze anos, é mais difícil ainda. Na tentativa de resolver a questão, acabei ‘inventando’ um sistema, que felizmente funcionou, tanto para os menores como para aqueles de quatorze ou quinze anos. Isso foi na década de noventa.
Para os pequenos, comecei a escrever crônicas contando como era minha vida no tempo de criança, como vivíamos, o que fazíamos no quintal, nossas brincadeiras... Eles liam em classe, gostavam e queriam saber mais. Depois passei a dar-lhes trechos curtos de livros de Monteiro Lobato, João Carlos Marinho, Walcyr Carrasco, Ziraldo, Marcos Rey, Pedro Bandeira, Lygia Bojunga Nunes, Ana Maria Machado... Aguçada a curiosidade, eles mesmos passaram a buscar livros desses autores com vontade de ler. Fazíamos também algumas aulas na biblioteca, onde eles podiam escolher os livros nas estantes, manuseá-los, mostrar aos colegas - recostados nos sofás ou deitados no chão. Parecia a maior bagunça, mas eu permitia que assim fosse para que eles sentissem prazer naquele momento. Escolhíamos também dois ou três livros que a classe toda devia ler com datas marcadas. E as ‘provinhas’ eram feitas cada hora de um jeito: perguntas escritas, comentários orais ou discussões em grupo.
Não posso afirmar que todos tenham se tornado grandes leitores, mas tenho certeza de que a sementinha foi plantada.
(*) Esse texto foi criado com a intenção de fazer um comentário ao artigo de Maria Mineira “Como anda a leitura dos brasileiros...” Ficou muito grande para deixar lá.
(A continuar... sobre como tratei o assunto com os maiores)