DESMISTIFICANDO O HERÓI TIRADENTES
DESMISTIFICANDO O HERÓI TIRADENTES
A 12 de novembro de 1746 nasce nos sertões de Minas Gerais, Joaquim José da Silva Xavier, posteriormente conhecido por “Tiradentes”. Oriundo de família de agricultores pobres, teve por padrinho o dentista Sebastião Ferreira Leitão que atuava na cidade hoje conhecida por Vila Rica.
Era usual naquela época o pai procurar um padrinho que fosse rico, sobremaneira em Minas e Nordeste. Uma vez que padrinho é o diminutivo de pai, na falta dos pais o padrinho é que se encarregava de criar o afilhado, ou na melhor das hipóteses cabia ao padrinho auxiliar, beneficiar seu afilhado de alguma forma. Na verdade era uma troca de favores, o padrinho por sua vez podia contar com o apoio político da família de seu compadre na formação de seu curral eleitoral, era um acordo moral.
Tiradentes ao atingir a idade de 10 anos fica órfão de mãe, dois anos depois morre o pai. Estando aos cuidados de seu benfeitor o menino ficava observando o dentista trabalhar, motivo pelo qual embora não tivesse freqüentado a escola regular, aprendeu ao menos extrair os dentes das pessoas, motivo pelo qual deu origem a sua alcunha.
Saltando para sua fase adulta, Tiradentes era um homem alto, magro esguio, tentou várias atribuições como minerador, comerciante, garimpeiro, mascate, mas o fruto de seu trabalho resumia-se apenas em fracasso. Recebeu como “presente” de seu padrinho uma tropa de burros para trabalhar como tropeiro, o fato se repetiu da mesma forma que nas outras atividades, acabou por perder os animais.
Por estar sem opção aos 30 anos de idade em 1776 alista-se na Tropa de Capitania de Minas Gerais, era uma corporação formada por soldados portugueses e brasileiros. Na cavalaria chegou ao posto de alferes, equivalente ao de sargento nos dias atuais. Estando descontente por falta de promoção findou por conhecer pessoas que estavam descontentes com a forma de a coroa portuguesa administrar o Brasil.
Enquanto outros tomavam precauções ao tecer comentários em público, Tiradentes apregoava abertamente contra a exploração que Portugal impunha aos brasileiros. Devido ao seu descontentamento Tiradentes em 1787 pediu licença da corporação de cavalaria. Morou uns tempos no Rio e retornou para Vila Rica.
Com a escassez do ouro, sobretudo os ricos deixaram de pagar seus impostos, dessa forma todos estavam devendo muito ouro para a coroa portuguesa. Foi escolhido como governador Geral da província de Minas Gerais Luís Antonio Furtado de Mendonça (Visconde de Barbacena) encarregado de cobrar os impostos devidos pelos brasileiros. Por essa atitude em 1788 os inconfidentes começam a se articular.
Foi decretado que o dia da Derrama os que não pagassem “o quinto” 20% de imposto teria de cobrir com suas posses a diferença que faltava, Portugal estava exigindo 15 arrobas de ouro, isto é 225 quilos do metal.
Pessoas ricas e influentes da região como fazendeiros, escritores, poetas, advogados, médicos, intelectuais, garimpeiros, comerciantes, militares de alta patente, o alto clero passaram a se reunir na casa dos revoltosos e tramar contra a decisão arbitrária da rainha de Portugal D. Maria I ( a Louca). Segundo os inconfidentes eles desejavam apenas a independência da capitania de Minas Gerais para não mais pagar esse pesado tributo. Embora Tiradentes fosse uma pessoa sem expressão no meio dos poderosos, foi aceito no grupo devido a sua indignação com a coroa portuguesa; o fato de ser impetuoso não o coloca como líder da revolta. Um numero considerável de filhos de famílias abastadas iam estudar em universidades européias, em seu regresso ao Brasil esses jovens passaram a ser influenciados pelas idéias iluministas, que nasce na Itália se propaga pela Europa e desemboca na Revolução Francesa, as idéias iluministas encontra respaldo e reforço com a declaração de independência das 13 colônias americanas em 4 de julho de 1776
Os ricos haviam articulado no dia que fosse decretado a Derrama eles iriam agir, planejavam sair as ruas gritando a palavra de ordem “independência” acreditando que fossem ganhar o apoio popular, inclusive assassinar o governador e tomar o poder. No grupo estava inserido um oficial do regimento por nome de José Silvério dos Reis, ele delatou os demais integrantes do grupo em troca do perdão de sua divida.
