O Papel da Mulher na História.

Sabendo que o debate atual sobre os direitos das mulheres é aflorado e renhido, o qual busca respostas, irei compartilhar aqui fragmentos de um artigo longo que compilei em minha árdua luta no estudo visando entender em qual momento da história a mulher perdeu seus direitos e foi suprimida por uma sociedade patriarcal alicerçada a costumes, crenças e dogmas.

Eu amo as mulheres, as estudo, procuro entender seu poder, suas habilidades, seus trunfos, seu raciocínio milimetricamente difuso e complexo. A mulher fala muito mais que o homem, pois possui 30% mais de FOXP2, uma proteína que dá o desenvolvimento da linguagem e a capacidade gramatical e o fato da mulher se expressar mais que o homem é lindo, elas falam em média 20 mil palavras por dia, enquanto um homem chega a falar miseras 7 mil palavras.

"Uma mulher em harmonia com seu espírito é como um rio fluindo. Ela vai onde vai sem pretensão e chega ao seu destino para ser ela mesma e somente ela mesma."

- MAYA ANGELOU.

A mulher exercia um papel muito importante nas sociedades que sobreviviam da coleta e da caça de pequenos animais, um fato ignorado que explica tal afirmação é que não se necessitava de força física para a sobrevivência, então nessas sociedades as mulheres naturalmente possuíam um lugar central, fulcral, a mulher era o cerne da comunidade, o que é diminutamente lembrado. Alguns grupos até hoje sobrevivem da coleta, como os grupos primitivos Maoris, nessa cultura as mulheres são consideradas sagradas ainda hoje. A mulher possuía uma superioridade, a autora Muraro relata como era a ordem das coisas nos tempos remotos:

"Homens e mulheres viviam da coleta dos frutos das árvores e da caça aos animais miúdos. Os grupos eram muito pequenos e sentiam medo diante da natureza grandiosa e frequentemente hostil. Por isso, a lei que regia o comportamento desses grupos era a lei da solidariedade e da partilha [...].O homem não tinha conhecimento de seu papel na procriação e pensava que as mulheres pariam dos deuses; [...] e por isso eram prestigiadas e até os governavam, pois eram elas quem reproduzia a vida."

A diferença biológica que existe entre um homem e uma mulher se tornou um instrumento de uso sociológico para diminuir a importância da mulher perante o ser masculino. Seria essa diferença biológica a força física, o falo, a distinção na concepção e na formação e designação dos papeis dentro de uma sociedade.

Na opinião da maioria dos antropólogos, os estudos da pré-história foram escritos de forma um tanto “Masculus”, ou simploriamente de forma machista, relatando a narrativa pela perspectiva do homem de maneira hegemônica causando certa invisibilidade ao sexo oposto. Na sociedade de caça aos grandes animais, em que a força física é essencial foi aí que se iniciou então a supremacia masculina, o que muito tempo depois no Ocidente seria conhecido como Falocentrismo.

A construção cultural do papel que a mulher desempenha na sociedade, em tese, a área do estudo de mulheres tem a missão de impulsionar o debate sobre o lugar da mulher com elementos narrativos. A análise aqui pretende discorrer sobre muito do que os arquivos mais tradicionais da história minimizaram e ignoraram no que concerne a relatos sobre as mulheres.

“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os oprimidos”, essa afirmação de Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo de 1949, considera que a complacência do sexo feminino com a hierarquia de gênero fortaleceu durante muito tempo a desigualdade em que a sociedade sustentou e preserva até hoje, custou muitos séculos até que as mulheres reagissem à dominação, a relação de poder construiu as diferenças, como o conceito de Joan Scott define: “gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos” (1990, p.86)

“gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder”.

Tendo dito isto, este estudo questiona: Quais os aspectos são determinantes no apelo pela conscientização da luta da mulher por seu espaço nos dias de hoje?

