Uma Reflexão Sobre o Filme : "Ele Não Esta Tão á Fim de Você"
Por Rosangela Brunet
"Ensinam muitas coisas para as garotas:Se um cara lhe machuca, ele gosta de você.Nunca tente aparar a própria franja.E um dia, vai conhecer um cara incrível e ser feliz para sempre.Todo filme e toda história implora para esperarmos por isso:A reviravolta no terceiro ato, a declaração de amor inesperada, a exceção à regra. Mas as vezes focamos tanto em achar nosso final feliz que não aprendemos a ler os sinais, a diferenciar entre quem nos quer e quem não nos quer, entre os que vão ficar e os que vão te deixar.E talvez esse final feliz não inclua um cara incrível.Talvez seja você sozinha recolhendo os cacos e recomeçando, ficando livre para algo melhor no futuro.Talvez o final feliz seja só seguir em frente.Ou talvez o final feliz seja isso:Saber que mesmo com ligações sem retorno e corações partidos, com todos os erros estúpidos e sinais mal interpretados, com toda a vergonha e todo constrangimento, você nunca perdeu a esperança."Ele Não está Tão Afim de Você
Sinopse do Filme: Gigi (Ginnifer Goodwin) é uma menina romântica incurável que um dia resolve sair com Conor (Kevin Connolly).Ela espera que ele ligue no dia seguinte, o que não acontece. Gigi resolve ir até o bar onde se conheceram, na esperança de reencontrá-lo. Lá ela conhece Alex (Justin Long), amigo de Conor. Ele tem uma visão bastante realista sobre os relacionamentos amorosos e tenta apresentá-la a Gigi através de seu ponto de vista masculino. Por sua vez, Conor é apaixonado por Anna (Scalett Johansson), uma cantora que o trata apenas como amigo (objeto) e que se interessa por Ben (Bradley Cooper), casado com Janine (Jennifer Connelly).O casamento deles está em crise, o que não impede que Janine dê conselhos amorosos a Gigi, com quem trabalha. Outra colega de serviço é Beth (Jennifer Aniston), que namora Neil (Ben Affleck) há sete anos e sonha um dia em se casar, apesar de ele ser contrário à ideia”.[1]
O filme aborda o tema : Relações Afetivas , utilizando as relações amorosas como matéria prima desta obra cinematográfica.
Gigi (Ginnifer Goodwin) , uma pessoa romântica que sonha em encontrar seu Príncipe Encantado, mas em cada encontro se torna mais claro e evidente que ela esta em busca de uma pessoa idealizada. Após se tornar amiga de Alex , adquire um novo olhar a respeito de suas relações amorosas ,porém este olhar esta sob a perspectiva de um homem que não quer se comprometer e tem medo de intimidade.Ela, uma pessoa insegura, ansiosa, carente, sonhadora, com tendência a se apaixonar e se entregar facilmente, inicia uma relação de amizade inocente , sem considerar Alex como um candidato potencial ao cargo de homem perfeito;e, então, ele passa a ajudá-la a "entender" melhor o comportamento masculino. Ele se torna para ela uma espécie de consultor de relações afetivas.
Gigi é o retrato de mulheres com pouco autoconfiança, que idealiza ao invés de lidar com a realidade . Quem busca o ideal não tem facilidade de lidar com a realidade, e por isso não consegue, em seu caso, interpretar os sinais que cada parceiro emite .Por exemplo, Connor, não ligou para ela porque não queria ligar, mas ela não compreendeu a mensagem.De forma compulsiva, ela continua acreditando naquilo que reforça a crença de que ele seria um homem perfeito. Na verdade ela nem o conhece direito ,e seu primeiro encontro não foi grande coisa.Mas a realidade sempre da lugar a sua ilusão. Ela continua esperando Connor.
A dificuldade de lidar com o vazio e com a solidão, em geral, facilita o desvio da energia criativa em direção a objetos desejos com catéxis negativos .
“Ora veja… É o que sempre acontece às pessoas românticas: enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão, e não querem ver, nela, senão o que é bom, muito embora sentindo tudo ao contrário. Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas o seu devido nome. Essa simples ideia lhes parece insuportável. A verdade, repelem-na com todas as forças até o momento em que aquela pessoa, engalamada por elas próprias, lhes mete um murro na cara.”Dostoiévski
Fritz Perls diz que se o indivíduo “não pode decidir por si mesmo quando participar e quando fugir porque todas as suas vivências inacabadas de sua vida, todas as interrupções do processo contínuo, perturbaram seu sentido de orientação e ele não é mais capaz de distinguir entre objeto ou pessoas do meio que tenha uma catexis positiva e os que tem uma catexis negativa ;não sabe como ou do que fugir.Perdeu a liberdade de escolha, não pode selecionar meios apropriados para "sues objetivos fiais" porque não tem a capacidade de ver opções que lhes estão abertas.” [2].
Para Gestalt , esse é um caso clássico de neurose,onde o indivíduo não pôde encontrar no meio o objeto que o satisfaz, e direciona sua catéxis para um objeto que lhe proporciona dor e sofrimento. Ao invés dela ter um sentido de orientação na direção do objeto de catéxis positiva, ela não só erra seu objeto, como falha na hora de se afastar-se do mesmo. O indivíduo neurótico não sabe quando fugir ou quando ter contato com um objeto no meio .Fritz Perl diz que “Nem todo contato é saudável, e nem toda fuga é doentia.” No caso de Gigi , fugir de Connor seria uma atitude saudável.
