ESCOLA, HOMOFOBIA E A MORTE DE DIEGO AUGUSTO
Mais um homossexual pernambucano morto fora do Brasil. O sonho de uma vida melhor, mais digna e livre do preconceito e da homofobia leva diariamente jovens e adolescentes pernambucanos a quererem sair do estado para realização de seus sonhos, porém o que chama a atenção é que o caminho buscado por esses jovens tem sido o mais equivocado possível. Enquanto educador e professor que sou, tenho, em minhas salas de aula, incontáveis alunos e alunas homossexuais adolescentes e jovens, e enquanto ativista gay negro percebo que a escola não tem dado a contribuição necessária para que esses diferentes possam, de fato, realizarem seus sonhos sem precisar sair do estado. Isso porque esses sujeitos ao ingressarem na escola são invisibilizados pelas práticas pedagógicas ancoradas ainda na idéia de que, “do portão pra dentro da escola, todo mundo é igual”, sem se perceberem que essa igualdade é “diferente”. A escola ainda não está preparada para ver que somos iguais em direitos, mas diferentes enquanto pessoas humanas distintas: Diferentes na orientação sexual, identidade, etnia, religiosidade, em fim. Atualmente temos na Secretaria de Educação de PE uma Gerência de Educação em Direitos Humanos que tem buscado criar uma proposta de educação que contemple, de fato, os diferentes, é uma política inovadora do Governo do Estado de Pernambuco, mas ainda muito se tem a fazer, digo isso porque enquanto professor de sala de aula tenho visto como tem sido difícil o tratamento pedagógico aos homossexuais existentes em nossas escolas, dentre as dificuldades estão a não permanência dos mesmos na sala de aula, a não identificação com a escola e o modelo (ainda eurocêntrico, cristão, machista) que nem sempre dá conta desses diferentes, sejam eles: homossexuais, negros, idosos, deficientes, candomblecistas, umbandistas etc. A ausência de um currículo que contemple, de fato, essas questões da diversidade e o tratamento adequado a elas, levam jovens como Diego Augusto e tantos outros a buscarem na prostituição e no sonho de viver fora do Brasil, a solução para serem aceitos na sociedade e para o sucesso enquanto pessoa humana diferente, o que nem sempre acaba bem, como foi o caso de Diego. Lembro-me que em uma aula ministrada sobre homofobia na escola, meus alunos se posicionavam, em primeiro momento com uma carga de homofobia intensa, a ponto de ouvir de alguns deles frases como “eu quando vejo gays, professor, tenho vontade de matar” ou ainda “os gays não respeitam ninguém”. Após horas aulas de reflexão sobre o lugar onde estavam os gays, inclusive as travestis (as mais vitimadas da Homofobia) da nossa comunidade (centro de Jaboatão), os alunos perceberam que não estavam na escola, e quando os questionei o porquê disso, responderam de imediato que era porque “os alunos abusam deles, tiram onda com eles”, ou seja, são vítimas constantes do bulling homofóbico. Foi minha conclusão. E sendo vítimas de violência, como poderiam respeitar as outras pessoas ¿ Bom, essa carência de uma educação mais inclusiva e eficaz de fato, leva nossos diferentes a evadirem-se da escola, e ver na prostituição, no tráfico de drogas ou no roubo a saída para o “se dar bem na vida”, foi o que ocorreu com o jovem Diego mostrado numa reportagem do Diário de Pernambuco do dia 29 de dezembro de 2009 quando disse que “queria uma vida melhor lá fora”, e para isso havia abandonado os estudos, essa fala de Diego dita por sua mãe, revela-nos que a educação precisa estar mais atenta na hora de cuidar desses diferentes a fim de que os mesmos sintam-se sujeitos de fato de nossa escola e, consequentemente, da nossa sociedade. Para isso é necessário que sejam visibilizados, não só em nosso currículo oculto, como também em nosso currículo integrado que atenda as demandas das classes ditas menos privilegiadas.
Carlos Tomaz – LGBT MNU-PE, REDE NAC. NEGRAS E NEGROS LGBT – FÓRUM ESTADUAL DE EDUCAÇÃO ETNICORRACIAL DE PE.