Uma breve abordagem sobre o artigo do Professor Doutor Alexandre Schw... Sopa de Letrinhas (mais fácil assim), que recebi recentemente por e-mail.
 
Há muitos anos, tive uma passagem por esta academia, recebendo aulas de alguns professores "entendidos de tudo", os pais-de-santos tecnocratas que apontavam o futuro da economia brasileira e mundial. Nenhum deles foi tão sincero quanto o Professor Nilton Cano (FIA/USP):
"Isso aqui é uma selva, Burundi pós-atlântico, meu filho."
Acho muito engraçada a discussão do mercado cambial, o jogo que eles jogam, o grande escambo das moedas, com interesses cruzados e pouco divulgados. Depois que as coisas acontecem, os "explicadores" sempre derramam suas teorias. E todos já guardam, na gaveta, a contrateoria que explicará o inverso, a "mudança das tendências".
Em geral, os jogadores são grandes aproveitadores, e nada produzem, apenas visam o ganho financeiro, embarcando nas ondas especulativas que lhes interessam. Dinheiro-por-dinheiro-e-para-dinheiro-através-dele, parafraseando o genial escritor Ruben Nunes (e suas palavras compostas-nada-compostas). Não importa que moeda ou ativo financeiro vão usar.
Mais chocante é quando algumas ondas maldosas, interesseiras, às vezes desonestas, são chamadas de "mercado". Sabemos que os grandes players são os bancos. Eles têm suas carteiras, muitas vezes desbalanceadas.
E realizam atrocidades para resolvê-las. Eu, eventualmente, prefiro relevar os comentários técnicos.
Sinto falta da explicação sobre o jogo que foi jogado, os nomes dos principais jogadores que provocaram/iniciaram as "ondas" naquele dia, naquela semana. Acho que seria mais claro e elucidativo apontar quem ganhou e quem perdeu, quem mais influenciou o tal "mercado", antes mesmo dos pensadores exercitarem suas retóricas e emitirem comentários tão bem fundamentados sobre a "expectativa do futuro".
Algumas perguntas que não querem calar são: 
"Ativo-Dolar mais caro a quem interessa, neste exato momento?"
"Quem tinha Dolar aos montes, e continuou comprando, comprando...?"
"Com o reaquecimento da economia americana e o provável aumento da taxa de juros por lá, provocando o natural retorno de capitais para o seu mercado, de que adiantará mudar as bases da economia brasileira?"
"Será que o BC errou tanto assim ministrando a Aspirina?"
"Não seria melhor trocar o título para: Sim, nós temos ASPIRINA, o resto que se dane!!!"
Enfim, eis um assunto que me atrai, sobremaneira. Todavia, não consigo esconder meus pendores. Sou um adepto do niltoncanismo, desprovido de poderes premonitórios (berkeleyanos).
 

 

Aspirina
 
(Por Alexandre Schwartsman)

As medidas do BC para tentar frear a alta do dólar atacam as consequências, em vez das causas

Depois da disparada do dólar nas últimas semanas, quando veio de R$ 2,25 para R$ 2,45, o Banco Central anunciou um forte programa de intervenção por meio de dois mecanismos. Quatro vezes por semana oferecerá US$ 500 milhões nos mercados futuros e uma vez por semana oferecerá US$ 1 bilhão no mercado à vista, mas garantindo sua recompra em determinada data, totalizando cerca de US$ 55 bilhões até o fim de 2013. 
A questão é saber se esse volume considerável poderá reverter a perda de valor do real, em particular limitando os efeitos que o enfraquecimento da moeda costuma ter sobre a inflação. À primeira vista, a resposta parece ser positiva, visto que, após o anúncio, o dólar voltou ao patamar de R$ 2,35, quebrando a tendência de alta que parecia inexorável.
Eu, contudo, permaneço cético. Mais uma vez, parece-me que as medidas atacam consequências, em vez de causas, embora reconhecendo que, ao menos no que se refere a algumas das causas, há pouco que qualquer governo possa fazer. 
Cabe notar, em primeiro lugar, que o enfraquecimento da moeda nacional não é um privilégio brasileiro. De maneira geral, as moedas de países emergentes vêm sofrendo e, em alguns casos (África do Sul, Indonésia e, mais recentemente, a Índia), têm apresentado um desempenho não muito distinto do nosso. Esse padrão sugere uma causa comum, que, como se comenta, é a perspectiva de mudança da política do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). 
De fato, diante de sinais que a recuperação da economia norte-americana parece finalmente estar se firmando, o principal tema de discussão no Federal Reserve se refere à sequência de retirada dos estímulos monetários adotados desde o início da crise, começando pela redução do ritmo de compras de títulos (ainda um aumento na quantidade de dólares despejadas no sistema financeiro, embora a uma velocidade menor), passando pelo fim dessa política e culminando com o aumento das taxas de juros, medida que provavelmente só será adotada no final de 2014, se não mais tarde. 
Ainda que o aperto monetário só se dê em futuro não tão próximo, é da natureza dos mercados financeiros reagir imediatamente a notícias novas, e a perspectiva de aumento de juros nos Estados Unidos levou a um fortalecimento global do dólar. Os efeitos sobre cada moeda em particular, porém, não foram simétricos, e o Brasil se encontra entre aqueles que mais reagiram a essa mudança de expectativas. 
Parte desse movimento reflete o próprio tamanho do mercado de câmbio nacional, em que atuam praticamente todos os investidores em mercado emergentes, levando a movimentos naturalmente mais rápidos. Isso, porém, não parece esgotar o assunto. 
A proximidade do desempenho nacional ao observado em outras economias com vulnerabilidades sugere haver problemas locais que aumentam o efeito da valorização global do dólar. 
No caso do Brasil, essas questões abrangem desde o crescente deficit externo até temas como a piora das contas do governo e o baixo crescimento, cujos reflexos aparecem sob a forma de um apetite reduzido por investimentos aqui. 
A isso se soma o receio do investidor estrangeiro de ofertar dólares, dadas as frequentes mudanças de regras que prejudicaram vendedores de moeda estrangeira no passado recente. Temos assim uma situação em que o real perde valor, mas não há ofertantes de dólares para quem precisa se proteger da desvalorização. Mais que causa, esse é um sintoma do problema. 
As medidas anunciadas ajudam a atenuar o sintoma, mas, a bem da verdade, não tratam das causas globais (nem poderiam), muito menos dos fatores locais que magnificam o efeito internacional. 
Nesse aspecto, devem ter algum sucesso para evitar dinâmicas como a das últimas semanas, mas têm pouco poder contra a tendência mais geral de enfraquecimento do real. Tratar desse tema requer medidas duras que o governo não parece estar nada disposto a endereçar. 

 
Aluísio Azevedo Júnior
Enviado por Aluísio Azevedo Júnior em 06/09/2013
Reeditado em 06/09/2013
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