A Senhora Macbeth e entrevista com Marilia Gabriela
No dia 07 de Julho de 2006 estive na coletiva da peça “A Senhora Macbeth” montagem do diretor Antonio Abujamra com Marilia Gabriela e grande elenco.
“A Senhora Macbeth é uma peça feita para mulheres” disse Marilia Gabriela e completa dizendo que a escritora Griselda Gambaro enriquece a personagem que deu importância, luz, sensualidade a Sra Macbeth, que justifica a ambição escondida por trás do amor e da paixão, tem muito mais a imagem de mulher do século XX do que medieval.
Meu amigo jornalista e autor de peças teatrais, Sergio Roveri, pergunta: “Conflito feminino ou poder e amor?” e Marilia Gabriela responde: “A Senhora Macbeth tem o poder por trás do trono, assim como todas as mulheres”. No texto de Griselda, a Sra Macbeth perde a submissão que Shakesperare dá em Macbeth e vive um universo feminino, é ela quem manda. As bruxas vividas por Selma Egrei, Natália Correa e Danielle Farnezi têm uma imagem estereotipada como as bruxas da idade média, são elas que conduzem a ação para a tragédia e levam o drama até o colapso. Para chegar na realização da montagem houve um trabalho quase que diário numa sala pequena e depois foram para o Teatro Santa Cruz.
Lell - Como é trabalhar com Antonio Abujamra?
Marília Gabriela – “O Abu sabe tudo de teatro, ele dá as ordens definitivas e depois nos solta para criar, mas a palavra final é sempre dele” Brinca.
Lell - O que o público pode esperar?
Marília Gabriela – “O espetáculo é belo. Algo lindo de se ver, é cômico e ao mesmo tempo trágico. Uma reflexão da humanidade. A paixão pelo poder.” E completa “eu gosto muito de fazer”.
Lell - Houve dificuldade?
Marília Gabriela – “Houve na verdade insegurança quando eu não sabia o que se tratava a peça”.
Abujamra conheceu Griselda em Caracas, ficaram amigos e então comprou os direitos da peça. “Sra Macbeth não acredita na crueldade de Macbeth, é uma verdadeira paixão por um homem, sem ambição. O texto se passa hoje, uma peça do agora.” Diz Abujamra que continua “Então convidei essa avalanche que é Marilia Gabriela, sempre disse que ela devia envelhecer nos palcos” e sobre ser um grande diretor diz: “sou um homem de teatro, faço parte da geração dos grandes homens do teatro como Anthunes Filho, Zé Celso, Amir Haddad, Gerald Tomas etc”.
No dia 14 de julho estive na estréia da peça no SESC Vila Mariana em São Paulo. A peça tem uma montagem surpreendente e conta com um magnífico trabalho de cenografia do J.C. Serroni, muito parecido com seu trabalho na peça “A Peça Sobre o Bebê” também com Marília Gabriela e Reinaldo Gianecchini, o cenário é um grande banner com a foto de uma mão sangrenta. Um trabalho maravilhoso de iluminação do Wagner Freire e a música (original) é assinada por André Abujamra. A direção está perfeita e a atriz Selma Egrei dá um show de interpretação. Marília Gabriela ainda passava insegurança e faltou uma certa feminilidade em sua personagem.
Matéria publicada no jornal: Folha da Cidade em 2006 por Lell Trevisan