Brumadiana
Em poética jocosidade, o Jorge Mendes Guerra Brasil, vate legítimo de nossa Velha Serrana, dedica uma página ao falar brumadense - que me faz lembrar papai, de imediato, e, praticamente a todos os seus conterrâneos, que chutaram poeira ou que amassaram barro naquele sacro solo de São Gonçalo do Brumado.
O ponto central da observação do Guerra Brasil é a questão - questã, na nossa falação - da letra L, pos-vocálica, que invariavelmente é pronunciada como R. Caso emblemático encontra-se até em nomes próprios, como, por exemplo o Nirso, a Darva, o Nirto, o Nivardo, o Zé Vidar...e não há como os evitar sem fazer a ponta da língua levitar.
E uma vez a língua sorta, num tem vorta. E o Jolge captura muito bem essa temática nos seus velsos...Por sinar, excersos...
Mas para além do L - à sorta - me ocorre aqui um veio - por sinal bem véio - a ser explorado: o próprio linguajar, palavras e expressões que eu tanto ouvi na minha infância passada no Brumado que, com o tempo - e o advento da globalizante e alienante TV - bota tudo pra fu...zuê.
Uma breve relação de palavras como suvertê, ispiculá, abiúdo, assungá,
barrê, trocê, inhante, caiá, barriá, aluí, catre, põe sintido, ispia só... pode nos dar uma noção da tarefa ingente - conquanto gratificante - de um filólogo que se dispusesse a dar um mergulho nesse nosso jeito de falar que após tanto resvalar, tanto tem a revelar.