Favoritas (publicado originalmente em 23/3/2019)
É muito difícil o filme ter 3 atrizes excelentes em cena, uma sem derrubar a outra, com interpretações constantes, regulares, de o texto de uma bater e ter volta, como na coreografia das partidas ensaiadas de ping-pong.
É difícil, mas às vezes acontece. Como, por exemplo, em 'A Favorita' (2018). Todas suas indicações ao Oscar foram merecidas. Olivia Colmann, Rachel Weisz e Emma Stone sustentaram esta trama de maneira magnifica e singular.
O enredo, que lembra vagamente 'A Malvada' (1950), mostra a Rainha Anne (O. Colmann) na Inglaterra do século 18 dividida entre suas inúmeras doenças, a paixão pela confidente Sarah (R. Weisz) e a entrada de Abigail (E. Stone) em cena, querendo o lugar da prima (Sarah).
Com fotografia excepcional e figurino a altura, 'A Favorita' é o típico filme inglês de época: seu certo charme está à vista, a qualquer quiser ver. A direção do grego Yorgos Lanthimos ('O Lagosta', de 2015) dança conforme a música e a sua interferência é suave, quase imperceptível, se considerarmos o papel do comandante ser mesmo este.
A bela reconstrução do palácio real somada à direção de arte de garbo dão ao drama (com pitadas de comédia) o tom preciso. Cá pra nós, não é todo dia que a chance de assistirmos a 3 grandes atrizes contracenar surge nos nossos narizes.
Existe algo de teatral aqui. As conversas, os chiliques, e as caracterizações de cada personagem não estão salgadas demais, mas sim contêm determinado ar de vaudeville, se isso pudesse ser adaptado à terra dos chás das 5.
A forma de narrativa é outro atrativo que lembra as peças – é por meio de atos, cada qual com o nome puxando ao risível, que acompanhamos a história. Tudo fica forte porque as 3 personagens têm a potência devida, e por causa disto o enredo rende o necessário para nos satisfazer enquanto espectador. Duração: 135 minutos. Cotação: bom.