OS INCOMPETENTES: EXPOSTOS À DESTRUIÇÃO

A máxima racional aconselha: devemos estar juntos em todo o momento e circunstância. Amar ao semelhante é lição do evangelista cristão coroada de aplausos há mais de dois mil anos. Nada de deixar o semelhante sozinho. Sejamos também a flor para que o orvalho possa beijá-la nestas manhãs ao Sul, de longas invernias, não é mesmo?

Neste ano da graça de 2020, no meu singelo modo de ver, nos últimos cem anos, em nenhum outro momento a humanidade refletiu tanto sobre a precariedade dos compromissos quotidianos, na avaliação comparativa entre os viventes bem e mal aquinhoados, especialmente quanto aos idosos e seus filhos, e a sobrevivência destes e de sua prole, tendo-se, no mínimo, olhos capazes de enxergar a humanidade corporalmente sadia para com o futuro.

Não sabemos, em verdade, se o tal de novo Corona Vírus é emissário do bem ou do mal, mas que está cumprindo a sua missão junto ao humano ser parece-me indiscutível, ao menos para os praticantes espiritualistas.

Quanto à possível praticidade metodológica, aplica-se, em projeção metafórica, o aforismo helenista que andarilha e trespassa, em latim o território da Ibéria, chegando até o nosso idioma: "Si vis pacem, para bellum". Sim, traduzindo: se queres a paz, prepara-te para a guerra ou, em ação finalística, se queres a paz, prepara a guerra. Para tanto, entenda-se: o necessário é preparar-se para a guerra, estar preparado para uma guerra, ou preparar uma guerra. Este o sábio aforismo de raiz estratégica e verve militar ainda hoje seguido pelas nações; ressalte-se: aquelas que procuram fortalecer-se a fim de evitar uma eventual e/ou esperável agressão.

Bem, vejamos, nos dias atuais o adversário monumental é um espécime de raiz virótica: o Covid-19. A ação benfazeja oponível seria o preparo dos profissionais da medicina e enfermagem; a instalação tecnológica da rede hospitalar e o impostergável zelo para que estejam em condições de bem cumprir a (sua) sanidade psíquico-corporal e a proteção da saúde dos brasileiros, em caráter de universalidade decorrente da constituição-cidadã de 1988 como direito subjetivo público de todos os residentes no território nacional.

Não é o SUS o melhor sistema protetivo da saúde dos brasileiros, segundo a maioria dos doutos propositores dos cânones científicos? Enfim, é o que a mídia passa para o latente paciente.

O contribuinte brasileiro que recebe salário-mínimo, todavia, amealha nas precárias algibeiras a verba necessária para tal preparação destinada ao efetivo enfrentamento de quem ou do que nos ameaça com tal sofreguidão e velocidade destruidoras? Tem salário digno para sobreviver e pagar os descontos previdenciários de modo a que não faltem os alimentos à mesa dos excluídos? E os mais de dezoito milhões de desempregados como ficam?

Somos, todos, autoridades governamentais, empresariado e o povo formador de opinião, incompetentes em anonimato?

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/2020.

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