Aleijadinho, um inconfidente?

Engraçado que Portugal considera a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, como uma das sete maravilhas de origem portuguesa pelo mundo. Obra de "brasileiros" como Aleijadinho e Mestre Ataíde.

Será que o vemos como brasileiros antes deles mesmos? Os inconfidentes, malograda a revolução, nos deixou mais que um mártir em forma de Cristo, mas também a ideia de que o Brasil já estava sendo pensado como algo diferente de Portugal.

O pai de Aleijadinho era um famoso arquiteto português e sua mãe escrava. Evidentemente que herdou do pai o estilo e a técnica. Se vermos igrejas portuguesas pelo mundo, datadas da época , encontramos muitas semelhanças.

Do domínio da técnica e estilo português, prosseguiu a invenção de uma maneira própria de ler o barroco e o legado artístico português. O apelo popular, na dramaticidade de suas peças, se conciliou ao domínio da técnica, que permite o artista submeter a técnica a sua estética ao invés de ver seu gosto tolhido pelo pouco domínio da técnica que avança copiando modelos consagrados e no domínio deste, fazendo a vontade seu próprio estilo.

Esta brasilidade, pensada objetivamente por alguns, sob o peso dos impostos e ingerências de Portugal, já se formava subjetivamente, captada pela sensibilidade artística, quase premonitória, se adiantando a ciência e muitas vezes à filosofia.

Em um contexto em que a crítica era sinal de traição, em que o bom senso e a justiça padecia diante do peso da opinião pública, dos preconceitos e impiedade daqueles que discriminam - traduziu na face do Cristo o sofrimento do abandono, da traição e de um mágoa profunda de quem já pressentia seu destino na crucifixão.

Revelou na face dos profetas a lembrança dos inconfidentes. Uma obra mal paga e oferecida a igreja do Bom Jesus de Matozinhos*.

A nossa história, pelo menos a contada pelos professores nas escolas básicas, é a história do que os vencedores fizeram com os vencidos.

Ainda que isto seja um avanço em relação às histórias dos reis e seus feitos, deixou de lado questões como nosso processo de formação cultural e de como os excluídos forjaram não só a riqueza de uma minoria como também tornaram possível o empreendimento português mais tarde chamado de Brasil.

*ver http://congonhas.tripod.com/polemica.html

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 01/08/2016
Código do texto: T5715233
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