No dia 15 de março ocorreu a delação e a 10 de maio de 1789 Tiradentes foi encontrado em seu esconderijo e preso. Novamente delatado pólo mesmo traidor. De acordo com o relato dos que efetuaram sua prisão, apesar dele estar munido com arma de fogo, optou por não disparar e foi encontrado oculto debaixo de uma cama no sótão da casa de Domingos Fernandes, amigo da tia de Alvarenga Peixoto, dona Inácia. Após a prisão de Tiradentes as demais foram efetuadas.
No decurso das investigações perceberam que os envolvidos eram pessoas de prestígio, influentes e de elevado poder aquisitivo, motivo pelo qual foram aplicadas penas mais brandas, ao passo que para Tiradentes foi determinada a pena capital por enforcamento. Em suma alguém tinha de servir de bode expiatório, Tiradentes foi escolhido apenas pelo crime de ser pobre e ingênuo.
Resumindo os fatos, a denominada Inconfidência Mineira, de nada tinha de nobre de seu, foi apenas um movimento em que os pobres deveriam lutar e morrer para defender os interesses dos ricos, isso comprova que a história é recorrente nas suas finalidades. Digo que nada tinha de nobre justamente por desejar apenas vir de encontro aos interesses de uma elite mesquinha, avarenta e acima de tudo egoísta. A Inconfidência Mineira não lutava pela independência do Brasil, por uma distribuição mais equitativa da renda, pelo progresso do Brasil e acima de tudo muito menos pela libertação dos escravos, sendo eles em sua maioria proprietários de uma senzala muito bem abastecida.
Joaquim José da Silva Xavier, se no início acreditava estar lutando por uma causa nobre, somente em 21 de abril de 1792 se deu conta de que apenas foi usado para satisfazer as necessidades de uma elite sem pudor. Ao sentir o laço da forca em seu pescoço, se deu conta que havia lutado por uma causa com reflexo pífio para a nação, seu sonho de liberdade morreu com ele.
Quase um século transcorreu, para ser mais exato 97 anos Tiradentes foi totalmente esquecido por todos, quando o Marechal Deodoro da Fonseca deu um golpe militar e destronou D. Pedro II em 15 de novembro de 1889, pondo fim a monarquia e instaurando a República. Convém ressaltar que as pessoas que influenciavam o imperador em suas decisões, isto é, mandavam no Brasil, se perpetuaram no poder durante a denominada Velha República que perpetuou até 1930 com um novo golpe dado por Getúlio Dorneles Vargas.
Ao destronar D. Pedro II, os envolvidos no golpe precisavam de um ícone, de um pseudo herói. Ignoraram que Tiradentes por ser militar não podia trazer o cabelo e barba comprida, outro detalhe os prisioneiros tinham cabelo e barba raspada para evitar a proliferação de piolhos e outras pragas. Para realçar a farsa “pintaram” um Tiradentes usando uma túnica branca e uma longa barba, fazendo alusão a Jesus Cristo, dessa forma Joaquim José da Silva Xavier, serviu como símbolo de uma vergonhosa república, sendo usado pelos poderosos até depois de morto a quase um século.
Por ocasião do golpe militar de 1964, da mesma forma os militares precisavam de uma iconografia e, novamente Tiradentes foi usado, quando o Marechal Humberto de Alencar de Castelo Branco, através da lei Nº 4897 promulgada em 09 de dezembro de 1965, isto é, 173 anos após sua morte e completamente esquecimento, o dia 21 de abril é decretado como feriado em todo território nacional.
Com os fatos descritos acima, Tiradentes deve estar se revirando na cova