Dogville - Cidade dentro de nós

Lars Von Trier é um cineasta contra a corrente que está inserida o cinema atual criador de filmes belíssimos como Dançando no Escuro e Ondas do Destino com temas que fazem refletir as ações humanas que faz pensar como o ser humano é podre e como ele precisa mudar para que a próxima geração não seja como está, um dos fundadores do Manifesto Dogma 95, junto com Thomas Vinterberg, no qual um conjunto de regras determinam a criação de um filme - a não-utilização de cenários, utilização de som natural, usar a câmera na mão sem qualquer tipo de suporte, entre outros paradigmas - que já neste filme não continha algumas característica feitas por ele mas sendo aclamado pela crítica mundial e considerado por mim um dos melhores filmes do século atual.

Citei toda essa introdução para falar de DOGVILLE uma “homenagem aos E.U.A” sendo obra o primeiro de uma trilogia de três filmes (Manderlay e Washington que ainda não foi produzido) feito em 2003 onde é estrelado por Nicole Kidman que faz o papel Grace e Paul Betanny que faz Tom, fazendo parte da primeira trilogia “E.U.A. Terra das Oportunidades.

Ao começar o filme aqueles que estão acostumados com filmes norte-americanos enlatados ficam surpreendidos com uma obra cinematográfica onde não há cenário algum (até eu fiquei surpreendido com descontrusção estética e linguagem do cinema atual neste filme). No lugar de casas há marcações no chão indicando que ali é uma casa de algum dos personagens e poucos artefatos na cidade de Dogville, as mudanças de cores no filme representam quando é noite ou dia e algumas referências ao manifesto Dogma 95 como a ausência de trilha sonora, câmera na mão (feita pelo próprio Lars Von Trier) e cortes simples e não convencionais.

As atuações são maravilhosas e aulas de interpretação desde as crianças mimadas pelos pais passando por Paul Betanny (Tom) o filosofo e pensador da cidade, mas a perfeição está em Nicole Kidman interpretando a submissa Grace, merecia ganhar o prêmio de melhor atriz no Festival em Cannes.

O filme só por estes aspectos já me encantaria. mas o conteúdo me arrebatou por completo, Lars Von Trier dividiu o filme em 1 prólogo, 9 capítulos e 1 epilogo. Com uma narração debochada e inteligente de John Hurt, o espectador entra no próprio filme, e observamos como o ser humano pode ser cruel com a sua própria espécie. Tom o filosofo da cidade usa Grace para uma experiência na cidade em troca ela terá que fazer pequenos afazeres que os habitantes “não precisam”. Com um tempo o povo de Dogville até gosta da presença da doce Grace, sempre atenciosa, inteligente e altruísta e com uma vocação a deixa ficar até aparecer a policia e dizer que ela é procurada e que é muita perigosa então começa o inferno de Grace, onde a cidade a Transforma em escreva.

Nesse Roteiro minuciosamente tramado podemos ver o quanto o ser humano pode ser podre, invejoso e ingrato com seu próximo, o quanto a hipocrisia está dentro de nós e quanto não queremos enxergar nossos problemas e defeitos. A cada humilhação sofrida por Grace nos faz refletir como está o ser humano, a cada abuso sexual sofrida por Grace sentimos incapaz com a nossa incapacidade de indignação (eu acredito que não utilização do cenário é que o povo de Dogville sabia que ela estava sendo abusada, mas nada fazia). A cada hipocrisia de Tom com Grace ficamos estarrecidos com a impotência e frieza humana e com submissão (foi o que mais incomodou) ficamos confrontados com atitude de Grace e tudo isso vai se intensificando até com um final maravilhoso digno de palmas, trazendo o que todo filme deveria fazer refletir e pensar.

Lars Von Trier não só criticou os E.U.A. no qual ele nunca foi, mas todo ser humano residente neste planeta e confrontando com a possibilidade de sermos invejosos, ingratos, hipócritas, maldosos, arrogantes e pouco misericordiosos com o nosso próximo vejamos o exemplo do nazismo na Alemanha. Caso você não assistiu o filme se prepare, pois talvez você queira assistir mais.