Professor é acusado de fazer apologia ao crime em Santos
Prova de matemática continha questões sobre tráfico de drogas, prostituição, roubo de veículos, assassinato e uso de armas de fogo
Prova de matemática continha questões sobre tráfico de drogas, prostituição, roubo de veículos, assassinato e uso de armas de fogo
O professor de matemática de uma escola estadual de Santos, na Baixada Santista (SP), está sendo acusado de apologia ao crime por passar aos alunos do primeiro ano do ensino médio seis problemas que citam temas como tráfico de drogas, prostituição, roubo de veículos, assassinato e uso de armas de fogo. Nas questões, o professor pergunta, por exemplo, qual a quantidade de pó de giz que um traficante deverá misturar para ganhar 20% na venda de 200 gramas de heroína ou quantos clientes cada prostituta deverá atender para que o cafetão compre uma dose diária de crack.
O caso foi denunciado à polícia na última quarta-feira pelos pais de uma aluna de 14 anos da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no morro do São Bento, periferia da cidade. Dois dias antes, a adolescente comentou com a mãe que não havia conseguido responder a um exercício com seis questões de matemática aplicado em sala de aula. Ao ver as questões no caderno da filha, a mãe se surpreendeu com o conteúdo do texto e decidiu procurar a diretoria do colégio.
- 1) Zaróio tem um fuzil AK-47 com carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas poderá disparar?
- 2) Biroka comprou dez gramas de coca pura que misturou com bicarbonato na proporção de quatro partes de pó e seis de bicarbonato. A seguir vendeu seis gramas dessa mistura ao Cascudo por R$ 150,00 e 16 gramas ao Chinfra por R$ 40,00 a grama. Então:
a) Quem comprou mais barato? Cascudo ou Chinfra?
b) Quantas gramas Biroka preparou?
c) Qual a % de cocaína na mistura?
- 3) Jamanta comprou 200 gramas de heroína e pretende revender com um lucro de 20% graças ao batismo com pó de giz. Qual a quantidade de giz que deverá colocar?
- 4) Rojão é cafetão na Praça Mauá e tem três prostitutas que trabalham para ele. Cada uma cobra R$ 35,00 do cliente dos quais R$ 20,00 são entregues a Rojão. Quantos clientes terá que atender cada prostituta para comprar a dose diária de crack no valor de R$ 150,00?
- 5) Chaveta recebe R$ 500,00 por BMW roubado, R$ 125,00 por carro japonês e R$ 250,00 por 4x4. Como já puxou dois BMW e três 4x4, quantos carros japoneses terá que roubar para receber R$ 2.000,00.
- 6) Pipôco está na prisão por assassinato pelo qual recebeu R$ 5.000,00. A mulher dele gasta desse dinheiro R$ 75,00 por mês. Quanto dinheiro vai restar quando Pipôco sair da prisão daqui a quatro anos?De acordo com o boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) de Santos, o professor foi chamado à sala da diretora, que também estava surpresa com o conteúdo, e confirmou que havia aplicado tais questões, escrevendo-as na lousa, mas sem esclarecer sobre os motivos que o levaram a formular o exercício. O professor teria dito ao padrasto da vítima que, como a jovem não havia respondido às questões em sala de aula como fora orientada, não era mais necessário respondê-las.
De acordo com o delegado titular da Dise, Francisco Garrido Fernandes, que instaurou inquérito para apurar a ocorrência, o professor e a diretora da escola foram intimados e deverão prestar depoimento na próxima segunda-feira. Caso seja condenado por apologia ao crime, o professor poderá receber punição de três a seis meses de detenção. “É um delito de menor potencial ofensivo e, se o juiz o condenar, pode aplicar pena de prestação de serviços”, explicou ele, respondendo que não tem conhecimento da existência de bandidos na cidade com os apelidos de “Zaróio”, “Biroka”, “Jamanta”, “Rojão”, “Chaveta” e “Pipôco”, que foram utilizados como personagens nas questões.
Repercussão
Na escola, direção e funcionários não quiseram comentar o caso. Já pais de alunos, estudantes do colégio e pessoas da comunidade têm opiniões diferentes sobre a situação. “Eu achei isso muito estranho, não sei onde ele estava com a cabeça quando fez essas questões, vai ver achou que assim ia trabalhar com a realidade do morro, mas com certeza essa não é a realidade da maioria das pessoas que moram aqui. Não quero que meu filho aprenda o que é um fuzil nem fora e muito menos dentro da escola. Na minha época os problemas falavam ‘fulano foi na feira comprar tantas maçãs’”, disse a autônoma Cristiane Santos, de 32 anos, que mora no São Bento, estudou no João Otávio e tem um filho de 4 anos.
A dona de casa Iraci Ferreira Alves, de 44 anos, diz acreditar que o professor está sendo mal interpretado. “Ele só alertou sobre o que tem em todos os lugares. É um ótimo professor e todos os alunos gostam dele. Está na escola há mais de cinco anos e em 2009 foi vice-diretor”, disse Iraci, que faz parte do Conselho da Associação de Pais e Mestres (APM) e é mãe de uma aluna do segundo ano do ensino médio e de outra que se formou ano passado.
