Meio ambiente, fraternidade e a vida no planeta terra.
Por: Manoel Messias Pereira
Brilhantemente, a Igreja Católica, na voz da CNBB, chama a atenção da sociedade para a necessidade de que todas as pessoas se mobilizem e se envolvam na temática da conservação e preservação ambiental, enfatizando, na chamada da Campanha da Fraternidade deste ano, 2011, a importância da vida no planeta e como a natureza tem sofrido com as dores causadas pela ação humana.
A discussão acerca da relação do homem com o meio ambiente ganhou importância em meado do século XX, quando se entendeu que o desenvolvimento tecnológico e o crescimento econômico, “intitulado de desenvolvimento”, precisava estar associado, necessariamente, à preocupação com a questão ambiental, para se garantir sustentabilidade à vida no planeta.
Até hoje, muito se tem discutido, muito se tem legislado, as Constituições pós-modernas tem dado relevância ao tema (a exemplo da Constituição Brasileira de 1988, que no seu art. 225, caput, assim prescreve: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”) , uma série de organismos estatais e não governamentais tem sido criados, para dar formatação orgânica e viabilizar os debates em todos os espaços, mas na prática os resultados ainda não são aqueles de que a natureza precisa, ou seja, uma coisa é saber que a natureza precisa ser tratada com respeito, outra coisa é tratar a natureza com o respeito que ela necessita e merece.
No ambiente urbano, o crescimento desenfreado e as medidas adotadas para garantir o conforto de alguns e a sobrevivência de outros, bem assim para viabilizar a satisfação econômica de uma sociedade de consumo, cria todas as condicionantes adversas a uma natureza limpa e saudável, seja com a poluição do ar, seja com a poluição da água, seja com a poluição sonora, e assim por diante.
No campo a realidade não muito diferente, o homem desfigura e desestrutura o ambiente com desmatamentos, queimadas, assoreamento e lançamento de dejetos nos mananciais, agressão à fauna, chegando ao ponto de provocar a extinção de diversas espécies, tudo em nome da produção econômica, seja ela em larga escala ou em nível de subsistência.
Nem sempre a ação humana de agressão à natureza é realizada deliberadamente, na maioria dos casos sim, mas em alguns casos não, pode decorrer da luta pela sobrevivência, sem que se tenha o conhecimento necessário e uma consciência desenvolvida sobre as conseqüências dos atos praticados, sobretudo para as gerações futuras.
A questão é tão grave que agora avança para o campo religioso e quiçá através da fé, envolvendo o nome de Deus, as pessoas possam se tornar um pouco mais sensíveis, um pouco mais conscientes, e, se os cristãos se apegarem à causa com o mesmo afinco que praticam o cristianismo, muitas condutas serão melhoradas, muitos conceitos serão revistos e muitas práticas serão reformuladas, levando a mãe natureza a agradecer enormemente por tudo.
As escrituras sagradas chamam a nossa atenção para o fato de que “a criação sofre com dores de parto”. Lembrando que a constatação externada pelo escritor do texto bíblico foi feita a quase dois mil anos atrás, num ambiente em que quase todas as atividades do homem eram desenvolvidas de forma rústica e com um nível de poluição insignificante em comparação com a nossa realidade atual. Imaginemos, pois, a medida do sofrimento da natureza hoje!
O tema da relação do homem com o meio ambiente foi preocupação de diversos escritores da bíblia, já naqueles tempos, alertando a sociedade para a importância de uma vida sustentável no planeta, orientada pela preservação e pela conservação da natureza.
Vejamos algumas dessas recomendações:
Gênesis 2:15 Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Édem para o lavrar e guardar.
Coríntios 4:2 “Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel.”
Apocalipse 11:18 Iraram-se, na verdade, as nações; então veio a tua ira, e o tempo de serem julgados os mortos, e o tempo de dares recompensa aos teus servos, os profetas, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra.
Romanos 8:19-22 Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus. Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora.
Observando-se, atentamente, os textos bíblicos supracitados é fácil verificar que em Gênesis 2:15 a idéia posta é de que o homem deve utilizar a terra para a produção, sem, contudo, esquecer de preservar e conservar o meio ambiente onde ele vive e produz; já o texto do apóstolo Paulo, contido em Coríntios 4:2, define o homem como um fiel guardador das coisas da natureza, logo não poderia depredá-la, e, portanto, será cobrado por isso; o texto de João, contido em Apocalipse 11:18, alerta, de forma clara, a humanidade, para o fato de que os males que o homem causar à natureza gerarão conseqüências graves para o próprio homem, naturalmente recaídas sobre as suas gerações futuras, essa profecia já está sendo cumprida, nós já estamos vendo a natureza reagindo de forma violenta e destruindo impiedosamente, em vários pontos do planeta, conforme profetiza o texto bíblico; em Romanos 8:19-22, a constatação é de que tendo sido a terra sujeita à nossa vaidade, por um desígnio de Deus, Este esperando uma correspondente racional do homem para com a terra, o que não ocorreu, sofre ela e “geme com dores de parto”.
Censo comum, ciência ou religião, pouco importa a mentalidade, o fato é que a humanidade precisa lidar com a natureza de forma racional, o que não vem acontecendo, sob pena de que num determinado momento o preço a pagar por estes atos irracionais seja alto demais.
Nesse sentido, a reflexão proposta pela CNBB vem em boa hora e é de uma relevância imensurável, devendo cada um de nós, religioso ou não, refletir, participar da construção de uma consciência coletiva pela sustentabilidade, sobretudo, mudar a nossa prática em relação ao meio ambiente, começando pelas práticas mais simples, como deixar de jogar o lixo na rua, por exemplo, até, quem sabe, chegar à adoção de medidas como a reciclagem permanente ou até à defesa comum e sistemática da flora, da fauna e dos mananciais, tudo em prol da vida no planeta terra.
Não esqueçamos de que dentre os oito objetivos do milênio ou “oito jeitos de mudar o mundo”, pauta definida pela Organização das Nações Unidas, na Assembléia Geral do Milênio, na cidade de Nova Yorque (EUA), em setembro de 2000, com a participação de representantes de 191 países, para ser efetivada até 2015, objetivos esses expressos na Declaração do Milênio (da qual o Brasil é signatário) e perseguidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, está firmado o compromisso de “GARANTIR A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL”, é o 7º Objetivo do Milênio. Não há dúvida de que a mãe natureza ficar-nos-ia muito grata se fizéssemos por onde tal acontecesse.
Manoel Messias Pereira, professor, licenciado
em História e bacharelando em Direito.