Quando olhamos para o passado percebemos que a ambivalência e a desigualdade de gênero se instauraram devido à distribuição de funções sociais, credos religiosos e costumes arcaicos que delegaram ao homem a função de provedor, enquanto a mulher foi delegado o encargo de cuidar apenas da casa e dos filhos, mas nem sempre foi assim. Veja uma cultura da antiguidade:

Voltando um pouco no tempo, até o antigo Egito (Kemet), é possível encontrar uma civilização que dava espaço a participação da mulher na sociedade, concedendo o direito de exercer a formação em diversas áreas da ciência como a física, a matemática, a arquitetura, a medicina e a administração. As mulheres não eram completamente oprimidas no Egito, elas usufruíam de vários direitos, como o direito de freqüentar as escolas de medicina tanto quanto os homens, o que em outras culturas da época era inviável. As mulheres se especializavam principalmente em obstetrícia e contracepção.

“Desde o início dos tempos, mulheres sábias colhiam ervas e faziam infusões, davam os cuidados do dia a dia que eram quase que toda a ajuda disponível para os doentes até dois séculos atrás. Elas banhavam os artríticos e manipulavam suas articulações, acompanhavam as mulheres grávidas e faziam seus partos. Uma vez que a maioria dos remédios era ineficaz há até cerca de cem anos, pode-se dizer que a maior parte da medicina prática estava na mão das mulheres.”

Ian Carr (Women in Healing and the Medical Profession, 2004)

A mulher egípcia tinha seus direitos assegurados e também deveres com seu circulo familiar, cuidavam de todos a sua volta (filhos, marido e servos), todas as profissões eram abertas as mulheres, desde musicistas, tecelãs, e mestres em cervejaria, algumas alcançaram destaque chegando até ao posto de Faraó. Uma das figuras femininas de maior destaque da civilização egípcia foi Merit Ptah, mulher que auferiu o sucesso sendo a primeira médica que se tem registro na história.

Há discrepância entre as diversas culturas antigas, enquanto no Egito as mulheres participavam abertamente do funcionamento da sociedade, tendo os mesmos direitos que os homens nos tribunais. Não se poderá dizer a mesma coisa da civilização grega que compreendia outra forma de enxergar o lugar da mulher na conjuntura social.

A civilização grega mesmo se sobressaindo em desenvolvimento cultural, intelectual, militar, político e sendo reconhecida como o berço da democracia, era uma civilização extremamente avessa a idéia de emancipação da mulher, Salles (1987) afirma que as mulheres eram divididas em três tipos: as esposas que ficavam restritas ao lar, cuidando do espaço familiar, eram proibidas de ter contato com outros homens e tinham a função de gerar filhos. As concubinas eram encarregadas de ajudar suas senhoras nas tarefas diárias, eram servas, escravas. Havia também as prostitutas, que não tinham proteção alguma da sociedade.

As mulheres não podiam estudar na Grécia, era proibido legalmente, não tinham direito a educação formal, apenas homens estudavam e podiam ter influencia na política. As mulheres não eram consideradas cidadãs, um reflexo da cultura patriarcal dominadora que inferiorizava a importância da mulher deixou resquícios na nossa cultura ocidental atual.

Apesar da democracia Ateniense, que previa direitos iguais para todos os cidadãos, as mulheres eram excluídas e não possuíam nenhuma autonomia, os homens era portadores da autoridade sobre as mulheres, fossem eles pai, irmão ou marido, isso era lei.

As mulheres estavam inseridas em um estatuto social que se dividia em três fases durante a vida: Parthenos, Nymphê e Gynê. A mulher quando criança era parthenos, podia participar das atividades sociais como qualquer criança, podia brincar livremente pelos jardins, ruas e bosques, o que configurava uma igualdade com meninos.

Quando a menina amadurecia e agora adolescente, se tornava nymphê, era a fase em que ela se preparava para o casamento (entre 12 e 14 anos). Nesse estágio aconteciam as relações políticas entre as famílias.

Após se casar, a mulher e tornava gynê que significava assumir os cuidados pela sua casa e seus afazeres, a mulher era separada em uma área da casa conhecida como gineceu e só podia sair na rua acompanhada por escravos, jamais sair sozinha.

A lenda de Agnodice do Século IV a.C. reforça essa questão de que as mulheres não podiam freqüentar as escolas, observando que Agnodice para realizar seu sonho de ser médica precisou se disfarçar de homem para poder estudar medicina. Anos mais tarde já exercendo a profissão, atendia as mulheres e realizava partos, mas desmascarada, pelos seus colegas, médicos todos homens, se tornou o centro de uma revolução das mulheres para adquirirem o direito de estudar.

