MORTE EM VIDA
Wilson Simonal é sem dúvida o maior cantor popular do Brasil da década de 60. Reunia voz poderosa, swing e carisma. Sabia como envolver uma platéia. Suas músicas marcaram uma época. Ele tinha um talento superior, chegou a fazer dueto com Sarah Vaughan. Simonal era ímpar: negro, talentoso, de origem pobre, ex sargento do exército que foi descoberto por Carlos Imperial, a duras penas seu talento foi reconhecido e suas músicas incendiaram o Brasil. Esnobe e escrachado, um "canalha" no bom sentido, firmou-se como cantor e acompanhado de músicos do quilate de César Camargo Mariano e tantos outros talentos de primeira linha, era a voz e o swing do Brasil. Já era então um dos cantores brasileiro mais conhecido internacionalmente, até se envolver num episódio que custou a sua carreira, e a sua vida. Não pretendo falar do episódio em si, muito nebuloso, quero falar sim de um artista, de um talento musical, que por um equivoco pessoal, foi linchado como artista, estigmatizado como dedo duro do DOPS e foi banido para a Sibéria da frieza e da solidão nos porões da indiferença e da inveja. Nem a chamada direita e nem à esquerda fizeram qualquer esforço para reabilitá-lo, virou um proscrito e assim morreu tendo que provar o que certamente não foi - "dedo duro" e linchado como os cristãos fizeram com aqueles que entregaram Jesus aos romanos. A esquerda se refestelou com a possibilidade de dirigir seu rancor e seu ódio aquele negrinho metido a besta que parecia estar a "serviço do regime", com aquelas canções "alienantes" e pouco engajadas sem nenhum compromisso com a causa. Ainda a cantar “moro num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza..." numa época em que Caetano, Chico puxava o coro da chatice engajada e Vandré "caminhava e cantava." isso era o fim! Um negro esnobe e talentoso, bem sucedido e "alienado" a serviço do regime e logo a grande imprensa tinha um prato cheio para calar a sua voz, a inveja, virou ódio e o ódio o escárnio e a indiferença. A imprensa "marginal" esquerdista que tinha como grande porta-voz o Pasquim encarregou-se de relegá-lo ao "lixo da história" por ter sido acusado de "dedo-duro". E sua voz alegre e cheia de frescor foi silenciada e Simonal foi esquecido. Durante anos dedicou-se a cultivar mágoas e rancor e a autodestruição ingerindo goles e mais goles de álcool até morrer esquecido do grande público em 2000, depois de décadas de ostracismo para a felicidade de Jaguar e Caetano Veloso, os "Torquemadas" da cultura nacional.