O mistério de Ariadne segundo Nietzsche
O mistério de Ariadne segundo Nietzsche
( Gilles Deleuze e o Fio de Ariadne)
Neste artigo publicado em seu Crítica e Clínica, Deleuze quer analisar o papel dessa mulher situada entre dois homens: Teseu e Dioníso. A questão quem? Não reclama pessoas, mas forças e quereres. Ariadne, a mulher entre o homem superior, o herói Teseu e o além-do-homem, Dioníso; representa o consolo do eterno retorno.
No herói Teseu estão contidos os atributos do homem superior, o espírito de gravidade, pesadume, gosto de carregar fardos, desprezo pela terra, impotência para rir e brincar, empreendimento de vingança. Ele pretende levar a humanidade ao acabamento e à perfeição, por o homem no lugar de Deus, fazer do homem uma potência que afirma e que se afirma. Acredita que afirmar é carregar, assumir, suportar uma prova, encarregar-se de um fardo, confunde afirmação com o esforço de músculos tensos. O homem superior vence os enigmas e os monstros, mas ignora o enigma e o monstro que ele próprio é.
Ariadne segura o fio para Teseu no labirinto. O fio é o fio moral, disfarce do ideal ascético e religioso. Com ele o que se quer é negar a vida, esmagá-la sob um peso, reduzi-la a suas forças negativas. Se Teseu é o espírito da negação, Ariadne é a alma reativa ou a força do ressentimento. Enquanto Ariadne ama Teseu ela participa desse empreendimento de negação da vida. Uma vez abandonada por ele (segundo algumas tradições) ela se enforca com o fio. Representa o niilismo vencido por si mesmo. As forças reativas, ao serem elas mesmos negadas, tornam-se ativas, a vontade de negação rompe sua aliança com as forças de reação, abandona-as e até se volta contra elas. Ariadne se enforca, ela quer perecer. Abandonda por Teseu, Ariadne sente que Dioníso se aproxima. Ele é o Leve, o que não se reconhece no homem. Sabe fazer aquilo que o homem superior não sabe: rir, brincar, dançar, isto é, afirmar. Por isso ele está além-do-homem, além do herói, em outra coisa que não é o homem.
Ariadne se alivia com Dioníso, descarregada. A alma torna-se ativa, ao mesmo tempo que o Espírito revela a verdadeira natureza da afirmação. Transmutação de Ariadne diante da aproximação de Dioníso: sendo Ariadne a alma que agora corresponde ao Espírito que diz sim.
Por que Dioníso tem necessidade de Ariadne, ou de ser amado? É que Dioníso é o deus da afirmação; é necessária uma segunda afirmação para que a própria afirmação seja afirmada. Dioníso é a afirmação do Ser, mas Ariadne é a afirmação da afirmação, a segunda afirmação ou o devir-ativo. Para Ariadne, passar de Teseu a Dioníso é uma questão de saúde e de cura. Dioníso precisa de Ariadne. Dioníso é a afirmação pura; Ariadne é a alma, a afirmação redobrada, o sim que responde ao sim. É bem nesse sentido que o Eterno Retorno é o produto da união entre Dioníso e Ariadne. Ser do devir, o Eterno Retorno é o produto de uma dupla afirmação que faz retornar o que se afirma e só faz devir o que é ativo. Nem as forças reativas nem a vontade de negar retornarão porque são eliminadas pela transmutação, pelo Eterno Retorno que seleciona.
Ariadne esqueceu Teseu, que já não é nem sequer uma má recordação. Teseu jamais retornará. O labirinto já não é o caminho no qual nos perdemos, porém o caminho que retorna. O labirinto já não é o do conhecimento e da moral, e sim o da vida e do Ser como vivente.
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