Observemos a relutância masculina no que tange a independência da mulher na Grécia de forma incisiva em 360 d.C., a sociedade via com espanto um possível influxo feminino, um possível destaque e se revoltava com o crescimento da importância da mulher, como aconteceu com a primeira matemática da história, Hipátia de Alexandria, que lecionava filosofia na academia de Atenas, foi assassinada por um grupo de cristãos enfurecidos por não aceitarem sua influencia política.

Na concepção filosófica grega a mulher era vista como um símbolo frágil pronto a proporcionar prazer físico e a servir o homem, o que as impedia de atingir a plenitude da razão.

A MULHER ENFRENTANDO A REPRESSÃO NA HISTORIA

As diferenças entre os sexos, as diferenças de atitudes, credos, a diferença de comunicação deixa claro que a mulher despertava certo abalo na submissão e no poder que o homem sempre impôs socialmente, isso soava como uma ameaça a hegemonia masculina, foi preciso então reprimendas para diminuir as instâncias da mulher.

A virilidade (“…) é uma noção eminentemente relacional, construída diante dos outros homens, para os outros homens e contra a feminilidade, por uma espécie de medo do feminino, e construída, primeiramente, dentro de si mesmo.” (BOURDIEU, A dominação masculina, p.79)

O homem e a imponência cultural colocaram o masculino e o feminino em lados opostos e assimétricos, o primeiro julga-se hierarquicamente superior, o segundo se tornou violentado e amordaçado estruturalmente:

...sempre vi na dominação masculina, e no modo como é imposta e vivenciada, o exemplo por excelência desta submissão paradoxal, resultante daquilo que eu chamo de violência simbólica, violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento. Essa relação social extraordinariamente ordinária oferece também uma ocasião única de apreender a lógica da dominação.. – P. BOURDIEU (1999)

Precisamos expor algumas reflexões aqui que nos faça enxergar que a forma que vivemos e nos comportamos hoje não é por acaso, não é coincidência, tudo faz parte de uma conjunção de fatores que construíram a mentalidade patriarcal e se algo não for feito essa mentalidade continuará se estendendo por muito mais tempo.

Na Roma antiga a repressão era um estigma relacionado a mulheres, acabou se tornando um comportamento vicioso na sociedade que de forma impiedosa coibiu a mulher até os dias de hoje.

Em 18 a.C. Augusto o Imperador promulgou a lei que definia o adultério, Leges Juliae; (Lex Julia de Adulteriis), o que tornou o adultério um crime a ser julgado fora do âmbito privado, mas público em um tribunal, e o que nos chama atenção é que somente seria um adultério a coabitação entre uma mulher casada (matrona) e um homem que não fosse seu conjuge, ou seja, as mulheres eram os “objetos” a serem fiscalizadas, só as mulheres eram recriminadas e consideradas culpadas pelo adultério, o homem pelo contrario, era livre para ter muitas mulheres fora do casamento (prostitutas), o alvo da lei eram apenas as mulheres, o que de certa forma constitui um lastro de dominação sobre o sexo feminino como o mais frágil e dava direito ao homem ter relações extraconjugais.

O ser feminino, era visto como uma espécie de propriedade particular, a mulher era extremamente submissa e censurada, o sentimento de posse é ancestral do homem. Esse modelo de pensamento corroborou para o fortalecimento da raiz desigual, o pressuposto moral de liberdade do homem e repressão a mulher, tal qual “o homem pode fazer determinada ação porque é homem, mulher não pode por ser mulher”.

A autora Muraro comenta os papeis do homem e da mulher em relação à tradição judaico cristão que explica a vida após a expulsão do paraíso:

“A dominação do homem pelo homem e do homem sobre a mulher, que são as duas características essenciais do patriarcado, acrescida da dominação do homem sobre a terra, já estão santificadas. São então santificadas todas as cisões: 1) a cisão dentro do homem entre sexualidade e afeto, conhecimento e emoção. O conhecimento é colocado como causa da transgressão, porque de agora em diante ele vai ser o motor que vai fazer funcionar todo o sistema; 2)a cisão homem/homem – é essencial ao patriarcado a santificação da dominação de uns homens pelo outros, por que com isso se torna “natural” a escravidão(...); 3) cisão homem/mulher, com a consequente cisão público/privado. Esta cisão é essencial também porque a opressão da mulher é o que torna todas as outras possíveis; 4)a cisão homem/natureza, que é a base do cultivo da terra com instrumentos pesados.” (1992, p.74)

Quando partimos da linha de raciocínio traçada na pesquisa bibliográfica, pautada na analise dos fatos históricos, somos apresentados a um totalitarismo masculino se provendo de governar a mulher e instituí-la como um símbolo, um objeto que tem por função corresponder com a demanda cultural baseada na diferença de gênero.

