A COMUNIDADE DO MURUTINGA SOB OLHAR POÉTICO
(Como vejo minha amada Terra)
O campo é um lugar de diversidades culturais, naturais e religiosa que abrange sentimentos e memórias de acontecimentos passados que se fazem presente na história. Histórias de lutas e resistências de um povo que, há muito, vem lutando em busca de seus direitos e valorização do povo campesino. Brasil (2007) destaca um modelo escravocrata adotado pelos próprios brasileiros _ cujo este, foi utilizado pelos portugueses para colonizar o Brasil_, a fim de explorar os proprietários de terra e trabalhadores rurais gerando, assim, um forte preconceito aos povos do campo.
Na busca incessante de demonstrar o valor do campo, quebrando esse preconceito para conosco, busquei retratar um pouco a comunidade camponesa denominada MURUTINGA; trazendo um breve relato de sua história de fundação, bem como suas culturas e belezas naturais que nos encantam diariamente, a partir de uma visão poética que expressa a alegria de ser do campo e o amor pela terra onde nasci e cresci.
Entre encantos e recantos de beleza é minha terra amada. Com belos igarapés rodeados de mata ciliar, que surpreende quem aqui vem nos visitar. Terra de pessoas alegres e trabalhadoras, que na labuta do dia sustentam seu lar.
Entre culturas, belezas naturais, diversidade religiosa e memórias se faz a comunidade do Murutinga, onde sua história de fundação nos leva á uma sintonia com o passado, como uma viagem no tempo relembrando e imaginando os acontecimentos, no qual até quem não viveu esse tempo sente a vibração das misturas de sentimentos ao ouvir, os mais antigos, a história contar.
Já dizia Lê Goff (1992) que “o passado ao mesmo tempo é passado e presente”, assim escrevo esse breve relato para fazer-lhe presente no passado do Murutinga:
Tendo origem indígena, o nome Murutinga deveu-se a um homem (índio) de aparência forte e bravo que se chamava Murutinga, no qual, tal características era uma solução para que as crianças não fizessem travessuras, pois quando não se comportavam, os pais diziam: “Vou te levar para o Murutinga!”, deixando-as amedrontadas. Assim, ficando a fama do nome, veio ser denominada a respectiva comunidade.
Porém, antes do nome atual _ tendo a comunidade passado por mudanças de nomes por volta de 1800_, a localidade chamava-se Vila Maratauíra em alusão às famílias das ilhas de Abaetetuba povoar no local. A comunidade começou com aproximadamente seis famílias e foi aumentando os moradores no decorrer do tempo.
Adotando como padroeiro o Arcanjo São Miguel, foi criada a comunidade católica São Miguel de Murutinga fundada em 1970 por dois jovens irmãos (homem/mulher), que foram capacitados por padres da época. Assim, sendo este um valor cultural, a festividade inicia-se, anualmente, com aproximadamente 45 novenas em homenagem ao santo padroeiro da comunidade, onde se realiza o círio a cada segundo domingo do mês de setembro, sendo prolongado com a festividade até o terceiro domingo do mesmo mês.
Em misturas de sentimentos, este povo expressa sua fé em cada detalhe das organizações da festividade, que vai deste a construção das ramadas do arraial, da decoração da imagem de São Miguel até às realizações das novenas e círio. Para este povo, este momento é de muita emoção, pois traduz o espírito de religiosidade católica dessa comunidade rural do município de Abaetetuba.
Com o aumento da população, foram surgindo outros grupos religiosos e assim, se instalando outras igrejas, sendo elas: Igreja Adventista do Sétimo Dia que também vem realizando grandes evangelismos, levando cada vez mais pessoas ao batismo, e confessando e aceitando Jesus publicamente; e a Igreja Assembleia de Deus que também, com suas missões, alcançam pessoas através do evangelho.
Essa é a diversidade religiosa, em que cada um expressa sua fé de diferentes formas; cada um trazendo consigo uma maneira de tocar outros corações.
Murutinga, comunidade camponesa, no qual cada um com seu jeito de trabalhar levam o alimento à sua mesa. Uns são professores, outros trabalham em empresas privadas; há os que são cabeleireiros, costureiras e padeiros, e dentre outras atividades, há também os agricultores, que por amor a terra plantam e colhem diversas culturas.
Tem cultura de açaí, mandioca, pimenta-do-reino, cupuaçu e maracujá, milho, maxixe, acerola, coco e ingá, mamão, pupunha, manga, urucum e piquiá, e muitas outras plantas que o povo gosta de saborear, que serve para as vendas no local ou na cidade, e também para o consumo familiar.
Vê-se um povo trabalhador que luta sem cessar, dia após dia carrega suas ferramentas de trabalho e vai pra roça realizar seus afazeres. Carrega enxada, terçado, carrinho-de-mão, carrega seus sonhos que os move para superar a labuta diária; pois, apesar do cansaço, o amor pela terra, o amor por sua cultura fala mais alto, já que faz parte de nossa vida, de nossa raíz, sendo de onde extraímos recursos para nossa subsistência.
Em recursos hídricos, a comunidade usufrui de belos igarapés, onde as crianças brincam e se banham sem se preocupar. As famílias se reúnem para realizar momentos especiais, seus lazeres divertidos com as visitas também de amigos que admiram das belezas que a natureza transborda, através dos verdes da mata ciliar.
Essa é a comunidade de Murutinga, que está localizada na Rodovia PA 151 km 55, na estrada de Igarapé-Miri, fazendo parte do município de Abaetetuba. Estes são frutos de outros trabalhos já realizados em outras disciplinas no curso de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará - Campus de Abaetetuba; dentre eles, o trabalho intitulado “PATRIMÔNIO CULTURAL INTANGÍVEL: A Festividade de São Miguel de Murutinga”, no qual retratei neste trabalho um breve histórico da comunidade e relatos sobre a cultura religiosa da comunidade católica.
Utilizando pesquisas de vários trabalhos acadêmicos que realizei, mesclei pontos das pesquisas que considerei útil para a realização deste pequeno trabalho, sobre as belezas do campo sob olhar poético, no qual busquei retratar “Como eu vejo minha amada terra”.
Referências
BRASIL. Educação no Campo: diferenças mudando paradgmas. Brasília: MEC, 2007>
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1992.
MACHADO, Jorge M. Terras da Abaetetuba. Câmara Municipal de Abaetetuba. 1986.
Poesia:
Como vejo minha amada Terra
Deise Ribeiro (A Poeta Camponesa)
Vejo minha Terra exalando seu verde
Da mata que cerca a minha paixão
E protege as águas que banho e pesco
Trazendo alegria ao meu coração
Vejo o agricultor na labuta do dia
Plantando e colhendo o que saborear
Carregando seus sonhos com as ferramentas
Que os fazem, alegre, as tarefas terminar
Vejo também a diversidade religiosa
Com diferentes formas da fé expressar
Cada um com sua missão
Às outras pessoas, o evangelho levar
Vejo que minha amada Terra
Traz emoções ao meu coração
Que me inspiram a fazer poesias
Demonstrando a sua valorização.