O 86º Oscar (publicado originalmente em 11/3/2014)
Semana passada não teve coluna por conta do carnaval. Hoje escrevo sobre Oscar, portanto. Duas horas antes assisti na TCM ao documentário sobre discursos nas edições ao longo das décadas. Engraçadinho. Ver figuras como Bob Hope e Billy Crystal, por exemplo, é sempre bacana. Este filme serviu para aliviar um pouco o que foi a 86ª festa da Academia de Artes e Ciências. Ellen Degeneres, a apresentadora, não chega aos pés das afiadas tiradas de Bob Hope e tampouco das sátiras e ótimas paródias de Billy Crystal. Mas, vá lá. A moça se esforçou para ser espirituosa nos raros momentos em que surgia na tela. Houve os blocos em que nem sequer aparecia a dizer ‘oi!’. Como se vê, o tempo do Oscar fica cada vez mais escasso. O que antes era tido como o programa alargado, cheio de enrolação e exaustivo, agora parece ter se transformado em um show de pílulas. Épocas de internet. O pedido de pizza coroou o mau uso de uma cerimônia tradicional e quase centenária. Não sei o que pode ser feito para mudar ou modernizar. Se bem que sou bastante conservador para este tipo de alteração...
Da premiação, me encantei com as sete estatuetas de ‘Gravidade’. Além de melhor diretor a Alfonso Cuarón, categorias como edição de som, mixagem de som etc, ajudaram a abrilhantar o filme e até mesmo passar por cima de ‘12 Anos de Escravidão’, a fita consagrada com o principal prêmio da noite, além do de roteiro adaptado e atriz coadjuvante a Lupita Nyong’o. O crítico Roberto Sadovski, do UOL, acertou em cheio na sua definição do Oscar. Disse ele: ‘Premiaram o filme mais importante do ano, não o melhor.’ A diferença é grande. ‘12 Anos de Escravidão’ marcou época por ser produção histórica e abordar o tema da escravidão de modo tão avassalador. Semanas atrás disse que ‘Django Livre’ e ‘Lincoln’, ambos de 2012, tinham igual medida no que se refere ao assunto. Porém, o filme de Steve McQueen é mais explícito. Estampa a quem desejar ver de fato o processo todo de humilhação, penalização e com um protagonista do meio, baseado em história real de Salomon Northup (feito por Chiwetel Ejiofor). ‘Ela’ levou roteiro original. Mereceu. Cate Blanchett-‘Blue Jasmine’, idem (preferia Sandra Bullock). ‘Clube de Compras Dallas’, com Matthew McConaughey e Jared Leto, conquistaram o troféu (pra mim, Bruce Dern – ‘Nebraska’ – e Barkhadi Abi – ‘Capitão Phillips’, eram os melhores).
Mas a surpresa maior, pra os brasileiros, ficou para o instante da homenagem ‘Em Memória’, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas recordou os falecidos do mundo do cinema entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 14. Um dos lembrados foi o documentarista Eduardo Coutinho. Mês passado ele foi assassinado pelo filho esquizofrênico a facadas. O site ‘Papo de Cinema’ explicou o motivo pelo qual a Academia colocou a foto de Coutinho na tela, com o subtítulo “Documentarista: ‘Vinte Anos Depois’” (título de ‘Cabra Marcado para Morrer’, 85, nos EUA). ‘Ele tinha sido convidado para ser membro da seção de documentários, e aceitou o convite’, afirmou um membro do Comitê do setor. Ele completou: ‘Eduardo Coutinho deu contribuição única, duradoura ao cinema documental. Essa percepção era reconhecida no mundo. É a razão pela qual a notícia do falecimento foi incluída na cerimônia.’ Ademais, vê-lo ao lado de nomes como Philip Seymour Hoffmann, James Gandolfini, é uma honra a nós, tupiniquins. O reconhecimento do trabalho por parte dos Estados Unidos calhou.
Agora, Rubens Ewald Filho: é triste não vê-lo no programa. Os comentários tão enxutíssimos desde que foi à TNT. Só ouvimos a voz! Quando o Oscar acabou, a moça da TNT se despediu assim: ‘Obrigada por ficar conosco e até o ano que vem.’ Sem os rostos ali... Sem simpatia alguma. Para quê então trajar o smoking garboso? Pra cinco minutos de bate-papo antes do início? Constrangedor. Dá saudade dos tempos em que Ewald fazia transmissão no SBT, com Marília Gabriela no comando. Ou na TV Globo, quando o evento era segunda-feira, com o jornalista Renato Machado na apresentação.