AMAZONAS – A NAÇÃO SAQUEADA
(parte I)
A terra abençoada do guerreiro Ajuricaba foi sitiada e tomada. A grande nação dos barés está agonizando, definhando e caminhando a passos acelerados rumo à extinção. O socorro deveria chegar dos artistas e dos poetas... Mas o que se ouve é o silêncio de servidão daqueles que estão encastelados e apodrecendo na falsa comodidade dos “imortais”.
Este momento histórico, triste e trágico, desse povo outrora aguerrido foi radiografado, sintetizado e imortalizado, pelo escritor/historiador manauara, Márcio Santana, no seu livro VINHO SEM RÓTULO “também como os primeiros donos habitantes dessa gloriosa terra, os nossos ANCESTRAIS, isso bem antes mesmo das nossas veias-feridas serem abertas bem lá no princípio nos Andes O GRANDE TOPACAMARU e sua língua arrancada e seu corpo destroçado e queimado e esquecido e aqui abaixo das cordilheiras não foi diferente o que fizeram com os MURAS e TARUMÃS, não, e os MANAÓS são uma gente triste e feia e covarde A GRANDE NAÇÃO DOCILIZADA E PACIFICADA E ABESTALHADA pelos bares e acostamentos das estradas que nos levam À GRANDE PRAIA QUE É UM DOS POSTAIS DA OCA e eu olho da vidraça desse ônibus AGORA cheio de tristeza e profundovazio não lembro exatamente aonde vou ALGUÉM LEMBRA AONDE VOU? O QUE SOU? ONDE ESTOU?”
Angustia e sufoca observar a servidão desse povo domesticado e acostumado que foram a se alimentar das migalhas que caem das mesas de seus deuses terrenos. Cantam e dançam “felizes” as suas toadas em três dias de festa, exaltando os seus deuses e senhores. Aqueles que chegaram de terras distantes e os visinhos. Hoje, o “grande” chefe descendente dos marajoaras coloca o povo e a todos de joelhos, dos caciques aos pagés aos ”sábios” que residem nas ocas da magistratura... Todos estão sob suas ordens e se curvam ao peso do seu chicote.
Aqui, quando chegamos, tem-se a impressão de existir um vácuo que nos impede a liberdade de nossos pensamentos e movimentos... Essa sensação foi, também, decifrada pelo escritor/historiador no seu VINHO SEM RÓTULO (...) “Girávamos em órbita de nossa própria influência cósmica de nosso círculo profético vernal, o olho do grande furacão e, quando a gente tá lá dentro do grande furacão não dá para sentir se estamos sendo sugados ou se sugamos estamos apenas dentro do GRANDE OLHO DE SUCÇÃO DE DEUS...”
Quero tanto acreditar que em breve, muito breve, essa gente adormecida se rebelará com o ímpeto guerreiro dos seus ancestrais. Porque, para eles, existem apenas três caminhos: a rebelião libertadora, a servidão ou a extinção.
Escritor e aprendiz de poeta