O CONCEITO DE FAMÍLIA
De tanto se falar no programa do "bolsa-família", surge a curiosidade em saber qual, afinal, o "conceito-família" em que se baseia o Governo. Há algum tempo passou pelo campus da UFPE um rapaz vendendo "mel". Conversa vem, conversa vai, perguntamos se esta sua atividade lhe permitia a sobrevivência. O rapaz, sem demonstrar grande angústia, confessou que as coisas melhoraram, pois tem 7 (sete) filhos com quatro mulhres diferentes, e todas elas recebem bolsa-família. Assim, ele se sentia mais tranquilo, pois as suas mulheres, que todas gostavam dele, não lhe exigiam pensão alimentícia. Naturalmente, não fiquei triste por estas mulheres receberem o auxílio da sociedade, e, em seus barracos, ao menos poderem dar um cuscuz aos seus filhos. No entanto, me perguntei: que tipo de família formam estas quatro mulheres, com seus sete filhos do mesmo homem, sendo "alimentadas" por um programa assistencial do Governo? Quem seria o pai protetor, afetuoso, responsável pela saúde, benestar, educação, alimentação destas crianças e de suas mães? O homem do "mel", ou o Presidente Lula? Mas, como denominar esta situação social de família, e lhe destinar uma bolsa-família? Verifiquei os mais diversos conceitos de família, desde a sua origem, e não encontrei resposta. Talvez, nas novas edições dos dicionários e das enciclopédias de sociologia se encontre, no futuro, o novo conceito de família do atual governo brasileiro. Será mais uma contribuição original nossa à ciência sociológica.
Considero fundamental que se apoie a família, que se tenha uma política de estímulo à estabilidade e ao benestar familiar. É verdade, o conceito de família é bastante aberto e, de certa forma, varia em épocas históricas e culturas diversas. Temos a grande família, o clã, a família poligâmica, monogâmica, etc... Mas, como o Brasil nasceu e perdura na cultura e na ética ocidental cristã, entende-se normalmente por família, em nosso meio, um grupo de pessoas unido por laços afetivos, geralmente de parentesco, através do casamento monogâmico estável entre um homem e uma mulher, que mutuamente se apoiam, e cuidam do amadurecimento e socialização de suas proles. Para poderem cumprir esta sua missão, e conservar a característica da instituição de sua família, necessitam do apoio de todo o grupo familiar, da sociedade maior e do Governo. Claro, esta proposta do cristianismo nem sempre é fácil de realizar nas circunstâncias concretas do mundo da vida. No entanto, pela experiência civilizatória do Ocidente, demonstrou-se que este é um ideal a ser incentivado, e o mais eficiente na condução das novas gerações para uma vida adulta e humana com dignidade, harmonia e paz. Por isto, penso, que seria este o modelo de família, que deveria servir de horizonte para uma política familiar de qualquer governante, que quisesse o benestar de seus cidadãos. Mas, será que as nossas leis, as novelas televisivas, etc. induzem os cidadãos a formarem umniões maduras, estáveis e responsáveis entre homens e mulheres, com o propósito de darem o melhor a seus filhos? Será que o Governo se preocupa em proporcionar aos novos casais condições de moradia, de trabalho, saúde, etc... que garantam uma vida digna aos novos cidadãos que vão se formando? Se assim estivesse na consciência de nossos políticos, não estaríamos diante desta vergonha nacional de tantas crianças, adolescentes e jovens desprotegidos, sem educação e sem trabalho, perambulando pelas ruas, na marginalidade. Assumamos um conceito saudável de família, e que o Governo dê todos os apoios para que tais famílias possam cuidar dignamente de todos os seus membros.
___________________________________
Inácio Strieder é professor de Filosofia