CRÍTICOS DE ARTE: A POLÊMICA
*Sineimar Reis
Desde quando entrei na faculdade de história, em 2010, não sabia muito bem o que iria encontrar lá na frente, pouco mais de cinco anos de formado. Mas um sentimento me foi certo: Durante o período superior, aprendi direitinho o que não gostaria de ser/fazer/usar/vivenciar. A função do historiador hoje não está sendo bem-vista, não só por mim, mas por quase 70% dos formados. Por exemplo, ao iniciar um assunto sobre a Ditadura civil-militar, origem a partir do golpe militar de 1964, encontramos, conspirações de caráter anticomunista contra políticos da oposição, apoio das elites empresariais, setores conservadores da Igreja católica, das camadas médias urbanas e dos grandes produtores rurais, supressão dos direitos políticos e civis e forte aparato repressor, certo que houve o milagre econômico, mas o mesmo a meu ver não promoveu igualdade social, entre em 1967 e 1973 a economia alcançou os mais altos índices de crescimentos econômico, PIB de 14% comparado, hoje somente com os da China, embora, o modelo econômico do regime pode ser compreendido pelas seguintes frases: "Primeiro, é preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo" e "Agora é a hora de apertar o cinto" É só saber compreender esta histórica frase, que você entenderá o processo ditatorial, posso estar causando encrenca ao iniciar este assunto, mas muita gente confunde isso elogiando a Ditadura no Brasil.
Escolhi duas profissões mais polêmicas, dos últimos anos, (sou graduado em história desde 2012 e graduado em Arte desde 2015), pois ultimamente temos vivenciado uma série de polêmicas. As notícias nos principais meios de comunicações sejam nos jornais, na televisão ou na internet bombam com temas e discussões que, pelo que eu me lembre, antigamente eram bem menos rumorosas. Desde pequeno, carrego lembranças tais como: cuidado com fulano, cuidado com ciclano, não se meta em confusões, com maconha, drogas etc.. Sempre levei isso com maturidade. Mais uma vez repito, Sei que estou caçando encrenca com esses assuntos. Me desculpem, mas esse excesso de “politicamente correto” já está passando dos limites. Hoje, temos que medir as palavras dez vezes antes de dizer e postar qualquer coisa no facebook. Sou formado em ARTE e sem querer me impor, eu não sou o dono da verdade e deixo claro aqui, não misture este texto com termo político de esquerda ou de direita, tenho amigos que defendem um dos dois lados, então este escrito não tem nada a ver com política, por favor se for fazer algum comentário não os misture em ternos de política, o próprio título já explica que é sobre críticos de arte, pois as relações vêm perdendo a espontaneidade. Afinal, vivemos sob lentes, sob “radares” que a todo momento querem nos denunciar. De quê? Sei lá, hoje qualquer coisa é motivo para polemizar.
Certa vez participei de uma seleção para o mestrado na UFMG e me deparei com a seguinte referência bibliográfica, Destinos Mistos. Os Críticos do Grupo Clima em São Paulo (1940 – 1968) de autoria da professora Heloisa Pontes, nos quais o grupo de intelectuais reunidos em torno da revista Clima acabou por ser reconhecido como herdeiro do modernismo. A professora Heloisa Pontes reconstrói a trajetória dos amigos entre os quais estavam, Antônio Candido, Décio de Almeida Prado, Gilda de Mello e Souza e Paulo Emilio Salles Gomes e demonstra como as afinidades entre eles, origens, leituras, lazer e projeto intelectual ajudou a moldar uma contribuição inestimável para o campo intelectual e artístico no Brasil. Destinos Mistos trata, como indica o subtítulo, dos "críticos de cultura" do Grupo Clima e da fundação de um novo modelo de autoridade no campo intelectual nacional. A revista, abordada no terceiro capítulo, aprofunda a análise da individualização dos críticos, de seus textos, dos enfrentamientos que cada um travou em suas frentes de ação, dos deslocamentos de posições estéticas e intelectuais que coletivamente geraram, mas não chega a ser trabalhada em seus contornos materiais como objeto editorial avaliável no contraste com outras publicações. As fotografias utilizadas evidenciam este viés. O leitor não chega a imaginar nem a capa de Clima, mas no ápice do livro observa os jovens enturmados, vestidos de terno, portando livros, jogando xadrez, cortejando-se, forjando seu esprit de corps em passeios públicos, de férias em Campos do Jordão, em jantares, e, já adultos, no Salão Nobre da Faculdade, em seus lares, sorridentes e seguros das posições ímpares que alcançaram a partir daquele experimento de juventude. A sociabilidade comum entre os membros vai condimentando a análise e revela os fundamentos sociais e intelectuais da gênese de um estilo único para entender as coisas de cultura, sensibilidade vigente na São Paulo dos anos 40 e validada como hegemônica no Brasil de décadas subsequentes. Numa mistura de audácia juvenil e petulância erudita, fundaram um novo código para falar do "movimento cultural" de sua cidade e do país. A partir deles o conceito de cultura no Brasil parece haver tomado uma nova direção. Aquele produto de estudantes, primeiro experimento coletivo emanado da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, investia