Agora: a relevância do instante superior

Agora: a relevância do instante superior

Marcel Franco Lopes

Resumo: O mundo está cada vez mais exaltando o “tempo enxuto”. Quanto menor o tempo gasto em quaisquer atividades, maior o rendimento profissional e demais benefícios socioeconômicos e políticos da nação.

No mundo contemporâneo, “piscar de olhos” é o código verbal que resume precisamente as normas, condutas e procedimentos nas esferas políticas e econômicas. É preciso ter maior volume de produção, volume de vendas e mercados fidelizados em troca de lucros, possibilidades de investimento, mesmo que haja riscos por maiores que sejam.

Vive-se em uma “bolha” temporal em que se constata uma “quebra” ideológica da temporalidade, isto é, não se abstrai as lições do passado e não se pensa nas consequências futuras. Do ponto de vista moral “civil”, trata-se de uma atitude egoísta. Do socioeconômico, um risco latente demais para tentar arcar. O mundo contemporâneo está isolado em sua exaltação da peça temporal mais curta, porém, determinante do processo existencial, o agora.

Dessa forma, tem-se todas as esferas de sua vida direcionadas às melhores condições nesse espaço de tempo. Os outros, são esquivados. Hoje, esse instante, é o que está sobreposto na questão de importância. De fato, aspectos comportamentais são os maiores requisitos para mensurar o sucesso ou não de pessoas, produtos, empresas, países e, inclusive, sistemas políticos.

Ao longo do tempo, vários são os exemplos que podem ser usados para demonstrar o quanto é determinante a postura comportamental, independente da posição hierárquica, essencialmente, hoje em dia.

A dinâmica capitalista funciona na filosofia do “curto prazo”, como diz o título do artigo, o que importa é o agora, popularmente conhecido como “preciso das coisas para ontem”, sempre no atraso, prejuízo. Corrompe-se a excelência humana laboriosa, no que se refere aos detalhes, acabamentos, o viés artístico. Substitui-se por agilidade, eficiência e padrão. Dessa maneira, mantém-se a uniformidade da produção, possibilitando a expansão comercial à elevados níveis.

O conceito de “Modernidade líquida” implantado pelo teórico Zygmunt Baumann, delimita muito bem essa realidade. Em uma perspectiva de se evitar o desperdício do bem mais valioso, o tempo, desperdiça-se outras características que podem ser substituídas e omitidas pela eficiência da produção automatizada.