O livro de Karl: 150 anos de O Capital
O ano de 2017 marca duas efemérides na constituição do mundo contemporâneo: os 500 anos das 95 teses de Martinho Lutero e os 150 anos do lançamento de O Capital, de Karl Marx. Hoje nos ateremos ao segundo, deixando o primeiro para outubro.
“Nada mais fastidioso que o lugar-comum que se torna fantasia” – escreveu Marx na introdução de Contribuição à Crítica da Economia Política (1859). O Capital, continuação desse “livro esboço”, consiste num enorme tratado de Economia Política (1) que investigou e explicou a natureza e o funcionamento do “modo de produção capitalista”, com base na realidade inglesa, a fim de ultrapassar os “lugares-comuns” com os quais a filosofia e a economia liberais do período, via de regra, abordavam o assunto, criando “fantasias” teóricas sobre a realidade. Assim, as duas obras comungam do mesmo parágrafo inicial: “A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em imensa acumulação de mercadorias, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar dessa riqueza”. A partir desse ponto, a célula do capitalismo, o filósofo-político e economista alemão vai revelando-o até chegar a seu corpo, inteiro, em movimento, relação e processo.
É mister esclarecer que o que aqui se chama de “O Capital de Karl Marx” é o Livro I – O Processo de Produção do Capital, o único lançado pelo autor ainda em vida, em 14 de setembro de 1867 (2). Os livros II (O Processo de Circulação do Capital) e III (O Processo Global da Produção Capitalista) foram organizados e publicados por seu amigo e colaborador Friedrich Engels, com base nos manuscritos originais por ele deixados, respectivamente em 1885 e 1894. O Livro IV, Teorias da Mais-Valia, também constante no plano original de Marx, foi lançado somente em 1905, após a morte de Engels, pelo teórico socialista Karl Kautsky.
O fato é que O Capital influenciou enormemente o mundo contemporâneo, tornando-se instrumento teórico de grande parte da luta política do século XX. Não somente por isso, mas também por ser um estudo escrito do ponto de vista dos assalariados, ou seja, daqueles que vendem sua “força de trabalho” no processo de produção capitalista, desmistificando as formulações do pensamento econômico liberal (circunscrito à visão dos capitalistas) até então, o livro de Karl permanece, nos dias atuais, despertando intensas paixões e grandes ódios (3). Marx previu isso no prefácio da primeira edição: “Não foi róseo o colorido que dei às figuras do capitalista e do proprietário de terras. Mas, aqui, as pessoas só interessam na medida em que representam categorias econômicas, em que simbolizam relações de classe e interesses de classe”.
O Capital, eis sua atualidade, é ponto de partida para o estudo da economia capitalista sob a ótica de quem vive de salário, e sua leitura ainda pode lançar luzes, por exemplo, sobre as motivações econômicas e políticas de reformas como a previdenciária e trabalhista e leis como a da terceirização.
1 – Assim era denominada, à época, a Ciência Econômica.
2 – Em junho do ano passado, um raro exemplar da primeira edição de O Capital (foto acima), autografado por Marx em 18.09.1867 (foto abaixo), foi arrematado por mais de um milhão de reais num leião em Londres.
3 – A propósito, o filme O Jovem Marx, que aborda o período imediatamente anterior à publicação do Manifesto Comunista (1848) e tinha estreia prevista para junho no Brasil, até agora não chegou aos cinemas...
Texto publicado no jornal Portal de Notícias, versões onlinee impressa: http://www.portaldenotícias.com.br
O ano de 2017 marca duas efemérides na constituição do mundo contemporâneo: os 500 anos das 95 teses de Martinho Lutero e os 150 anos do lançamento de O Capital, de Karl Marx. Hoje nos ateremos ao segundo, deixando o primeiro para outubro.
“Nada mais fastidioso que o lugar-comum que se torna fantasia” – escreveu Marx na introdução de Contribuição à Crítica da Economia Política (1859). O Capital, continuação desse “livro esboço”, consiste num enorme tratado de Economia Política (1) que investigou e explicou a natureza e o funcionamento do “modo de produção capitalista”, com base na realidade inglesa, a fim de ultrapassar os “lugares-comuns” com os quais a filosofia e a economia liberais do período, via de regra, abordavam o assunto, criando “fantasias” teóricas sobre a realidade. Assim, as duas obras comungam do mesmo parágrafo inicial: “A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em imensa acumulação de mercadorias, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar dessa riqueza”. A partir desse ponto, a célula do capitalismo, o filósofo-político e economista alemão vai revelando-o até chegar a seu corpo, inteiro, em movimento, relação e processo.
É mister esclarecer que o que aqui se chama de “O Capital de Karl Marx” é o Livro I – O Processo de Produção do Capital, o único lançado pelo autor ainda em vida, em 14 de setembro de 1867 (2). Os livros II (O Processo de Circulação do Capital) e III (O Processo Global da Produção Capitalista) foram organizados e publicados por seu amigo e colaborador Friedrich Engels, com base nos manuscritos originais por ele deixados, respectivamente em 1885 e 1894. O Livro IV, Teorias da Mais-Valia, também constante no plano original de Marx, foi lançado somente em 1905, após a morte de Engels, pelo teórico socialista Karl Kautsky.
O fato é que O Capital influenciou enormemente o mundo contemporâneo, tornando-se instrumento teórico de grande parte da luta política do século XX. Não somente por isso, mas também por ser um estudo escrito do ponto de vista dos assalariados, ou seja, daqueles que vendem sua “força de trabalho” no processo de produção capitalista, desmistificando as formulações do pensamento econômico liberal (circunscrito à visão dos capitalistas) até então, o livro de Karl permanece, nos dias atuais, despertando intensas paixões e grandes ódios (3). Marx previu isso no prefácio da primeira edição: “Não foi róseo o colorido que dei às figuras do capitalista e do proprietário de terras. Mas, aqui, as pessoas só interessam na medida em que representam categorias econômicas, em que simbolizam relações de classe e interesses de classe”.
O Capital, eis sua atualidade, é ponto de partida para o estudo da economia capitalista sob a ótica de quem vive de salário, e sua leitura ainda pode lançar luzes, por exemplo, sobre as motivações econômicas e políticas de reformas como a previdenciária e trabalhista e leis como a da terceirização.
1 – Assim era denominada, à época, a Ciência Econômica.
2 – Em junho do ano passado, um raro exemplar da primeira edição de O Capital (foto acima), autografado por Marx em 18.09.1867 (foto abaixo), foi arrematado por mais de um milhão de reais num leião em Londres.
3 – A propósito, o filme O Jovem Marx, que aborda o período imediatamente anterior à publicação do Manifesto Comunista (1848) e tinha estreia prevista para junho no Brasil, até agora não chegou aos cinemas...
Texto publicado no jornal Portal de Notícias, versões onlinee impressa: http://www.portaldenotícias.com.br