PREFÁCIO do livro “A dinâmica da dívida externa brasileira (1964-2014): de devedor externo a credor internacional
O convite para fazer o prefácio desta obra deixou-me lisonjeada com a confiança em mim depositada pelos autores, para a nobre tarefa de apresentá-la a seus leitores. Também me ocorreu certo receio de não estar à altura dessa empreitada. No entanto, a lisonja sobrepôs-se e cá estou a me meter a rabequista. Felizmente conto com o carinho e o beneplácito de Joaquim Couto e Odirlei Dal Moro. Então, sem intenção de trocadilho, mãos à obra. Numa primeira aproximação ao texto, tive a satisfação de me deparar com o modo instigante, linear e acessível com que os autores buscam conduzir delicadamente o leitor, do começo ao fim do texto, como o mateiro que vai à frente abrindo a picada para os que se aventuram em mata desconhecida. Assim, sem prejuízo do rigor científico que perpassa toda a obra, os autores conseguem a façanha de aprisionar, por assim dizer, leigos e não leigos em Economia, do começo ao fim de suas 160 páginas numa leitura, ao mesmo tempo, prazerosa e proveitosa. De fato, já conhecia o estilo literário do Prof. Joaquim Couto da leitura de suas obras anteriores, especialmente a que se intitula “Industrialização, Meio Ambiente e Pobreza: o caso do município de Cubatão”, publicado em 2012, a qual nos transporta sem sobressaltos para a “história do parque industrial localizado na singela cidade de Cubatão (SP)”, numa empreitada exitosa em nos fazer compreender o “século industrial brasileiro”. O livro que agora apresento, intitulado “A dinâmica da dívida externa brasileira(1964-2014): de devedor externo para credor internacional”, dividido em cinco capítulos, além de uma introdução e das considerações finais, mostra o movimento da dívida externa brasileira, desde os meados da década de 1960, quando esta se tornou um problema a exigir medidas concretas de solução, sob pena de levar o país à bancarrota. Com efeito, o referido título resume com precisão o objetivo do texto, não obstante, o subtítulo bem se poderia chamar “o reverso da medalha”, pois é disto que se vai tratar. Ou seja, o agigantamento da dívida externa brasileira que colocou o país na condição de devedor internacional, e submeteu sua política econômica às determinações do Fundo Monetário Internacional; e de como a resolução deste problema permitiu ao Brasil dar a volta por cima e se tornar credor internacional, resgatando sua independência na condução da política econômica.Crítico mordaz da política econômica do primeiro governo Lula, conforme se constata em seu livro “O medo do crescimento: política econômica e dinâmica macroeconômica do primeiro governo Lula(2003-2006), publicado em 2010, em parceria com Ana Cristina Lima Couto, Joaquim Couto, profundo conhecedor da Economia Brasileira, neste novo livro, agora em parceria com seu orientado de pós-graduação, Dal Moro, debruçou-se sobre os dados de nossa dívida externa e valendo-se da Economia Política, analisou-os com maestria, à luz do contexto histórico conturbado. E como se desse “a mão à palmatória” reconheceu o mérito dos governos do ex- Presidente Lula, qual seja, o de resgatar o Brasil das garras do FMI, desatino em que se encontrava enredado, desde os idos de 1960 para enfim tomar nas próprias mãos o seu destino. É esse “reverso da medalha” que salta aos olhos no presente texto. Aqui vale lembrar, para a amargura dos contrários, a famosa expressão do ex- Presidente Lula: “Nunca dantes na história desse país...”. Abrindo o primeiro capítulo com a afirmação segundo a qual “o Brasil já nasceu endividado com o exterior”, os autores assim justificam o recorte histórico escolhido para a análise do seu objeto de estudo, a dívida externa brasileira: “... ao longo de sua história de país independente, o Brasil foi construindo sua dívida externa. Apesar de alguns problemas de pagamento dessa dívida e de certas renegociações com os credores externos, o volume da dívida externa nunca foi considerado gigantesco até a década de 1960”. A justificativa do referido recorte principia a narrativa dos fatos que delinearam o contexto econômico, social e político em que a dívida externa brasileira surge como objeto de análise, despertando a atenção de estudiosos e pesquisadores não apenas no âmbito da Ciência Econômica, mas da Ciência Política e das Ciências Sociais. Cada capítulo parece bastar-se a si mesmo, não fosse o objetivo primeiro do livro de responder a indagação levantada na Introdução, ou seja, “o que ocorreu na economia nacional e internacional para que o Brasil chegasse a esse estágio positivo de ser um credor internacional?”. É a busca dessa resposta que amarra os cinco capítulos e os torna dependentes uns dos outros.
A despeito deste primeiro objetivo o outro, secundário, perseguido com êxito pelos autores parece revestir-se de maior importância, pois ao desvendar a dinâmica do endividamento externo do país, os autores acabam por desvendar a dinâmica mesma da economia brasileira.
De fato, é a dinâmica da economia brasileira que se descortina da análise sobre o movimento percorrido pelo seu endividamento externo. Neste sentido também os autores estão de parabéns, pois atraem o leitor com uma questão específica, simples na aparência, para em seguida conduzi-lo com o devido cuidado pelos caminhos espinhosos da análise de nossa economia. É bem provável que se tornará este texto leitura obrigatória para os estudantes de Economia Brasileira. Por esta razão, finalizo este prefácio com uma expressão lugar comum, não obstante pertinente: leitura imperdível.