HERON DOMINGUES
HERON DOMINGUES
Por Aderson Machado.
Tinha apenas dez anos de idade quando o mais famoso locutor do Repórter Esso, no rádio, deixou de apresentar esse noticioso. Foram 18 anos de apresentação, que começou em 1944 e terminou em 1962. Mas o Repórter Esso prosseguiu, desta feita na voz de Roberto Figueiredo – que está vivo, trabalhando em rádio, e com muita lucidez, é bom frisar.
Voltando a Heron Domingues, devo dizer que ainda me lembro, com muita nitidez, de suas narrações do Repórter Esso, apesar de ter apenas dez anos quando ele deixou o programa.
Por ter sido um dos maiores ícones da radiofonia jornalística do rádio brasileiro em todos os tempos, tive a curiosidade de fazer uma pesquisa na Internet a respeito desse grande locutor, e encontrei uma substanciosa matéria, a qual compartilho com você, amigo leitor, a partir do próximo parágrafo, lembrando ainda que no final voltarei com as minhas considerações finais.
Nascido em São Gabriel/RS, em 04/06/1924, Heron Domingues transformou-se no mais conhecido radialista do Brasil por acaso.
Aos 16 anos, Heron Domingues teve a ideia de ser cantor e foi participar de um concurso de calouros na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre. Era um domingo do mês de dezembro de 1941, dia escolhido pelos japoneses para bombardear Pearl Harbour, no Havaí. Na ausência do locutor da rádio, Domingues foi lançado às pressas aos microfones e deu a notícia em primeira mão. Não participou do concurso, mas saiu da rádio empregado.
Em 1944, mudou-se para o Rio e passou a trabalhar na Rádio Nacional, onde, no programa “Repórter Esso”, transmitia a informação “como se estivesse numa trincheira”, costumava dizer.
Heron Domingues apresentou o “Repórter Esso” por 18 anos. A propósito, ele mesmo relataria: “Trabalhei no Repórter Esso de 1944 a 1962, sem um dia de folga. Levantava-me às 06h45 e voltava para casa à 01h30 da madrugada. Nos períodos críticos, dormia na rádio, que tinha uma cama na redação.
Para se ter uma ideia da época conturbada em que vivíamos, no período em que fui locutor do Esso, houve no Brasil dez presidentes da República. Durante a guerra, dormia na Rádio Nacional com um fone no ouvido, diretamente ligado à UPI. Sempre que havia uma notícia importante, eles me despertavam, eu mesmo colocava a emissora no ar e transmitia a notícia. Para o fim da guerra, preparamos uma audição especial do Repórter Esso, em que a notícia seria dada fundida com o repicar de sinos. Com medo de me emocionar muito diante do microfone, gravei o início da transmissão: “Atenção! Atenção! Acabou a guerra.”
Acampado no estúdio da carioca Rádio Nacional, Heron Domingues, o Repórter Esso, aguardava, sôfrego, pelo telegrama que confirmaria o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945. Deveria fazer jus ao apelido a ele atribuído, o “primeiro a dar as últimas” e não arredaria pé da rádio até que anunciasse as boas novas. Após passar Natal, Ano-Novo e Páscoa em alerta, os colegas insistiam para que ele fosse descansar em casa. Aceitou o conselho a contra gosto e, para sua decepção, foi em casa que o radialista soube do fim do armistício, pela emissora concorrente. Para consolo, sua credibilidade ressoou: “Se o Repórter Esso ainda não deu, não deve ser verdade”, comentava-se pelo País. Só depois que empostou sua inconfundível voz ao microfone é que a notícia ganhou veracidade.
A notícia foi ao ar às 11h da manhã do dia 7 de maio de 1945. Heron era a própria testemunha ocular da história, do slogan utilizado pelo famoso jornal.
Em 1962, já no Rio, foi comentarista internacional de “A Imprensa” e de “A Noite”, redator da United Press e locutor dos jornais cinematográficos da Atlântida. Estagiou durante 3 anos nas grandes redes de TV americanas.
Uma das melhores vozes do rádio, quando transferiu-se para a televisão, fez um regime para perder 20 quilos, mudou o guarda-roupa e o corte do cabelo, tudo para aprimorar o visual.
Tinha o costume de ligar para as embaixadas a fim de confirmar a pronúncia de nomes estrangeiros e retificava os textos entregues pelos redatores para que ele os apresentasse.
Cinco notícias que lhe causaram maior emoção: o lançamento do 1º satélite artificial em órbita terrestre; o fim da II Guerra; a conquista pelo Brasil da Copa do Mundo de 1958; o lançamento da bomba atômica em Hiroshima e o suicídio do presidente Vargas que, segundo suas palavras, o levou às lágrimas. O jornalista faleceu aos 50 anos, em 09 de agosto de 1974.
Heron acreditava que a voz era uma dádiva de Deus e não se preocupava em preservá-la. Boêmio, ele bebia e fumava em excesso. Depois do expediente, era comum lotar a casa de amigos para notívagos bate-papos. Quando as visitas partiam, virava-se para a esposa, a jornalista Jacyra Domingues, e dizia: “Já faz muito tempo que estou em casa, vamos sair para dançar.”
Uma equipe médica estudou a voz do Domingues por dez anos e nenhuma alteração foi observada, um fenômeno. “Bebo e fumo em excesso”, disse ele. “Pois continue bebendo e fumando”, teriam lhe aconselhado os médicos.
Foi o 1º apresentador de TV, quando ingressou na TV Tupi, em 1961. Desde 1972, estava na TV Globo, eufórico para anunciar com exclusividade a renúncia do ex-presidente americano Richard Nixon, sem imaginar que seria seu último noticiário. Poucas horas depois, amigos acreditam que Domingues foi vencido pela emoção e por isso morreu dormindo, vítima de um ataque cardíaco, em 09 de agosto de 1974.
Eis aí, portanto, a história, em resumo, desse grande locutor do rádio e, posteriormente, da televisão brasileira.
Se não acompanhei toda a sua trajetória no rádio – apenas uma “pontinha” -, em compensação tive a oportunidade de vê-lo na TV Globo.
Inclusive assisti à sua última apresentação nessa emissora, quando ele anunciou a renúncia do ex-presidente Richard Nixon.