A MASSIFICAÇÃO DA ANALFABETIZAÇÃO

Propagandas mentirosas, a mercenarização do trabalho do professor e a exclusão através da ideologia da inclusão são as características dos governos dos últimos 15 anos de PSDB em São Paulo. “Os professores que trabalharem melhor ganha mais”, diz o governo em referência ao bônus pago no mês de fevereiro. Não seria mais honesto dizer: “a escola que passar mais alunos será mais bem remunerada? Onde se passou mais alunos, e onde a evasão foi camuflada, o bônus foi mesmo melhor. Isso é a mercenarização do trabalho do professor, ou seja, trabalha-se pensando no bônus. Ensinar já não é mais um prazer, mas uma questão financeira. Quem trabalha por prêmio não merece outro adjetivo senão mercenário! É isso que o governo quer nos transformar: em mercenários, e tem professor que já aderiu ao mercenarismo, e diretor também. Alguns ficaram loucos por não terem recebido nada de bônus, e estão até pressionando os professores a não deixar aluno com nota vermelha. E se o aluno ficar só com um professor, ouve-se logo a chapuletada: “mas só com o senhor professor?” Constrangido, o professor logo diz: pode mudar para 5 para mim? O aluno não precisa mais fazer nada, basta freqüentar as dependências da escola para passar de ano. Ninguém é a favor da reprovação, mas o que está acontecendo é simplesmente um absurdo. Essa é a progressão continuada instalada nos últimos 17 anos de reforma educacional em São Paulo.

Dois professores por sala de aula! Eis ai outra grande mentira fácil de desmascarar, bastaria um bom jornalista fazer uma visitinha às escolas dos municípios como Jandira, por exemplo, para ter uma boa matéria a esse respeito. Claro, a mídia televisiva é cúmplice do governo, por isso não se faz muitas reportagens mostrando a verdade sobre a realidade das escolas. ALIÁS, A IMPRENSA NÃO PROCURA CONHECER AS ESCOLAS POR DENTRO, por isso tudo que o governo fala na televisão corre o risco de virar verdade absoluta, pior é que tem gente que acredita!

Qual a realidade das escolas?

Salas super lotadas, um professor para dar conta de 40 a 50 alunos, alunos especiais numa sala lotada de alunos considerados “normais”, mas que são provenientes de um mundo marginal que não respeita nem obedece autoridades, alunos com comportamentos violentos, este é o público que o professor enfrenta em sala de aula todos os dias. Até quando as mentiras de dois professores por sala de aula vai continuar?

E O MATERIAL PEDAGÓGICO? Os "sextos anos" antigas quintas-séries que vieram da prefeitura de Jandira, não receberam o material pedagógico. É a desorganização de um governo que quer se promover em cima da educação. São tantas as “cagadas” desse governo desastroso que nem dá para enumerar. Como não bastassem os três Paraguaios que apareceram nos mapas de Geografia, ainda temos que conviver com questões mal formuladas e algumas emendadas umas nas outras, sem espaço para o aluno responder. Questões totalmente desconexas e fora da realidade do aluno, um material duvidoso e cheio de falhas. O professor não pode errar, mas nesse material, como são erros do governo não tem problema. Ainda tem diretor exigindo que o professor siga à risca o caderninho.

A municipalização do ensino tem gerado um bando de analfabetos. Na 5ª série e no 6º ano está difícil lecionar. Os alunos que vem do município, principalmente em Jandira mal sabem escrever, e tem salas inteiras onde o professor tem que baixar o nível e usar estratégias milagrosas para tentar tirar leite de pedra. Nem fazendo como Moisés, batendo na rocha o professor é capaz de fazer jorrar água, ou seja, não existe mágica na educação, ou o aluno sai da 1º ao 5º ano preparado para enfrentar o restante do processo de ensino que o espera, ou então, estaremos dando murro em ponta de faca. São muitos os analfabetos no 6º ano e nas séries seguintes. Ambas adjacentes das prefeituras municipais, onde o cabide de emprego fala mais alto que a competência propriamente dita.

Apesar disso tudo, as mentiras vão continuar na TV: dois professores por sala de aula, material pedagógico de qualidade para todos os alunos, merenda escolar de primeira (omelete de ovo e arroz), bônus para todos os professores que trabalharem melhor, enfim, blá blá blá... Já estou perdendo a paciência com tantas mentiras, é como disse um poeta:

“Mentiram-me.Mentiram-me ontem

e hoje mentem novamente. Mentem

de corpo e alma, completamente.

E mentem de maneira tão pungente

que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes. Alegremente

mentem. Mentem tão nacional/mente

que acham que mentindo história afora

vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas

que mesmo um cego pode ver

a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.

Mas não se chega à verdade

pela mentira, nem à democracia

pela ditadura.”

Às vezes me pergunto: por que estou perdendo a esperança? Será que ainda vale a pena ser professor? Como resgatar aquela utopia de que o professor seria capaz de ajudar a mudar a nossa nação e que a educação seria uma grande revolução intelectual nesse país? Era isso que eu esperava há 17 anos de magistério. Estão acabando co m a minha esperança, estão acabando com as minhas utopias, estão matando o meu sonho enquanto subornam minha alma por uma ninharia chamada “bônus-mérito”. É assim que eles nos matam: primeiro matam a nossa alto-estima, matam os nossos sonhos, matam a nossa cultura, acabam com todas as chances de acreditar em alguma coisa, e depois dão o golpe fatal tirando de nós a liberdade de ensinar e impondo um currículo mal elaborado. É assim que agem os governos paulistas. Até quando a mentira irá triunfar?

"De tanto ver triunfar as nulidades,

de tanto ver prosperar a desonra,

de tanto ver crescer a injustiça,

de tanto ver agigantar-se os poderes

nas mãos dos maus;

o homem chega a desanimar da virtude,

a rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto."