A importância da Arte em tempos de Pandemia

Crescemos rodeados de arte. Fazemos arte em casa, estudamos arte na escola. Mas afinal de contas, o que é arte?

De acordo com uma das inúmeras classificações do Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, a arte é “A criatividade humana que, sem intenções práticas, representa as experiências individuais ou coletivas, por meio de uma interpretação ou impressão sensorial, emocional, afetiva, estética etc”.

Para além da dicionarização do verbete, existem ainda outros seguimentos classificatórios para a arte, bem como os de cunho social, cultural, psicológico e científico. Pablo Picasso, ciente da sua contemporaneidade, disse que “Não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte.” De fato, a arte retrata de maneira fidedigna os mais diversos contextos históricos da humanidade ao longo do tempo.

Pestes, desolações, guerras, caçadas e transições: a arte sempre esteve lá, manifestando-se através do presente e dando-nos a possibilidade de conhecer a vida por meio da subjetividade.

E assim tem sido. A arte que também é entendida como uma atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, se realiza por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, escultura, desenho, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema, em suas mais variadas combinações.

Falar sobre arte é circundar todas as esferas da vida. Além do caráter estético, a arte possui a função social de trazer a expressão como o reflexo da essência humana. Nietzsche diz que “a arte existe para que a nossa realidade não nos destrua”, e mesmo dois séculos após essa colocação tão precisa, nunca foi tão atual. O mundo enfrenta uma pandemia caótica. Fomos pegos desprevenidos por um inimigo silencioso e onipresente, uma antítese do que se conhece por divino. Um vírus que parou pessoas frenéticas numa escala global.

De maneira abrupta o mundo pôs o pé no freio. Os bares e shoppings encerraram suas atividades presenciais, as aglomerações foram substancialmente suspensas até segunda ordem. Foi oferecido à população um confinamento não opcional. E de uma hora para outra as relações sociais se ressignificaram. O presságio da interação virtual atingiu-nos com uma força meteórica, adiantando processos tecnológicos que já se encontravam em curso. Abraços calorosos foram substituídos por “videochamadas”. Os shows presenciais deram lugar às “lives”. Uma avalanche da acessibilidade digital: educação remota, “homework”, aplicativos, redes sociais, distanciamentos e angústias.

Protagonizar a narrativa de uma pandemia real e histórica nunca foi tão desconcertante. As pessoas começaram a reinventar o cenário cotidiano. A tecnologia tem sido aliada aos dias de quarentena. Serviços de “streaming”, leitura, pintura, crochê etc., tem sido tão essenciais quanto comer, dormir e tomar banho.

O isolamento trouxe consigo dias difíceis. Frente ao medo da morte, da perda, do enfrentamento à crise financeira e das privações presentes e futuras, a arte aliada à tecnologia envolve-nos em processos de entretenimento, distração e na criação de novas experiências, trazendo leveza ao ócio do dia a dia. Há diversos registros na história acerca da arte em tempos de crise. Retratada em forma de afrescos, quadros, telas, poesias e composições, ela sempre esteve presente em cada parágrafo da narrativa histórica que trazemos na bagagem da memória.

A arte como alento também foi utilizada por Nise da Silveira, médica que humanizou os tratamentos psiquiátricos no Brasil. Nise desenvolveu a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente por pinturas produzidas pelos pacientes “loucos” e mal assistidos pelas autoridades sociais e médicas. A produção artística de alguns deles ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação. É imprescindível a necessidade da arte na preservação da saúde mental.

Em tempos de pandemia, a arte tem sido fundamental. Sim, a arte! Aquela prima “pobre” da família, tão desvalorizada e renegada. Prostituída na clandestinidade do anonimato, privada das condições básicas de sobrevivência. Ser artista no país é desafiador. Levantar a bandeira da arte é um ato de compaixão. A pandemia da COVID-19 nos fez perceber que sobrevivemos, ainda que com saudades, à falta de restaurantes, viagens e lojas, mas é inimaginável conceber um confinamento sem as nossas músicas preferidas, nossas predileções cinematográficas, sem nossas leituras prazerosas e sem a representação da arte em suas múltiplas nuances.

A arte é coletiva, criativa e desenvolve habilidades. O advento dessa arte me trouxe até aqui. Em tempos de pandemia a arte serve para todos o que já servia antes do caos: ajudar a lidar com nossos pensamentos, sentimentos e realidade. Ela serve para nos divertir, exercitar a coletividade, aprender coisas novas, para expressar a identidade cultural de um povo e sobretudo, para desenvolver nossa empatia. A arte é a expressão da vida.

Lívia Couto
Enviado por Lívia Couto em 13/05/2020
Reeditado em 01/02/2021
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