As mulheres foram consideradas por séculos como bens em poder dos homens, a sociedade cimentada nos dogmas e costumes ditatoriais foi vital na idéia de “totalitarismo masculino”, vemos resquícios disso até hoje ora na moda internacional, ora na vida rural interiorana, a primeira vertente estipulando que as mulheres estejam sempre belas e magras, desejáveis e a segunda vertente impondo que sejam do lar e façam de tudo para contentar seus respectivos “donos”. O que desvenda discriminação e tentativa de impor deliberadamente o que a mulher deve ser e fazer desde a antiguidade.

A persistência na discriminação contra a mulher aborda um panorama sobre as raízes da sociedade, é cultural. Às vezes de forma sutil vemos descriminações desde frases clichês atuais “Lugar de mulher é cozinha” (Em A Mística Feminina de 1963, Betty Friedan constatou que o fato da mulher não poder escolher seu próprio caminho e permanecer confinada a cuidar do lar é uma espécie de campo de concentração confortável), mas como tudo se constrói pela cultura temos de assimilar que até mesmo em narrativas históricas da origem de povos contém traços culturais de minoração feminina.

Tomemos por exemplo traços de repressão sexual cultural na mitologia de origem do Japão, quando Izanami toma iniciativa e elogia Izanagi (casal criador) depois de se casarem e coabitarem o primeiro filho que lhes nasce é um monstro, o casal pede explicação aos deuses e eles informam que a iniciativa do encontro sexual teria que partir de Izanagi o homem e não de Izanami por isso nasceu-lhes um monstro.

Observemos que o fato contrastante é que a mulher não tinha autonomia para ter a iniciativa sexual, esse era o papel do homem estabelecido pelos deuses, a sociedade tinha a força de delegar superioridade ao homem se apoiando no mantra da mitologia.

Em relação à repressão a sexualidade feminina é algo que foi reforçado quando diz respeito à cultura, tudo o que diz respeito à genitália e prazer feminino foram silenciados, abafados, impedido de se conversar, algo que se tornou envergonhado, emudecido.

Nos países africanos ainda hoje existe com raízes profundas a cultura da infibulação, Clitoridectomia, uma prática de desigualdade de gênero, com objetivo claro de controlar a sexualidade da mulher alicerçado nas idéias de pureza, modéstia, método criado dois milênios antes de Cristo no Sudão.

A Clitoridectomia também conhecida como Mutilação Genital Feminina (MGT) como uma ação hedionda teve um efeito repressor exponencial na vida das mulheres, o esforço para tirar a autonomia da mulher, o prazer, reduzindo-a apenas a reprodução, por séculos o prazer foi algo de recriminação e apontado como algo impuro e até maligno. A humilhação, a vergonha, o sentimento de impotência, a depressão que costuma envolver o procedimento de retirada do clitóris praticado em 28 dos países da África e no Oriente Médio.

No Século XVII, um renomado ginecologista e obstetra inglês chamado Isaac Baker Brown era um fervoroso opositor do prazer feminino, era extremamente contra a mulher tocar seu próprio corpo, segundo a quadrinista Liv Stromquist na obra Vulvas VS. O Patriarcado; ele alegava que a remoção do clitóris implicava na cura da histeria e da dor de cabeça das mulheres, na visão do ginecologista o prazer poderia acarretar doenças. Mas tudo não passava de uma desculpa para que as mulheres não pedissem o divórcio.

Agostinho de Hipona proliferou como hecatombe seu pensamento de que o corpo da mulher seria a antítese do Divino, ora, a mulher seria a portadora da tentação, rotulando o sexo feminino como pecaminoso e sujo uma vez disseminada essa idéia, alçou ainda mais a discriminação ao prazer da mulher, o que pesou na disseminação da vergonha no ato de ter prazer e inibiu o contato da mulher com seu próprio corpo.

