CULTURAS DE PAZ

É óbvio para qualquer pessoa, um pouco informada, que a humanidade ainda não conseguiu construir uma civilização predominantemente pacificada. Todos os dias as notícias nos dão conta de inúmeras violências. Violências que imaginávamos somente possíveis em povos nos tempos bárbaros. E de repente ocorrem fenômenos de violências extremas em países responsáveis pela distribuição dos mais destacados prêmios aos promotores da paz do mundo. É o que ocorreu recentemente na Noruega, país do Prêmio Nobel da Paz. Este país, como outros da região: Suécia, Escandinávia, Finlândia, são países com os mais baixos índices de violência no mundo. E, interessante, também com o menor número de policiais proporcionalmente à sua população em relação a outros países. Isto, inclusive, é um testemunho de que em nosso meio se alimenta uma mentalidade equivocada quando se trata do combate à violência. Os nossos políticos imaginam que a solução para a violência é o aumento do número de policiais nas ruas. Assim, segundo eles, quanto mais repressão, tanto menos violência! Claro, exige-se vigilância para inibir atos de violência. Talvez, até, os países com uma política de polícia desarmada sejam confiantes demais na bondade natural dos homens. Mesmo assim, estão certos quando entendem que a violência diminui na medida em que se solidificam as estruturas de verdade, justiça, liberdade, solidariedade e valores espirituais de seu povo. A violência repressiva só gera mais violência quando não se superam as hipocrisias sociais, econômicas e culturais. A força bruta não produz a paz. O cristianismo prega que o reino dos céus é dos promotores da paz, que a paz está com os homens de boa vontade, que não se deve incrementar a violência. O Evangelho cristão ensina que quando alguém lhe bate na face a reação não deve ser com violência maior, mas um indicativo de diálogo. Por isto as guerras não são solução digna de conflitos entre homens civilizados e possuidores de valores espirituais . São sim perda temporária da racionalidade e dignidade do ser humano. Pois, na guerra se pratica tudo que é crime em tempos normais: na guerra invadem-se domicílios, praticam-se homicídios, inclusive de muitos inocentes; incentiva-se a traição, fomenta-se o ódio, estupra-se, mutilam-se pessoas, tortura-se impiedosamente, rouba-se de todas as formas. Por isto, o cristão é um homem de paz, ou não se é cristão. E ser pessoa de paz é trabalhar para eliminar as causas da falta de paz, e incrementando os incentivos para a paz. E estes incentivos , tanto para a paz interior como para a exterior, são as condições indispensáveis para uma vida digna, como: justiça, verdade, liberdade, solidariedade, relações comunitárias, valores culturais, bens econômicos, moradia digna, respeito, auto-estima, trabalho... Analisando a situação destas condições na vida de um povo, podemos concluir se existem perspectivas de vida pacífica ou se as estruturas são de violência. Verifiquemos o nível destas condições em nossa sociedade brasileira, e teremos condições de dizer se somos uma cultura de paz ou de violência institucionalizada. Isto também é válido para qualquer país do mundo.

Inácio Strieder é professor de Filosofia- Recife-PE.