“Ele foi o melhor professor de matemática que eu já tive e já dava questões assim antes. Se o problema fosse ‘Joãozinho comprou um doce’ ninguém ia prestar atenção”, disse uma estudante de 16 anos do 3.º ano do ensino médio, que teve aulas com o professor no ano passado. “Ele nunca chegou com uma arma na classe ou mandou alguém cheirar cocaína, o que ele faz não é incentivar o uso de drogas. Ele é sério quando tem que ser e engraçado para explicar”, disse outro ex-aluno.
* * * * *
Interatividade
Você acha que as questões foram mal interpretadas ou fazem apologia ao crime?
O caso foi denunciado à polícia na última quarta-feira pelos pais de uma aluna de 14 anos da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no morro do São Bento, periferia da cidade. Dois dias antes, a adolescente comentou com a mãe que não havia conseguido responder a um exercício com seis questões de matemática aplicado em sala de aula. Ao ver as questões no caderno da filha, a mãe se surpreendeu com o conteúdo do texto e decidiu procurar a diretoria do colégio.
Exame da discórdia
Veja as questões da prova de matemática:- 1) Zaróio tem um fuzil AK-47 com carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas poderá disparar?
- 2) Biroka comprou dez gramas de coca pura que misturou com bicarbonato na proporção de quatro partes de pó e seis de bicarbonato. A seguir vendeu seis gramas dessa mistura ao Cascudo por R$ 150,00 e 16 gramas ao Chinfra por R$ 40,00 a grama. Então:
a) Quem comprou mais barato? Cascudo ou Chinfra?
b) Quantas gramas Biroka preparou?
c) Qual a % de cocaína na mistura?
- 3) Jamanta comprou 200 gramas de heroína e pretende revender com um lucro de 20% graças ao batismo com pó de giz. Qual a quantidade de giz que deverá colocar?
- 4) Rojão é cafetão na Praça Mauá e tem três prostitutas que trabalham para ele. Cada uma cobra R$ 35,00 do cliente dos quais R$ 20,00 são entregues a Rojão. Quantos clientes terá que atender cada prostituta para comprar a dose diária de crack no valor de R$ 150,00?
- 5) Chaveta recebe R$ 500,00 por BMW roubado, R$ 125,00 por carro japonês e R$ 250,00 por 4x4. Como já puxou dois BMW e três 4x4, quantos carros japoneses terá que roubar para receber R$ 2.000,00.
- 6) Pipôco está na prisão por assassinato pelo qual recebeu R$ 5.000,00. A mulher dele gasta desse dinheiro R$ 75,00 por mês. Quanto dinheiro vai restar quando Pipôco sair da prisão daqui a quatro anos?
De acordo com o delegado titular da Dise, Francisco Garrido Fernandes, que instaurou inquérito para apurar a ocorrência, o professor e a diretora da escola foram intimados e deverão prestar depoimento na próxima segunda-feira. Caso seja condenado por apologia ao crime, o professor poderá receber punição de três a seis meses de detenção. “É um delito de menor potencial ofensivo e, se o juiz o condenar, pode aplicar pena de prestação de serviços”, explicou ele, respondendo que não tem conhecimento da existência de bandidos na cidade com os apelidos de “Zaróio”, “Biroka”, “Jamanta”, “Rojão”, “Chaveta” e “Pipôco”, que foram utilizados como personagens nas questões.
Repercussão
Na escola, direção e funcionários não quiseram comentar o caso. Já pais de alunos, estudantes do colégio e pessoas da comunidade têm opiniões diferentes sobre a situação. “Eu achei isso muito estranho, não sei onde ele estava com a cabeça quando fez essas questões, vai ver achou que assim ia trabalhar com a realidade do morro, mas com certeza essa não é a realidade da maioria das pessoas que moram aqui. Não quero que meu filho aprenda o que é um fuzil nem fora e muito menos dentro da escola. Na minha época os problemas falavam ‘fulano foi na feira comprar tantas maçãs’”, disse a autônoma Cristiane Santos, de 32 anos, que mora no São Bento, estudou no João Otávio e tem um filho de 4 anos.
A dona de casa Iraci Ferreira Alves, de 44 anos, diz acreditar que o professor está sendo mal interpretado. “Ele só alertou sobre o que tem em todos os lugares. É um ótimo professor e todos os alunos gostam dele. Está na escola há mais de cinco anos e em 2009 foi vice-diretor”, disse Iraci, que faz parte do Conselho da Associação de Pais e Mestres (APM) e é mãe de uma aluna do segundo ano do ensino médio e de outra que se formou ano passado.
“Ele foi o melhor professor de matemática que eu já tive e já dava questões assim antes. Se o problema fosse ‘Joãozinho comprou um doce’ ninguém ia prestar atenção”, disse uma estudante de 16 anos do 3.º ano do ensino médio, que teve aulas com o professor no ano passado. “Ele nunca chegou com uma arma na classe ou mandou alguém cheirar cocaína, o que ele faz não é incentivar o uso de drogas. Ele é sério quando tem que ser e engraçado para explicar”, disse outro ex-aluno.
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Interatividade
Você acha que as questões foram mal interpretadas ou fazem apologia ao crime?