A Caça as bruxas:

Dentre as diversas reprimendas que as mulheres enfrentaram na história, chama-nos atenção o período da Inquisição na idade média, quando se propagou a idéia do clitóris ser uma marca do Diabo e as mulheres consideradas “bruxas” eram julgadas e examinadas, os carrascos tinham permissão para verificar as partes intimas das acusadas e às vezes expor ao público a genitália.

O prazer feminino sempre foi visto como vergonhoso e se tornou motivo de “combate”, a liberdade da mulher e a motivação ao prazer se tornou algo a ser combatido. Nos dias de hoje a opressão a mulher é observada na reprimenda a roupa pode parecer simples, mas são gestos brutais, a mulher deve ser “comportada”, se não é motivo justo ser exposta, afinal está se mostrando com roupas curtas, um pensamento herdado dos muitos episódios de ataques a liberdade da mulher na idade média, a mulher deveria cobrir totalmente o corpo, não podia se deixar olhar por causa de um pensamento misógino era vista no corpo feminino o pecado, a luxúria e a transgressão.

Com a repressão a mulher foi impedida de ter contato e conhecimento sobre seu próprio corpo, sobre seu próprio prazer, o qual a sociedade fez disso um tabu. As violações ao direito de escolha da mulher não parou por aí.

A filha do Rei Dionatus da Inglaterra nascida por volta de 362 d.C, era uma jovem de beleza excepcional, chamada de Úrsula, uma personificação da beleza feminina, da delicadeza e da determinação da mulher, Úrsula prometera a Deus sua pureza, sua virgindade, como cristã, reclinou de muitos pedidos de casamento. Ao realizar uma peregrinação a Roma para consagrar seu voto a Deus, na volta dessa peregrinação sua comitiva foi sitiada por Hunos, o príncipe dos Hunos se apaixonou por Úrsula e quis tomá-la por esposa, a moça se negou, o rejeitou e resistiu a todas as tentativas dele, então o príncipe contrariado a matou com uma flechada. Úrsula foi considerada santa no calendário litúrgico.

Com Santa Úrsula enxergamos no passado o que atualmente tem sido o mote de discussões e debates, a imposição da força contra a mulher, o “feminicídio”. A vontade da mulher não era respeitada e nem sua voz ouvida, o que difere dos dias atuais é a luta árdua pela aceitação da voz da mulher.

A alternativa eficaz de dar voz a luta pela emancipação da mulher é rememorar a história no ponto de vista dos desafios que o sexo feminino enfrentou e continua enfrentando. As gerações atuais carecem de informação, carecem de fontes históricas que esclareçam como é importante a emancipação e o direito da mulher.

A ditadura sobre o corpo da mulher:

Se em momentos da história a repressão deteve a liberdade da mulher sobre seu corpo, em outros momentos o corpo da mulher foi exposto como objeto de satisfação ao homem.

No Renascimento europeu, um acessório “moldava” o corpo das mulheres, acessório esse instituído no seio da sociedade inglesa da época que pode ser interpretado como um instrumento sutil com perspectiva de enquadrar as mulheres a um padrão. Estamos falando do Corset.

O objetivo se olharmos de uma maneira mais simples servia para dar postura à mulher, no entanto, se analisarmos o costume e sua raiz simbólica, o Corset (espartilho) restringia os movimentos das mulheres e dava ainda mais aparência de fragilidade, vulnerabilidade e fraqueza, traduzindo um papel submisso-masoquista, uma peça do vestuário que por trás de todo o contexto da época que sugerem prisão, submissão, sujeição. Um fetichismo sexista.

Na China Imperial se deu origem uma prática estética, pela qual as mulheres chinesas eram reféns e acreditava-se que só por meio dessa prática poderia lograr um bom casamento, a prática dos Pés de Lótus.

Os Pés de Lótus foram parte cultural da China durante muito tempo, a prática evidenciava dois fatores de opressão a mulher; o primeiro fator infere na sociedade amplamente dominada pelo homem e a mulher dependia primeiramente do pai e depois do marido, a mulher vivia na busca por um bom casamento e dependia disso para viver. O passaporte para obter o casamento passava pelo segundo fator, se sujeitar a ter seus pés deformados para serem “aceitas” na comunidade, as mulheres chinesas acreditavam que com os pés de Lótus seriam muito amadas.

