Você conhece a ANFAVEA?
Fundada em 15 de maio de 1956, a Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores (ANFAVEA) tem o objetivo de proteger os fabricantes de veículos da ganancia dos consumidores brasileiros.
Deixando as brincadeiras de lado, a entidade na verdade tem o objetivo de traduzir a linguagem das diferentes empresas do setor para nossa língua. Me refiro à segunda língua, que nem toda a população fala, o corruptês.
Nós sabemos que os americanos, europeus e asiáticos são incorruptíveis sob qualquer circunstância, portanto eles têm um braço brasileiro para tratar de assuntos que ferem seu caráter.
Quase toda a diretoria da ANFAVEA é composta por brasileiros.
Agora vamos tratar de outro assunto, os cartéis.
“Cartel é um acordo explícito ou implícito entre empresas concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação ou, por meio da ação coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos, obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.”.
A Lei 8.137/1990, tipifica e penaliza a prática de crimes contra a Ordem Econômica, nos quais está inserido a formação de cartel.
Será que podemos dizer que no Brasil existe um cartel no setor automobilístico?
Se não, como se explica que todos os carros, considerando suas respectivas faixas de estilo, motorização, acabamento, etc. tem exatamente os mesmos preços para os vários fabricantes?
Se quisermos, por exemplo, comprar uma ridícula carrocinha um ponto nada, pagaremos mais de 30 mil Reais seja de que marca for.
Voltemos à ANFAVEA.
No período 2003-2006 os preços dos veículos novos subiram em media 50%, numa época de economia em expansão e Real valorizado, sem que órgãos do governo ou privados de defesa do consumidor se manifestassem. A industria de veículos expandiu sua produção para atender a febre de consumo incentivada pelo crédito fácil e prazo a perder de vista e mais tarde pela redução do IPI.
Evidentemente, como toda a população havia se tornado rica de uma hora para outra, ninguém se preocupou com a exploração que estava em vigor por parte dos fabricantes.
Recordemos que nesse período os fabricantes de veículos ficaram “na sua” e não fizeram nenhum agrado para os consumidores.
Essa farra durou até 2011-2012, quando os consumidores já estavam com a “corda no pescoço” em relação às dívidas e os bancos sem recursos para emprestar.
Apesar da redução dos juros que se iniciou nesse período, os bancos continuaram sem recursos para novos empréstimos, porque a taxa de inadimplência estava acima do esperado e assim os recursos não estavam retornando para serem usados em novos empréstimos.
Com o foco no aumento do PIB, que dá IBOPE para os governantes, o governo precisava aquecer a Economia. Mas, como fazer isso num país onde para consumir a população tem que financiar tudo, da casa até a escova de dentes? A resposta é … através de novos empréstimos. E qual foi o setor mais beneficiado? A resposta é … o setor automobilístico.
Como resultado das pressões feitas pela ANFAVEA, o BACEN decretou uma redução no compulsório dos depósitos a prazo dos bancos para liberar empréstimos exclusivamente para a compra de automóveis.
Existe uma ideia fixa dentro do Governo que há décadas, passa de administração para administração, segundo a qual o motor do crescimento da Economia está debaixo do capô dos veículos e os governantes não conseguem ver que esse motor está nos tratores que aram a terra e plantam.
Nossa força é a agricultura. Basta imaginarmos o número de pessoas e estruturas envolvidas no ciclo de produção que vai desde a aração da terra até a venda de milhares de produtos agrícolas in natura ou industrializados.
Mas, em terra de cego, habemos ANFAVEA.