sem temores contra as obras dos modernistas, relendo-as em "sistema" com contextos amplos, Estes sim, podemos chamar de críticos de arte, não uma mesa formada por idealizadores do MBL, (Movimento Brasil Livre). Pasmem! Sempre gosto de escrever meus textos sobre a atualidade no Brasil e os publico no site Recanto das Letras, mas para não gerar polêmicas diminuí um pouco a mesclar alguns assuntos, pois logo após publicar algumas histórias, aparecem sujeitos ameaçando com críticas não bem vindas aqui, entende? Pois é, a maluquice está à solta. Há exageros em tudo, tanto de um lado como do outro, seja na política, nos conceitos, na religião. Evito polemizar, respeitando opiniões contrárias, embora algumas, por excesso de radicalismo e chatice, mereçam ser deletadas das minhas redes sociais. Voltando às polêmicas, não poderia deixar de citar os dois últimos eventos artísticos, amplamente debatidos, com suas estrepitosas manifestações. Não sou expert em artes, apenas as contemplo, dou aulas seguindo os CBC’s e faço meus desenhos realistas com muito amor e dedicação. A primeira vez que tomei conhecimento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre, foi por meio do Facebook que observei na linha do tempo de forma bem negativa, ali, exposta como arte. Para mim a cena de estupro de uma cadela foi uma das coisas mais indignas já vistas. Mas tem quem goste, já que a intenção da tal arte é chocar mesmo. Na minha opinião, a exposição deveria ser mais explicativa, poderiam ser mais claros com relação a algumas das obras, como a situação de vulnerabilidade e sofrimento de animais que, na verdade, nem deveriam estar expostas.
E misturar crianças em insinuações de pedofilia, a meu ver, foi outro absurdo. Dizem que arte é feita para polemizar, incomodar, mostrar as pessoas que tudo tem duas faces. Ok, polemizem o que bem entenderem, mas não coloquem crianças como protagonistas. Na minha opinião estas galerias de artes deveriam colocar a classificação indicativa como nos filmes, quando vamos ao cinema, acho que crianças não devem participar de tais conceitos, são apenas crianças. Claro que na exposição, em meio a tantas obras, também existem coisas boas, que vale a pena serem vistas e aos críticos devemos saber discernir o que é arte e saber serem críticos. Sempre que posso, vou aos museus de arte, no entorno da praça da liberdade entre outros, por último agora visitei a exposição do CCBB-BH, “o corpo é a casa” de Erwin Wurn. Série de trabalhos onde o artista discute o corpo humano não apenas a partir do físico, mas também de suas camadas psicológicas e espirituais. Suas obras utilizam um deslocamento de elementos do cotidiano para o campo da arte, reconfigurando objetos familiares como casas, carros, roupas e alimentos para um contexto inesperado, engraçado e ao mesmo tempo crítico em relação à sociedade contemporânea. Esses elementos inanimados ganham vida orgânica, uma residência obesa, um vaso sanitário magro, uma salsicha cheia de personalidade, um carro acima do peso. Tirei uma foto no meio de um monte de Pepinos e tenho certeza se eu postar no facebook aparecerá os críticos elogiando ou “zuando” com meia página de jornal sem entender a função da obra do artista e, assim, os entendidos saem palpitando sobre as belezas das peças indecifráveis. Que me desculpem os críticos, mas não devo entender nada mesmo, pois, sinceramente, Bem-humorado, crítico e acessível, a despeito das leituras que sua obra permite, Wurm é, como não poderia deixar de ser, uma figura de destaque na cultura pop o austríaco questiona não apenas a compreensão sobra a escultura, mas também os valores da sociedade contemporânea através da apresentação de elementos do cotidiano sob novos aspectos. Antes inanimados, objetos comuns ganham vida orgânica. Por exemplo, na obra “Fat House” (Casa Gorda, em tradução literal), uma residência é expandida, distorcida e surge com duas toneladas.” Será que os críticos saberiam decifrar tais obras? Como geraram tais polêmicas? Lembro-me de um sujeito que quis fazer uma experiência. Pegou seus oclinho de leitura, já meio amassado de tanto uso, e jogou no chão do museu ao lado de outras obras. Afastou-se dos óculos e ficou observando. Em menos de meia hora já tinha “entendidos” tentando decifrar a “essência dos oclinhos” com direito a fotografias e tudo. Só rindo.
Pois é, aí me lembro do cara pelado no MAM… Li que o homem se colocava no lugar do “bicho”, da artista carioca Lygia Clark. O “bicho” original é uma peça de metal que pode ser manipulada pelas pessoas. Aí, em vez da peça, colocaram o homem. Agora, uma mãe levar sua filha, ainda criança, visivelmente constrangida, para acariciar a perna do “bicho”, foi sem noção demais. E a turma achou lindo.
Sem perder o foco da confraria intelectual, das experiências vividas pelas pessoas, dos eventos e circunstâncias com frequência inesperadas, a etnografia histórica os fios de um jogo profundo evoluem na compreensão de mitos e monumentos que, em seus fundamentos, deslocam os mecanismos de realidades culturais que a nós nos toca viver e nos compete transformar.
Se preparem, vem mais por aí. Este tipo de arte não me representa. Pois é, arte pura! Então tá.