Por outro lado, o próprio Connor, esta apaixonado por Anna e não percebe que esta sendo usado por ela, a qual esta apaixonada por um homem casado, que por conseguinte esta insatisfeito com seu casamento por desejar outras mulheres.
Enfim, depois dessa teia sofrida , complexa e tão conhecida por todos nós, algumas perguntas me vem a cabeça: qual o critério de escolha numa relação amorosa? E depois de encontrar essa pessoa, o que realmente faz essa relação durar?
Obviamente que a resposta esta longe de ser desvendada,mas eu desconfio de algumas coisas, as quais gostaria de compartilhar.
Uma questão importante a se discutir antes de responder e refletir sobre estas perguntas é o conceito de desejo e de necessidade. Em geral, o indivíduo tem muita dificuldade de entender a diferença entre necessidade, desejo, e fantasia(ilusão).
Para falar sobre necessidade gostaria de apresentar a Teoria da Motivação de Abraham Maslow (1908-1970)
A teoria da motivação de Maslow nos ajuda a entender um pouco sobre a diferença entre Necessidade e Desejo.Nos ajuda também a esclarecer esta dinâmica da Motivação.Ou seja, como e porque um indivíduo escolhe um objeto de desejo e abandona o outro, que pode ser tão agradável e tão positivo quanto o escolhido. Uma das teorias da motivação que mais me identifico é a de Abraham Maslow (1908-1970). Esta teoria acredita que todo ser humano possui diversas necessidades hierarquizadas como uma pirâmide. Uma pessoa se sente motivada em função desta hierarquia .É necessário e fundamental identificarmos em qual categoria estamos para que possamos refletir e trabalhar em direção daquilo que desejamos alcançar. Ela serve como orientação para as escolhas que fazemos não somente no cotidiano, como em situações extremamente importantes de nossa vida.Veja esta tabela abaixo:
Imagem do Google
Apesar do quadro acima estar lindamente sistematizado, o processo não acontece da mesma forma tão organizada e tão estática. Nem sempre esta hierarquia se manifesta para nós com tanta clareza e de forma consciente. Esta hierarquia com muita frequência se encontra misturada e disfarçadas de desejos ou fantasia. Eu gosto muito de um exemplo que nos ajuda bastante a entender este processo.Por exemplo, se estou com sede,minha necessidade é a água.A homeostase , que é a busca de um equilíbrio orgânico e emocional, prepara o organismo no sentido de ir em busca de um copo de água. Corpo e mente trabalham juntos nesse sentido. Por outro lado, o condicionamento, a aprendizagem e a o processo simbólico desenvolve em nós uma busca mais elaborada que fará com nessa hora, uns comprem uma lata de coca-cola,outro tomem um cerveja gelada, outros vá em direção a água de coco. É nessa hora que o sentido de orientação, como citado por Fritz entra em ação. O exemplo que dei,obviamente é bem simplório,mas a adulteração dessa necessidade acontece no processo da interação entre indivíduo e meio.Por isso, muitos desvios de escolha e orientação atravessa o fenômeno da percepção obstruindo nossos sentidos e subvertendo a capacidade de escolha. É necessário trabalhar arduamente pra entender esta dinâmica , e muita vezes é necessário obter ajuda profissional pra entender melhor e tornar isso consciente.
Em função dessa premissa de Maslow pode-se entender a complexidade que existe no processo de escolha e permanência de objetivos na vida. Eu posso fazer uma escolha acertada e feliz numa determinada época da minha vida, mas eu posso me perder pelo caminho e não saber mais conservar e permanecer nesta escolha.Por outro lado, posso fazer uma escolha desacertada e no meio do caminho ,no processo de amadurecimento descobrir qual era exatamente a minha verdadeira necessidade.E em ambos os casos o objeto escolhido será trocado ou abandonado por ter se tornado uma catéxis negativa.
O fato é que atualmente estamos presenciando literalmente um “mal estar” onde o indivíduo se sente inadequado ao seu meio,mas não por falta de liberdade,mas por incapacidade de escolha.É como se ele não estivesse onde deveria estar, como se ele não fosse aquilo que ele deseja ser .É o ideal em constante conflito com o essencial.Um desacordo entre o Ter e Ser. Uma desarmonia de valores , uma insatisfação permanente entre desejo insaciável e ofertas de consumo inalcançáveis . O corpo em conflito com a mente, a alma se distanciando do espírito .A família depois do prazer; o trabalho sendo utilizado a serviço da ganância. Relacionamento íntimo em desconexão com o sagrado. Sintomas cada vez mais desconhecidos; o adoecimento na prateleira da ciência que não acompanha sua evolução.Em todas as áreas o ser humano esta á margem de seu transitar no mundo.A doença se apresenta como incapacidade de amar , e a sociedade não consegue atender essas novas demandas.
Enfim, o alvo nem sempre é o que parece ser, e o motivo nem sempre esta de acordo com a real necessidade. O caminho é longo, e o futuro chegará com certeza. Mas os desvios estão por toda a parte, em cada esquina que dobramos na vida que escolhemos ter .Por isso, trabalhe suas escolhas, permaneça com o que te faz feliz Não deixe ir embora aquilo que fez você saber quem você verdade verdade.
Referência:
[1] Site AdoroCinema
[2]1]Abordagem Gestaltica e Testemunha Ocular da Terapia. PERLS,Fritz.Pag.38