Sobra do Altíssimo?
Seita evangélica vem-se tornando exponencial atração com o novo quadro em que apresenta a chamada Sombra do Altíssimo. Com o salão apinhando de gente, certamente ardente, imerso no mais profundo breu, de repente, um feixe de luz intensa, lançado a partir do palco, percorre lentamente todo o auditório, e sempre em posição contrária ao movimento dos ponteiros do relógio, ou seja, da direita para a esquerda.
A cada movimentação do clarão, clamores, gritos, urros e choros vão sendo ouvidos, num crescendo de deixar no chinelo a mais retumbante ópera wagneriana, ou mais brasilianamente, uma super-balada em que Sidney Magal esteja presente. E tudo grito de fé, na esperança de que a sombra - no caso, parece-me seria mais apropriado dizer o clarão - do Senhor proporcione o tão esperado livramento. Das dores, das aflições, da doença, do vício e enfim, de todo tormento.
O Pastor oficiante, de pé no palco, justamente à fonte do foco de luminosidade, tem sua sombra projetada sobre a audiência, causando a viva impressão de que ele próprio, emissário, no Divino se transforma, dando-lhe humana forma e norma. E nessun dorma...
Finda a sessão, transmitem-se ao vivo os depoimentos dos milagres obrados pela Sombra do Altíssimo. Todos instantâneos, e dos mais variados possíveis. E altaneiro, o Altíssimo segue em paz, ciente, cioso e silencioso sobre o que deixou pra trás.