CONTO ERÓTICO: o autor dá a cara a bofete.
Carlos Sena
No meu universo de desafios, escrever contos está sendo instigante. Como se não bastasse essa minha coragem, vou mais além: contos eróticos! Nesta investida, com certeza complexa, principalmente pela exposição que submete o autor, entendo-a como prazerosa. Da mesma forma que prazerosa é toda forma de literatura, acima de tudo por permitir que se vá do “Feijão ao Sonho, do Oiapoque ao Chuí, do céu ao inferno, do verão ao inverno, do escarro ao beijo, do amor ao desejo.”
Desafiar-me nesta inserção do erótico me surpreende e me faz acreditar ainda mais que o limite do humano é o céu. Escrever sobre uma ponte que cai requer manejo e competência do autor. Escrever sobre um falo que cai, requer do autor além da competência, aguçada sexualidade, além desta, sensualidade; além da sensualidade o senso – o bom senso para colocar emoção em sonhos e fantasias nem sempre vividos, mas inventados com base na realidade própria ou derivada do “ouvi dizer”.
Escrever contos eróticos, ou talvez qualquer gênero desta mesma natureza é uma proeza. Por vários motivos isto se reverbera, principalmente porque requer, de certa forma, que o autor seja bem resolvido em sua vida afetiva. Digo bem resolvido, não no sentido de que seja feliz, mas se não for, que seja conhecedor de suas dificuldades afetivo-sociais. Penso que uma pessoa que se ache mal amada seja bem resolvida, partindo do princípio da consciência do fato. Ser bem resolvido seria a consciência de si, considerando que essa consciência tem sempre sua parte para ser trabalhada no divã de um psicanalista. Recorro-me disto na premissa da proeza que é se despir para os outros num conto erótico. O “Eu-lírico” se estabelece. A gente começa a ter vários papéis sendo uma mesma pessoa. Pode-se ser homem, mulher ou gay em suas diversas denominações. Pode-se ser o que se quiser, amparado pela liberdade de expressão que só os homens desfrutam deste universo singular em suas transcendências plurais.
Como disse, minha proeza chega a ser petulante. Mas eu me reconheço em minhas limitações da mesma forma que algumas virtudes foram alcançadas nesse novo ofício no tear das letras. Talvez mais tarde eu me preocupe menos com o elaborar desses escritos. Por enquanto eu estou sendo “premiado” por leitores que me surpreendem em seus comentários positivos, estimulando-me a prosseguir. O quantitativo de pessoas que acessam “contos eróticos” é muito grande e talvez careça de uma investigação mais sistemática concernente a natureza psicanalítica disto. Contraditoriamente, as poesias são bem menos procuradas, talvez considerando que os contos eróticos, de certa maneira, funcionem um pouco como espelho. Neles, muitos se vêem. Isto tem pontos positivos, pois podem levar pessoas a sofrerem menos ou a serem mais felizes em suas vidas afetivo-sexuais, mesmo sabendo que os contos podem ser (como são em sua maioria) invenção dos autores.
Nada é tão humano quanto o sexo. Num primeiro momento talvez mais do que o amor. Este, como sabemos, é produto de construção a dois. Contém o sexo, mas este nem sempre contém o amor. O ideal é sexo com amor, mas infelizmente, ao ser humano não é dada virtude da excelência em tudo. Tudo no humano são perdas, são ganhos, são amores convencionais, são amores estranhos. O humano do sexo está na falta de nexo, de lógica, diferente dos demais animais, cuja função é a perpetuação da espécie, mas ao homem não. O homem perpetua a espécie, mas vai além: gosta do prazer do sexo. Talvez por isto seja criativo nas suas diversas formas de praticá-lo.
Um conto erótico eu conto como não foi. Porque o que foi geralmente todo mundo sabe. Um conto erótico eu canto como um fado: dolentemente eu delineio sonhos escondidos nos inconscientes perdidos pelas noites afoitas. Num conto erótico eu me perco e me procuro no claro fingindo ser escuro. E quando escuro, acendo a luz do meu interior e viro festa. Nesta lufa-lufa de intenções, a gente vai levando, a gente vai levando (...), enquanto outros estão “levando” sem querer ou querendo pagar pra ver...