Na Era Das Baleias Azuis - republicado
“E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra no firmamento do céu. Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e todos os seres viventes que se arrastavam, os quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies; e toda ave que voa, segundo a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.” Livro de Gênesis 1:20, 1:21.
Desde que a humanidade existe ela almeja, através de suas lendas, mitos, religiões e mais recentemente, pela filosofia e política, um lugar especial na criação, ela pressupõe ser a entidade mais complexa e perfeita que já existiu nesse mundo. Porém, existem na Terra tesouros de grandeza inigualável que passam despercebidos pela maioria de nós.
A Terra existe a mais de 4 bilhões de anos e a vida se originou em nosso planeta a não menos de 2 bilhões de anos atrás. Durante todo esse tempo a vida evolui lenta e gradualmente, tomando conta de todos os espaços, se adaptando a cada meio e formando ecossistemas cada vez mais complexos. Na maior parte do tempo a vida proliferou e se diversificou pelos oceanos na forma de microorganismos unicelulares, como bactérias de vida livre e algas simples que realizavam a fotossíntese. Com o tempo outras diminutas formas de vida foram se desenvolvendo nos mares, parte desses seres existe até hoje é forma o que chamamos de plâncton.
Demorou muitos milhões de anos para que formas mais desenvolvidas surgissem e dominassem os mares, enquanto isso a terra seca permanecia um deserto hostil. Mas à medida que a atmosfera se enchia de oxigênio e uma camada protetora de ozônio se formava a vida pode ultrapassar esse último obstáculo e sair da água. Começava a conquista da terra firme.
Muitos animais incríveis surgiram e desapareceram durante eras incontáveis. A Terra abrigou durante a sua existência bilhões e bilhões de espécies de todos os tipos e mais de 99% delas já deixaram de existir. Todas ou evoluíram ou foram naturalmente extintas durante as várias mudanças pelas quais o planeta vem passando. Esse processo natural é longo e demorado, vem ocorrendo a centenas de milhões de anos, e é através dele que as formas de vida atingiram a diversidade incrível que conhecemos hoje.
De fato, a Terra é um imenso jardim do Éden. Da menor gota de água de uma lagoa a mais profunda pá de terra, podemos encontrar um número assombroso de pequenas criaturas. A vida também está presente nos desertos, resistindo às altas temperaturas e a falta de água, nos pólos, enfrentando o frio e a escuridão dos invernos, nas fossas oceânicas, onde as altas pressões não impedem que formas de vida proliferem junto a fontes vulcânicas.
O mundo também foi abençoado com florestas imensas e cheias de vida, destacando-se a Amazônia, o último jardim do mundo, e a Mata Atlântica, que hoje é apenas uma lembrança do que foi um dia.
E há ainda o mar, onde tudo começou. E é no mar onde está o motivo desde artigo ser escrito. O mar é o lar da baleia azul.
Como dito antes, a vida migrou da água para terra firme. Mas a evolução propiciou que muitas criaturas fizessem o caminho inverso, foi o que aconteceu com o pingüim, a tartaruga marinha e um grande número de mamíferos, como focas, leões marinhos, golfinhos e baleias, esses dois últimos abandonaram para sempre a vida na superfície e passam toda sua existência no oceano. Baleias e golfinhos tem cérebros altamente desenvolvidos, e são esses cérebros, e não os nossos, as estruturas mais complexas conhecidas.
Além disso, a baleia azul é o animal mais magnífico que alguma fez já existiu sobre a Terra. Nem o maior dos dinossauros se comparava a ela. Baleias azuis podem chegar a mais de 30 metros de comprimento e pesar 180 toneladas. E ela sustenta toda essa massa se alimentado do minúsculo krill, minúsculo camarão que é um dos menores animais do oceano, que por sua vez se alimenta do plâncton que forma a base do ecossistema marinho. O gigantesco depende do invisível!
O ser humano tem o privilégio de viver na mesma era desse monstro pacífico, o que considero uma grande dádiva. Mas o que temos feito com essa dádiva? Nós a destruímos. No início do século XX a caça as baleis azuis fez seu número cair de mais 300 mil para pouco mais de 3 mil nos dias atuais. A criatura mais majestosa que já existiu, e que não nos faz mal algum, sofre para sobreviver no mundo dominado pelos “Homo sapiens”. Hoje a caça a essas animais está praticamente proibida, mas agora elas sofrem com outra ameaça: a destruição de seu lar. Os oceanos, berço da vida, estão sendo sistematicamente poluídos por nossos resíduos de sociedade de consumo. Além disso, o aquecimento global vem elevando a temperatura dos oceanos alterando sua salinidade e sua capacidade de disolver oxigênio, isso tem impacto significativo sobre o fitoplâncton, formada por algas microscópicas e responsável pela maior parte da produção do oxigênio de nossa atmosfera. O plâncton, alicerce de toda vida marinha, vem se reduzindo ano a ano, gerando uma reação em cascata que vai culminar na extinção da maioria das espécies marinhas. Primeiro haverá o fim da pesca, depois o fim da vida marinha, antes disso talvez nosso próprio fim, mas antes de tudo isso ainda o virá o fim das baleias azuis.
Às vezes me imagino no futuro distante, com meus netos ou bisnetos, contemplando a foto de um grande e majestoso animal de nadadeiras imensas que expelia jatos de água e explicando a eles que esse era o maior animal que já existiu, mas que infelizmente foi extinto. Talvez eles me perguntem se esse animal viveu na época dos dinossauros, e eu responderei que não, ele viveu na era da mais terrível das criaturas, o homem. Que isso nunca aconteça.
Enquanto isso, eu tento aproveitar o presente de estar nesse mundo de natureza abençoada e agradeço por viver na era das baleias azuis