A VIRADA: CHEGOU O TEMPO DE DESPERTAR

“Ó mulher! Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?” (Olympe de Gouges, 1791) Esta frase é o reflexo do movimento que mudaria a configuração e a postura feminina e entoaria em alto e bom som a voz da mulher em sua luta.

Olympe de Gouges, a autora da frase a cima, pioneira do feminismo, revolucionou a luta pela emancipação da mulher, em instancias cruciais. Todos sabem que o evento mais importante para mudança da história foi a Revolução Francesa, ora, o impacto visceral que influenciou todos os aspectos da cultura Ocidental. Olympe de Gouges aparece nesse cenário, uma dramaturga abolicionista e feminista parte a luta em busca dos direitos das mulheres, ela denuncia a opressão sofrida, a falta de acesso a direitos políticos, em 1791 ela compôs e publicou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã.

A Revolução Francesa foi o momento de disrupção e virada, o momento que as mulheres avivadas pelo clamor de ser incluída na sociedade, Olympe clamava pela ascensão do sexo feminino e por seus direitos, denunciou os massacres da ditadura Jacobina, uma indagação perene do pensamento de Olympe era “Se as mulheres têm o direito a guilhotina, elas também tem o direito a tribuna”

Como todo o pilar virtuoso que se destaca em meio ao caos da coibição é alvo de reprimenda, Olympe foi vitima de seu protagonismo destemido e apaixonado, ao fomentar a luta do gênero oprimido em colisão com a masculinidade dominante dos lideres que a desaprovavam, homens poderosos como Maximilien Robespierre, não perdoaram sua ousadia ao questionar os “valores republicanos” e Olympe de Gouges foi condenada e guilhotinada em 3 de Novembro de 1793 na Praça da Concórdia.

No entanto, sacrifícios e esforços não foram em vão. Caminhos foram abertos, portões foram escancarados, o primeiro passo já havia sido dado, a pedra angular dos alicerces da liberdade da mulher havia sido colocada em seu lugar, porém a luta jamais acabará e a construção foi dura até chegar aqui.

As mulheres nobres, aculturadas, intelectuais, mulheres trabalhadoras, mães de família e anônimas dentre o povo se uniram no afã pelo fim da autoridade real, mas a necessidade verdadeira era participar, ser e sentir como cidadã, o que moveu um movimento radical de protesto contra a escassez e a alta no preço do pão na Marcha das Mulheres ao Palácio de Versalhes, comandadas por Théroigne de Méricourt, uma guerreira no sentido literal neste caso.

Théroigne de Méricourt conclamava suas compatriotas a tomar armas como os homens e lutar pela dignidade nacional, as parisienses pretendiam formar uma guarda feminina. A partir desses acontecimentos, observamos que as mulheres tomam o gosto pelas manifestações, a Revolução Francesa jogou luz sobre o papel da mulher na história e lhe rendeu a voz e a vez de participar ativamente com protestos no que resultaria um golpe duro ao paradigma social.

Na Inglaterra um movimento foi vital para a emancipação feminina, mesmo sendo uma nação regida por uma mulher, Rainha Vitória, havia injustiças e desigualdades, eis que surge então mais um ícone para hastear a bandeira do símbolo feminista reivindicando o direito da mulher votar, Emmeline Pankhurst em 1889 funda a Liga para o voto das mulheres, ela como líder foi fundamental no movimento sufragista, eleva e potencializa as chances de emancipação.

Entre os grandes feitos de Emmeline Pankhurst está à fundação do partido das mulheres em 1917, sua luta incansável foi um marco e o projeto de lei que garantia o direito de sufrágio à mulher foi aprovado algumas semanas após sua morte.

As mulheres sempre tiveram superpoderes, podemos perceber isso apenas agora, por tudo o que enfrentaram e ainda não tem status de maior parte de sua história rememorada é coisa de heroínas solitárias e não reconhecidas.

Eu fico por aqui com as palavras da Rainha Vermelha de "Alice através do Espelho" obra de Lewis Carroll que dizia: Você tem que correr o mais rápido que puder para permanecer no mesmo lugar, se você quiser ir a algum outro lugar terá que correr ao menos duas vezes mais rápido que isso" e é exatamente isso que as mulheres estão fazendo.

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 06/05/2019
Código do texto: T6640396
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