SUCKER PUNCH - Muito barulho por nada

Zack Snyder é um diretor curioso: seus filmes têm uma força visual muito grande, mas os roteiros, geralmente adaptações de obras de outros autores, não fazem jus ao seu apuro técnico. "Madrugada dos mortos" é um sensacional filme de zumbi. Tenso, violento e com algumas sequências arrasadoras. Mas o roteiro é mais do mesmo: quem já viu um filme de George Romero, sabe do que se trata. "300" é uma cópia literal da obra de Frank Miller, com todos os defeitos que esse autor costuma apresentar em suas obras. Muita barriga "tanquinho", lutas em câmera lenta, e Rodrigo Santoro parecendo um destaque de escola de samba. Já "Watchmen" é totalmente reverente ao clássico de Alan Moore. Se há ousadia, essa é de Moore,ou seja, já estava presente nessa obra-prima dos quadrinhos dos anos 80. Visual acachapante, trilha sonora sensacional, mas, em nenhum momento, o espectador se importa com as personagens. Exceto, o Rorschach, interpretado brilhantemente por Jack Earle Haley.

"Sucker Punch - mundo surreal" é o seu primeiro, por assim dizer, trabalho autoral, isto é, parte de uma ideia sua. No roteiro, uma jovem, Babydoll (Emily Browning), é enviada por um padrasto cruel para ser lobotomizada. Lá, com o apoio de quatro internas, arma um plano de fuga, antes de passar pelo processo cirúrgico. Esse é o primeiro plano da narrativa. No segundo plano, Babydoll enxerga aquele manicômio como um bordel, no qual as internas dançam para homens da pior espécie. São prisioneiras. Mas há um terceiro plano de narrativa: todas as vezes que dança para os outros, Babydoll é enviada a mundos conflagrados, nos quais, com o apoio de suas colegas, tem de capturar cinco objetos que a ajudaram na planejada fuga do primeiro plano. Parece confuso? Não é. Se entendermos que Babydoll é uma moça com problemas mentais, logo aceitaremos tudo que acontece como um longo delírio. Mas, assim como em "Watchmen" e "300", Zack Snyder não consegue dar empatia aos seus personagens. Suas meninas, no mundo imaginário, são extremamente poderosas, combatem zumbis, orcs, dragões, robôs, samurais gigantes, mas, na realidade, são absolutamente frágeis. Isso fica latente no término do filme. O roteiro é muito repetitivo: uma dança, uma luta, uma arma a mais. Até a quebra do processo.

Apesar do visual embasbacante, o filme não se sustenta. Logo se torna cansativo. E parece mais longo que o necessário. Outra pedra de tropeço do roteiro: seus diálogos fracos, cheios de pérolas de autoajuda. Há falas constrangedoras, dignas de "Malhação". E é uma pena ver um ator sensacional como Scott Glenn em um papel de mestre tão maçante, cheio de firulas verbais.

No mais, resta aplaudir a trilha sonora, feita de versões de músicas antigas. Temos "Sweet dreams (are made of this), do Eurythmics; "Where is my mind?", do Pixies; "Asleep", dos Smiths; e "Search and destroy", dos Stooges, entre outras.

Repensando o filme, o bom cinéfilo pode ver em "Sucker punch" uma colcha de referências: "Garota, interrompida", "Moulin Rouge", "O senhor dos anéis", "Matrix", "A origem", "Eu, robô", são muitos os filmes que "aparecem" na obra de Zack Snyder. É só procurar.

Tema transversal: Zack Snyder, ao que tudo indica, vai dirigir a próxima aventura de Superman. Se ele acertar a mão, teremos um filme sensacional para curtir. É claro: ele pode errar de novo. Mas, pior que "Superman returns", com toda a certeza, esse filme não será...