Cenas de um casamento (publicado originalmente em 18/12/2012)
O título da coluna é o título de um filme de Ingmar Bergman, de 1973, não exatamente sobre relações, mas acerca do assunto. Já ‘Quatro Amigas e um Casamento’ (2012) aborda um matrimônio, porém, de quinta categoria. Vulgar, obsceno e exagerado, mostra três companheiras de colegial Katie (Isla Fischer), Regan (Kirsten Durst) e Gena (Lizzy Caplan), apelidadas de ‘Abelhinhas’, inspiradas e instigadas a provocarem a coitada Rebeca (Rebel Wilson), por seu excesso de peso. Ou seja, o famoso bulling. Acontece que a vítima é a primeira a ir ao altar, e com Jack (Paul Corning), o rapaz desejado e ambicionado pelas Patis. E Rebeca convida o trio-ternura para serem suas madrinhas. Invejosas, as meninas aceitam, mesmo com a baita dor de cotovelo a tiracolo. Principalmente Regan, a destemida e cara-de-pau de todas, está com ódio mortal da antiga colega de classe. Gena, de sua parte, aspira a resolução de seu problema de adolescência (não direi qual é). E Katie, a mais porra-louca de todas, é a solta do palco. Quer arranjar o marido para compensar a perda de Jack para a companheira roliça.
Dirigido e roteirizado pela estreante Leslye Headland, o longa-metragem exibe temas tabus nas telas, tanto grande como pequenas. As moças se drogam com cocaína, bebem à vontade e fazem sexo a torto e a direito. E tudo mostrado, para meu espanto. Parece um trabalho marginal, neste pior sentido da expressão. Na medida em que a história avança– tem só 87 minutos – percebi a enrascada de tamanho família na qual Leslye meteu toda a sua produção. Além de o roteiro ser chulo, dum mau gosto fora do comum, mostra o despreparo da cineasta por expor seu cast a péssimos recursos, como os das câmeras (as tomadas, notem, assemelham-se às de aprendizes–nada contra eles). O script, em escala absurda, explora os diálogos rasos, fracos, de adolescentes em seus piores momentos. Aliás, ao me referir a enrascada, assombrou-me a aceitação de K. Durst à realização. Não tenho conhecimento se a atriz de ‘Homem-Aranha’ (2002) e ‘Maria Antonieta’ (2006) necessita de dinheiro. Creio não ser este o problema. E o que seria? Falta de autoestima? Vontade de resgatar a adolescência num projeto arriscado, pra dizer o mínimo? Não sei. Todavia, tenho a certeza de que ela atolou o pé na lama aqui.
‘Quatro Amigas e um Casamento’ resgata a enorme série de películas com temas que falam de altar, confusões e o ‘sim’ tradicional. Geralmente em torno da comédia deslavada, pastelão, histórias como ‘Entrando Numa Fria’ (00), ‘Missão: Madrinha de Casamento’ (11), ‘Casamento Grego’ (2002), ‘O Casamento do meu Melhor Amigo’ (97) e ‘A Proposta’ (09), fora as continuações toscas de alguns deles, são meramente o azeite na salada de tramas de risadaria solta, e sem conteúdo. Isto significa a abundância de trabalhos deste tipo, lançados no fim de ano para o pai, mãe, os filhos e os netos irem às salas dar aquele gargalhada macia, natalina. Especialmente nesta fita, os sorrisos são destratados.
25 do 12 – O Natal é na próxima semana e no período vários filmes com este tema arrastam às televisões. Os comuns são ‘A Felicidade não se Compra’ (1946), ‘Esqueceram de Mim’ (1990 e 92), ‘A Noviça Rebelde’ (1965) e ‘Mary Poppins’ (1964). Dos mais atuais, ‘Herói de Brinquedo’ (1996) e ‘O Milagre da Rua 34’ (1934 e 1994) são os mais pedidos e aguardados. Lembro-me de que nas décadas de 1980, 1990 as emissoras de televisão passavam os classicões como ‘... E o Vento Levou’ (1939). No mais, um Natal repleto de alegrias, saúde, felicidade, paz, tranquilidade e fartura. Um bom 25 do 12. A próxima coluna será publicada em 8/1/2013.