‘Cisne Negro’ (publicado originalmente em 22/2/2011)
O primeiro filme de Natalie Portman assistido por mim foi ‘Closer: Perto Demais’ (2004). Levei o grande choque. Isto porque a atriz me deu de imediato a impressão de ser fisicamente fraca, quebradiça e sutil. E Portman interpretava, lindamente, a prostituta Alice. Tinha 22 a 23 anos. Fui pesquisar. Depois, vi ‘A Outra’ (2008) e ‘Entre Irmãos’ (09). Em ‘Could Montain’ (03), obra importante, fez uma ponta. O sentimento seguia igual: em quaisquer personagens, a mesma moça meiga, bela e tenra. Precisava mudar.
Então veio ‘Cisne Negro’ (2010). A história de Nina (Portman), mulher de 28 anos que ainda vive como adolescente –protegida pela mãe, Erica (Barbara Hershey), é insegura e ingênua. Faz parte do corpo de bailarinas de uma companhia. Com a aposentadoria da dançarina Beth MacIntyre (Winona Ryder), seu posto fica vago. Nina é escolhida a substituí-la, após dura batalha com Lilly (Mila Kunis), a concorrente. Mas Nina tem problemas com seu interior. E é aí que o longa-metragem exige de Portman a nova atriz.
Ela consegue. O magnífico roteiro de Andres Heinz, Mark Heyman ajuda, claro, mas não imagino artista diferente de Portman dando vida a Nina. Todos os distúrbios, incoerências, manifestações violentas e confusões da nova bailarina principal estão impregnados na história. Darren Aronofsky, o diretor, teve a chance e a aproveitou. Transformou Portman em estrela. Faltava este degrau. Parece que a atriz deixou em casa a chave que ‘prendia’ as atuações de outrora. Está simultaneamente macabra, afetuosa, bem doce.
Os conflitos psicológicos vividos por Nina são o centro de ‘Cisne Negro’. As dores, percalços e a penosa desconfiança das pessoas à sua volta, fazem da protagonista uma sofredora, mas também refém de sua mãe, por exemplo. ‘As cordas’ amarram-na de forma surpreendente. Há um instante em que o público crê não ter mais saída a ela. Portman incorporou de tal maneira a personagem e perturba os espectadores categoricamente. Não se sabe onde está a verdade ou onde o delírio está escondido e pronto a dar o bote.
Sem dúvida, é dos melhores trabalhos realizados nos últimos anos. Tanto pela atriz como por seu diretor e dupla de roteiristas. No elenco destacam-se similarmente Kunis e Vicent Cassel, como Thomas Leroy, exigente diretor artístico da companhia. A intérprete de Lilly dá sobras de competência ao enfocar o lado escuro, o qual Nina tanto busca e, a Leroy, inexiste. Lilly é sensual e provocante e Kunis imprimiu a ‘Cisne Negro’ a parte libidinosa da história, até por ser, como Portman, dotada de extraordinária beleza.
A fita recebeu cinco indicações ao Oscar: filme, diretor, atriz, fotografia e edição. Os apostadores garantem Portman na cabeça. É mais prudente esperar. Pude assistir as adversárias – Anette Benning por ‘Minhas Mães e Meu Pai’; Nicole Kidman no filme ‘Reencontrando a Felicidade’; Michelle Williams em ‘Namorados para Sempre’ e Jeniffer Lawrence em ‘Inverno da Alma’. Há equilíbrio, apesar de Portman estar imaculada. Contudo, vocês se lembram do ocorrido em 2009 com Mickey Rourke? Era favorito e...
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